Os direitos humanos em Cabo Verde “estão beliscados”, a começar pelos abusos sexuais de crianças, como apontam os relatórios dos direitos das Nações Unidas e do departamento do Estado dos EUA que recomendam melhorias de ação ao arquipélago.
Ana Patrícia Graça, coordenadora residente do sistema das Nações Unidas em Cabo Verde considera que apesar dos progressos, os direitos humanos em Cabo Verde estão beliscados em “uma série de áreas” e reclama um olhar mais integrado por parte de todos os serviços públicos e de todas as pessoas, no caso da exploração e abuso sexual de menores.
“Eu não penso que seja uma questão de legislação, porque existe a lei especial para estes casos, inclusive apoiada pela UNICEF, já foi revista e está a ser implementada. É preciso que se diga que os processos de violação de crianças, Violências Baseadas no Género têm vindo a ser tratados de uma forma mais célere e com muito mais atenção por parte da sociedade e de comunidade”, especificou.
Esta coordenadora também lamentou o facto dos 16 dias de activismo pela “Erradicação da Violência” em Cabo Verde ter sido marcado por uma situação muito grave de feminicídio registado em Novembro e que nada fazia prever que o dia de ontem fosse marcado pelo crime do Sal.
Ana Graça defende que o caso da Eliane não deve ser esquecido e ressalta que se deve falar desta tragédia de forma aberta por entender que se torne necessário falar sobre o que se passa na comunidade/sociedade com as pessoas, agressores, criminosos.
“Situações dessas não podem ser tratadas com naturalidade. Sabemos que em todos os países acontecem estas situações e que têm de acabar, mas é preciso esta consciência da população como um todo, em que todos podem denunciar algo suspeito, quando se trata deste tipo de crimes, para que elas não acontecem e que a justiça as trate de uma forma mais rápida”, advogou.
Relativamente à sua mensagem sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos. disse que enquanto houver, em qualquer parte do mundo, inclusive em Cabo Verde, assassinos de uma mulher, violação de uma criança, de uma pessoa com deficiência ignorada ou um homem que ama outro homem humilhado, há que fazer muitos mais, todos juntos, em prol dos direitos e dignidade humana.