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Família, a escola da violência

Por: Olímpio Tavares

A família é sem qualquer dúvida o suporte de qualquer sociedade. Se dela depende várias coisas boas que a sociedade possui, como por exemplo a socialização primária do indivíduo, também dela depende a maior parte das coisas más que acontece na sociedade. Uma das coisas negativas que acontece em todas as sociedades é a violência. O meu intento nesta reflexão é mostrar que as principais formas de violência, física e psicológica, tem a sua origem na família. Para concretizar a minha reflexão, vou recorrer a alguns exemplos da educação familiar que praticamente faz escola em Cabo Verde há séculos.

Em Cabo Verde, é recorrente os pais educarem os filhos com recurso à violência física e psicológica. A violência física se materializa várias vezes na expressão da língua cabo-verdiana “da cu pô pa educa”. É assim que a maioria dos pais encaram uma verdadeira educação. E argumentam que para o filho ser homem de amanhã terá levar porada para poder comportar bem em casa e na sociedade, e assim garantir o seu futuro como homem civilizado. Só que a realidade mostra que essa prática tem consequências contraproducentes. Senão, vejamos: quando um pai bate numa criança, por esta elagadamente ter cometido um erro, pode ter pelo menos duas consequências, o medo e a rebeldia. No primeiro caso, a criança fica com medo de fazer alguma coisa para não correr o risco de levar porada. Essa criança vai afastar-se emocionalmente dos pais, e isso terá consequências sociais mais graves. No segundo caso, a criança fica rebelde, ou seja, “sem medo de pô”, invalidando a estratégia educativa dos pais. Tanto num caso como no outro contribui para perpetuar o círculo vicioso da violência. A criança, que será futuro adolescente e adulto, entenderá que sempre que alguém faz uma coisa errada que a afeta profundamente deve utilizar a porada para pôr cobro à situação.

Uma segunda forma de violência muito comum na prática educativa dos pais é a violência psicológica, que muitas vezes tem uma consequência emocional mais profunda porque tem palavras que ferem o íntimo da criança. Quando um pai profere frases como estas: “porquê que não és como o filho do fulano?”; “tu nunca vais ser homem na vida!”; “tu não serves para nada!”, está a provocar uma violência psicológica que pode contribuir para diminuir a autoestima do filho, e criar marcas profundas no seu inconsciente. E isso terá consequências negativas a nível pessoal e social.

Essas duas formas de violência acabam por fazer dos pais excelentes professores de violência, justificando assim o título “Família, a escola da violência”.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 750, de 13 de Janeiro de 2022

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