PUB

Cultura

Revan Almeida: A música para sentir, fora do digital

Revan Almeida colocou no mercado recentemente a versão física do “Futur passod na prezent”, seu primeiro álbum, no verdadeiro sentido da palavra. Uma prova de fogo para a música num mundo cada vez mais digital, com o agravante da pirataria, mas também a resistência de “um dos últimos românticos” que continuam a acreditar no material palpável.

Não se arrepende. Isso é certo. Também não é a primeira vez que se aventura a disponibilizar de um CD físico, embora seja a primeira experiência com um álbum oficial, já que os projectos anteriores foram mix tapes e EP´s.

Este jovem rapper age assim na contramão daquilo que diria o senso comum, à partida, e prova que ainda há quem valorize esta cultura que teme se perder.

“Antes, as pessoas paravam para escutar um álbum, valorizar, prestar atenção em detalhes como a ficha técnica e entrar na viagem que o artista quer proporcionar. Agora estamos a consumir música de forma retalhada, dentro de outras playlists, de uma forma que às vezes passa muito longe daquilo que o artista quer transmitir”, observa, em
conversa com o A NAÇÃO.

Queria algo material, físico, “para pegar e sentir”, diz o também designer, que, por conta dessa sua profissão, acaba por ser ainda mais “apegado à parte final de produção”. “Gosto de ver o meu material impresso, palpável, fora do digital.”

A cultura da música, na sua forma mais genuína, se perde, segundo o artista, em detrimento de uma cultura do streaming, beliscada ainda pela pirataria.

Viável quanto baste

Segundo o jovem, que se diz um grande amante de CD’s e do vinil, o senso comum diriam que não é viável fazer um CD físico numa era de pirataria e streaming digital. E reconhece, não seria viável, de facto, fazê-lo em grande escala. “Mas pode ser viável fazer em pequena escala, conforme o mercado que tens. Pode não ser uma venda imediata, mas acredito que num espaço de algum tempo podes conseguir vender tudo”, garante.

Revan e a sua equipa encomendaram, em Portugal, uma centena de exemplares do CD.
Em pouco tempo, e até agora, vendeu cerca de 30%.

“Queríamos proporcionar uma experiência diferente para as pessoas que seguem o nosso trabalho de perto e dar a oportunidade de serem as primeiras a escutar a nossa música”, diz o rapper, natural de São Nicolau e radicado no Mindelo.

Por outro lado, falou do desejo de resgatar uma prática antiga.
A de colocar um álbum a tocar, com calma, e apreciar cada música sem a pressa do dia a dia a que estamos sujeitos actualmente.

Resultado positivo

Apesar de pequenos contratempos, que se resolveriam com uma melhor logística para colocar o produto no mercado, garante, o efeito tem sido “extremamente positivo”.

Para reforçar ainda mais essa experiência de consumir música, o jovem organizou, no Mindelo, uma sessão de escuta, onde amantes da sua música puderam sentar e ouvir o álbum, embalados por sabores da nossa gastronomia. “Foi incrível, as pessoas ficaram muito impressionadas e o feedback foi muito positivo”, garante.

O CD está a ser comprado, segundo diz, maioritariamente por pessoas que já cultivam esse hábito e gostam de colecionar este tipo de produto cultural. “São também pessoas já melhor posicionadas socialmente, com um trabalho, e por isso, não tão jovens, numa camada etária entre os 25 e 40 anos”, específica, indicando
naturalidade, tendo em conta a experiência de música que já trazem de tempos idos.

Com essa experiência, termina, percebeu que, por mais que tudo leva a crer que não, ainda há pessoas que valorizam o físico.

O álbum “Futur passod na prezent” foi lançado nas plataformas digitais no dia 19 de Novembro de 2021.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 750, de 13 de Janeiro de 2022

PUB

PUB

PUB

To Top