O Presidente do Burkina Faso, Roch Kaboré, demitiu-se, esta terça-feira, 25, após a tomada do Poder pelos Militares, na sequência do Golpe de Estado de domingo, 23.
Numa Carta divulgada pela Televisão Estatal (a RTB) – a que jn.pt teve acesso -, Roch Kaboré, de 64 anos, disse que se demitia, através de uma Carta dirigida ao novo homem forte daquele País da CEDEAo (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), o tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba.
“No interesse da Nação, na sequência dos acontecimentos de domingo, decidi demitir-me das minhas funções de Presidente (…), Chefe de Governo e Comandante-Supremo das Forças Armadas Nacionais. Deus abençoe o Burkina Faso”, escreveu.
A Carta de Kaboré – que governava aquele País da África Ocidental desde 2015 -, foi divulgada após os militares terem confirmado, na noite de segunda-feira, 24, na Televisão Estatal, através da leitura de dois comunicados, a tomada do Poder e anunciado tanto a dissolução do Governo e do Parlamento, como a Suspensão da Constituição.
Justificação dos golpistas
Em nome do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR), um porta-voz disse que a decisão de derrubar Kaboré foi tomada “com o único objectivo de permitir ao País regressar ao caminho certo e reunir todas as forças para lutar pela sua Integridade Territorial (…) e Soberania”.
“Face à contínua deterioração da Situação de Segurança, que ameaça as fundações da nossa Nação, à manifesta incapacidade de Roch Marc Christian Kaboré de unir o Burkina Faso, para lidar, eficazmente, com a situação, e seguindo as aspirações dos diferentes estratos sociais da Nação, o MPSR decidiu assumir as suas responsabilidades perante a História”, acrescentou.
Os golpistas também anunciaram o encerramento das Fronteiras Aéreas e Terrestres e o estabelecimento de um Recolher Obrigatório, das 21H00 às 05H00 (locais), em todo o País, “até nova ordem”.
Por outro lado, asseguraram que tinham tomado o Poder, “sem derramamento de sangue e sem qualquer violência física contra os detidos, que se encontram num lugar seguro e com respeito pela sua dignidade”.
Os militares, cujo Golpe já foi condenado pela União Africana (UA) e pela CEDEAO, comprometeram-se a propôr, “dentro de um prazo razoável, após consulta das Forças Vivas da Nação, um Calendário para o regresso à Ordem Constitucional”.
Lembrete
O Burkina Faso viveu uma situação tensa no domingo, após tiros disparados de manhã cedo, em vários Quartéis Militares, na Capital e noutras partes do país (Ouahigouya e Kaya), incidentes descritos como o início de um alegado Motim, para exigir melhorias nas Forças Armadas.
O Governo negou, inicialmente, ter sido uma tentativa de Golpe de Estado e os Meios de Comunicação locais indicaram que se tratou de um Motim para exigir melhorias ao Executivo, incluindo mais recursos para combater o Terrorismo “jihadista” (do qual as Tropas são, geralmente, o alvo), e a demissão de altos funcionários militares e dos Serviços Secretos.
A situação de domingo foi precedida por um dia de manifestações não-autorizadas, no sábado, convocadas por Grupos da Sociedade Civil, para expressar um descontentamento social generalizado sobre a Insegurança, gerada pela violência rebelde e para exigir a demissão de Kaboré.
As Organizações Internacionais, nomeadamente: a União Europeia, União Africana e CEDEAO, bem como os Estados Unidos da América, já sublinharam a sua preocupação com os acontecimentos no Burkina Faso e responsabilizaram as Forças Armadas pela integridade física do Presidente Kaboré.
O Presidente Kaboré, reeleito em 2020 com a promessa de lutar contra os Terroristas, tem vindo a ser cada vez mais contestado por uma População atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das Forças Armadas do País responderem ao problema da Insegurança.
Kaboré liderou o Burkina Faso desde 2015, após uma Revolta Popular que expulsou o então Presidente, Blaise Compaoré, no Poder durante quase três décadas.
Ainda que reeleito em Novembro de 2020, para mais um mandato de cinco anos, Kaboré não conseguiu combater a frustração que tem vindo a crescer, devido à sua incapacidade de conter a propagação da violência terrorista no País.
Os ataques ligados à al-Qaeda e ao Grupo Extremista Estado Islâmico têm vindo a aumentar, sucessivamente, desde a sua chegada ao Poder, reclamando já milhares de vidas e forçando a deslocação de – segundo uma estimativa das Nações Unidas -, de 1,5 milhões de pessoas.
Também os Militares têm vindo a sofrer baixas desde que a violência extremista começou, em 2016.
Em Dezembro, mais de 50 elementos das Forças de Segurança foram mortos na Região do Sahel e nove Soldados na Região Centro-Norte, em Novembro.