Por: Luis Carvalho*
Val morreu! Foi assim que me anunciou um dos nossos amigos comuns. Custou-me acreditar. Sabia que se tinha deslocado a Lisboa na expectativa de encontrar a cura para a sua doença. Falei com o médico, também amigo, sobre a situação, mas este disse-me que o prognóstico era reservado e que só depois de alguns dias de ser medicamentado se poderia saber se ainda havia solução.
Fiquei à espera da boa notícia até que no dia 24 de Novembro me chegou o que não queria ouvir: Morreu o Mário Moniz, Val para os familiares e amigos mais próximos! Fiquei sem jeito e incrédulo. Foi difícil acreditar. Tinha ainda a esperança de voltar a encontrar-me com ele para a nossa habitual cavaqueira, quer nos nossos banhos matinais, na Prainha, quer nos nossos footings.
Sportinguista de gema, nunca perdia uma oportunidade para falar do clube do seu coração, enquanto dava umas voltas no areal da Prainha. Tudo acabou! Foi vencido pela morte.
A Bíblia Sagrada ensina-nos que estamos de passagem por este Mundo, ou seja, que um dia todos nós havemos de partir. Uns partem mais cedo e outros mais tarde. É a lei da vida. A morte é certa. Contudo, nunca nos conformamos com esta realidade. Quem diria que hoje não estaria entre nós o homem trabalhador e que dedicou a sua vida àqueles que não foram bafejados pela sorte.
O Val era amigo de todos. Não era capaz de ter inimigos. Extrovertido, simpático e sempre com um sorriso no semblante. Nunca o vi chateado. Era uma pessoa de fácil trato e muito amável. Dele fica-me a imagem de uma pessoa dialogante e amiga dos seus amigos.
Caro amigo, a tua morte apanhou a todos nós de surpresa. Partiste num momento em que ainda tinhas muito para dar ao País que te viu nascer no longínquo ano de 1961, na localidade de Longueira, São Jorge dos Órgãos, no município de São Lourenço.
Sei que no dia em que o teu corpo vai baixar à terra, no Cemitério da Várzea, muitas lágrimas hão-de rolar pelos rostos dos que sofrem com o teu desaparecimento físico. Mas, para quê tantas lágrimas, tu que nunca nos ensinaste a chorar? Ensina-nos sim, a sermos alegres. Quem pôde conviver contigo, como é o meu caso, conhece os teus sorrisos rasgados e com gargalhadas à mistura. Foi assim que nos habituaste, amigo Val! Ensinaste-nos a encarar a vida com alegria.
Na próxima sexta-feira, 3 de Dezembro, vais voltar para casa donde havias partido à procura da saúde em terras lusas. O funeral é no sábado. Antes, porém, o teu corpo deverá ficar em câmara ardente na Sala do Munícipe da Câmara Municipal da Praia.
Indubitavelmente, Cabo Verde perdeu um grande activista social e um paladino dos mais pobres.
A embaixada de Portugal, na Praia, numa nota de pesar, se referiu ao Mário Moniz como “um associativista e activista social persistente, sempre presente, nunca se escusando a um novo desafio que significasse a melhoria de vida das populações com quem directamente trabalhava”.
A sede da Plataforma das Organizações Não-Governamentais esteve de portas fechadas nos dias 25 e 26, em sinal de luto pela perda do homem que durante mais de 20 anos desempenhou as funções de secretário executivo desta instituição e que se empenhou a fundo no sentido de dotá-la de uma sede própria e construída de raiz.
Na qualidade de secretário executivo da Plataforma das ONG, de acordo com esta organização, teve um “papel determinante” na advocacia do reforço da sociedade civil cabo-verdiana, em prol do desenvolvimento do País.
Foi também membro fundador e presidente da Associação de Apoio às Iniciativas de Auto-promoção (Solmi).
Como se sói dizer, morre o homem e fica a obra. É o teu caso, Val. Rendo-te esta singela homenagem. Ficarás na nossa memória colectiva!
*Amigo do Val