Arlindo Lopes, conhecido por Lindim, é um agricultor com especial gosto pela fruticultura. Tem cultivado, nos últimos anos, várias espécies de fruteiras no Planalto Leste, em Santo Antão. A ambição é mudar o cenário dessa zona da ilha das montanhas, para que, de exportador de lenha, passe a ser, também, um exportador de frutas.
“O Planalto Leste beneficia-se de um clima espectacular, produz um pouco de tudo no que toca a árvores frutíferas”, diz Arlindo Lopes, para quem, infelizmente, essa potencialidade tem sido, de certo modo, desperdiçada, na medida em que as plantas e árvores de frutas não são cuidadas adequadamente e as pessoas “não levam muito a sério” o seu cultivo.
“Aqui conseguimos produzir uma grande variedade de frutas, desde manga, marmelo, maçã, laranja, limão, goiaba, maracujá, papaia, entre outros. São frutos cultivados desde antigamente, mas que não recebem um cuidado adequado no que toca à poda ou à monda”, explica, em conversa com A NAÇÃO.
A falta de cuidado, segundo esse agricultor, faz com que, muitas vezes, os frutos produzidos não tenham o desenvolvimento ideal, o que acaba consequentemente por reduzir o seu valor no mercado.
Ciente desse problema, há anos que Lindim vem investindo num projecto de fruticultura, com alguma variedade. O objectivo é, no futuro, conseguir maximizar a cultura de fruteiras no Planalto Leste, de forma a atingir uma produção comercial.
“Por causa da sua altitude, costuma chover um pouco mais no Planalto Leste do que outras localidades da ilha, não obstante o último ano ter sido de seca. Nós já somos privilegiados pelo clima, agora precisamos dar uma atenção especial à cultura de frutas”, defende.
Este jovem empreendedor acredita que, para além de um “grande exportador de lenha”, o Planalto Leste possa ser também um “exportador de frutas”, num futuro não muito longínquo. No último ano, segundo disse, conseguiu plantar mais de mil árvores na localidade de Curral da Russa.
Por enquanto, o mercado para o escoamento da sua colheita tem sido a cidade do Porto Novo, não descartando outros mercados com um aumento futuro de produção, a começar por São Vicente, do outro lado do Canal.
Parcerias e aprendizagem
Antes de mais, para dar continuidade ao seu projecto, Arlindo Lopes procura parceiros disponíveis a fazer um investimento e alavancar as plantações, assim como conseguir mais disponibilidade de plantas por parte do Ministério da Agricultura.
Também espera aprimorar os seus conhecimentos na área, através de pequenas formações e informações junto da tutela do ambiente, assim como por meio de um intercâmbio com agricultores de outras paragens, nomeadamente da ilha do Fogo, onde já há uma experiência consolidada na matéria.
Tornar a floresta mista
Cercado pelo perímetro florestal da ilha, Arlindo Lopes acredita que o Planalto Leste teria muito a ganhar se o espaço fosse transformado em uma floresta mista, com a introdução de árvores e plantas de frutas.
“Acho que se, desde o início da criação desta floresta, fosse incluído ao menos 5% de árvores frutíferas, neste momento poderíamos ter aqui uma empresa de transformação de produtos, desde sumos, doces e outros derivados”, considera.
Esse é um projecto que, na sua visão, ainda pode ser materializado, tendo em conta que todos os anos são introduzidas novas árvores. “Há espaço, é só uma questão de colocar em prática”, acredita.
Aposta no turismo rural
Para além de agricultor, Arlindo Lopes dedica-se também ao turismo. De forma a tirar o melhor proveito de ambos os ofícios, tem em construção um projecto de turismo rural, denominado “Casa do Campo”, na localidade de Esponjeiro, que cinsiste em pequenas casas redondas, feitas de pedra e cobertas de palha.
Por causa da pandemia, os trabalhos tiveram de ser interrompidos. “São pequenas casas de campo, cuja fase de construção já está pronta, faltando apenas equipar”, explica.
Com este projecto, que junta o turismo à agricultura, a ideia é proporcionar ao turista, seja ele nacional ou estrangeiro, uma experiência genuína da vida no campo, em permanente contacto com a natureza.
“Uma pessoa que vive na cidade, poderá ter uma experiência de perto da vida no campo, desde pequenas coisas como a forma de tirar o leite, fazer um queijo, a colheita de produtos agrícolas, entre outros”, exemplificou.
Exploração insustentável da floresta
Para o engenheiro agrónomo Odailson Bandeira, a floresta tem sido explorada de forma insustentável, com a agravante do corte de lenha ilegal e incêndios. “Existe lá um grande projecto de conservação e preservação da floresta, mas neste momento tem sido feita uma exploração de lenha sem qualquer controlo”, alertou o engenheiro, que acrescenta que o Ministério da Agricultura tem feito um trabalho “ténue” de reflorestação.
Do ponto de vista técnico, segundo disse, a ideia de diversificação e introdução de espécies de frutas é “a melhor coisa que pode acontecer àquela floresta”.
“Para além da silvicultura, associar fruticultura e horticultura de sequeiro, com a rega de compensação, e também cultura do feijão congo/ervilha”, explica.
São, segundo disse, práticas ecológicas que irão assegurar uma exploração sustentável dos recursos dentro do perímetro. Entretanto, alerta Bandeira, é fundamental reforçar as obras de conservação do solo e da água.
Sustentabilidade ambiental extraordinária
Sobre o trabalho de Arlindo Lopes, que também tem uma pequena empresa de agropecuária, totalmente biológica, Odailson Bandeira pontua que aquilo que o agricultor tem feito em Curral da Russa, a nível de sustentabilidade ambiental, é extraordinário.
Com uma produção vasta a nível da horticultura, Bandeira explica que ele faz a sementeira no mês de agosto, e fica à espera da chuva. Caso for necessário, vai fazendo rega de compensação, através de água disponível em duas cisternas que ele mesmo construiu e que são alimentadas com água de chuva colhida no próprio terraço da sua casa e de um curral.
Na pecuária faz a produção de cabras, porcos e vacas, para além de produzir queijo, que já foi considerado um dos melhores da ilha.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 752, de 27 de Janeiro de 2022