Professores, no Mindelo, na Praia e outros pontos do arquipélago, saíram hoje, às ruas, para reivindicarem o pagamento de dívidas antigas do Ministério da Educação (ME) que tem, alegadamente, com a classe. No Mindelo a concentração aconteceu na Praça Dom Luís.
Mesmo contra as tentativas de intimidação, que dizem ter sofrido, nomeadamente por parte do ME, os manifestantes disseram-se cansados de esperar que o Governo salde “dívidas” antigas que tem com essa classe profissional.
Na lista de reclamações consta, entre outros, pendências como a Reclassificação de salários, horas extras não remuneradas, mas também contra a degradação do ensino em curso no país, por alegada falta de investimentos. Uma situação, segundo os visados, que se arrasta desde 2016, pelo menos.
Segundo o sindicalista Nelson Cardoso, porta-voz do SINDEP, esta é uma luta que vai além das referidas pendências, por se tratar também “de uma questão de respeito e dignidade perante a classe”.
Aquele líder sindical denunciou igualmente a proibição pelo ME de os professores poderem reunir-se nas escolas, mesmo sabendo estas “são espaços públicos”, o que se configura, do seu ponto de vista, em mais uma tentativa de tolher a liberdade sindical entre os docentes.
Requalificação de Salários
Lourdes Godinho é professora na escola primária em São Pedro, ilha de São Vicente, há vários anos. Diz que aderiu à manifestação por estar afetada com o atraso do ME em resolver os problemas como os dela. No seu caso, aguarda a respetiva requalificação, tal como vários outros professores, desde 2016.
“Defendi a minha licenciatura em Fevereiro de 2016 e desde então estou à espera da requalificação e o banco, a que tive de recorrer para financiar a minha formação, não espera por mim, enquanto espero pelo Ministério da Educação, perco cerca de 20 mil do meu salário todos os meses”, diz.
Horas extras não remuneradas
Para a professora Isaurinda Veiga, é um direito de todos os cidadãos serem remunerados pelas horas extras que prestam de trabalho. “Há praticamente três anos que estou a correr atrás do que é meu por direito, não me m estão a atribui-lo de graça. Alguns recebem e outros não, como se fosse uma exclusão, não pode ser”, salienta, revoltada.
Reposição de estatuto / degradação do ensino
Para António Fidalga, docente da Escola Secundária Jorge Barbosa, a classe dos professores deve ser mais valorizada, tendo em conta o lugar que a educação ocupa na sociedade cabo-verdiana.
“Estamos aqui para exigir a reposição do nosso estatuto”, estamos perante “uma situação de vulgarização da categoria, tanto na sociedade como na sala de aula”, afirma.
Por seu turno, o delegado do ME em São Vicente, Jorge da Luz, disse esperar que “as revindicações sejam resolvidas a seu tempo”. Como deixou a entender, aliás, à semelhança do ministro Amadeu Cruz, existe, da parte do Governo, existe a intenção de resolver todos os pendentes e que isso só não acontece por falta de recursos.
“Estamos muito convictos, e juntos dos professores, queremos trabalhar com os sindicatos para a resolução total e cabal daquilo que são as demandas dos professores junto do Ministério da Educação”, garantiu.
É de realçar que esta manifestação, de âmbito nacional, foi convocada pelo SINDEP. Além do Mindelo, ela aconteceu na Praia e noutros pontos do país. Esse sindicato promete prosseguir com esta forma de luta até todos os “pendentes” que afligem os professores sejam definitivamente resolvidos.
“Hoje é não é o fim de uma luta, mas sim o início. E a greve nacional dos professores é uma possibilidade que poderá realizar-se a 1 de Março, avisou Nelson Cardoso, fazendo saber que todos os meses o SINDEP irá realizar atos do tipo.
Lousiene Lima* Estagiária