Juntos no amor e nos negócios, o casal Adilson e Edna Gomes, de Santa Catarina, resolveu aventurar-se na confecção de bolsas de diferentes estilos para todos os gostos, sexo e idade, como meio de driblar o desemprego. A DEA Produções tem ganhado o mercado, apostando em produtos de qualidade que têm recebido cada vez mais elogios dos cabo-verdianos no país e na diáspora.
Há alguns anos, Adilson e Edna Gomes deixaram as suas origens, Santa Catarina, interior de Santiago, e fixaram-se na cidade da Praia, para iniciar os estudos universitários. No meio de dificuldades, os dois jovens não conseguiram seguir adiante nas suas respectivas áreas de formação. Adilson, no curso de Engenharia Química e Biológica, e Edna, em Engenharia Alimentar.
Conforme explicaram ao A NAÇÃO, a falta de meios financeiros para continuar os estudos foi um dos motivos, mas, na verdade, diz Adilson Gomes, “os planos mudaram e não estávamos satisfeitos com a nossa área de formação porque descobrimos que afinal não era o que queríamos”.
Sem medo, deixaram a universidade. E, para driblar o desemprego e sobreviver, os dois não se importaram de vender fresquinha e bananinha pelas ruas da capital. Era, na prática, uma forma de se desenrascarem até conseguirem algo melhor, à medida que continuavam à procura.
O começar…
Anos mais tarde, depois de casados, os dois resolveram voltar ao concelho de origem, Santa Catarina, já que na Praia, o tão esperado emprego “dos sonhos” demorava a chegar. Na Assomada, Adilson e Edna resolveram aventurar-se num mundo que conheciam pouco, mas que já rendeu pão para a família de ambos os lados. A costura, voltada para confecção e produção de bolsas.
“Lembro-me que quando decidimos aventurar na costura, em 2018, a avó da Edna deu-nos uma máquina e iniciamos a confeccionar bolsas de ganga, aquele que viria a ser o nosso primeiro passo para conquistar a nossa independência financeira”, contou Adilson ao A NAÇÃO, revelando que a criação da DEA Produções tem na base uma história engraçada que nunca esquecem.
“No início, não tínhamos nada, além de algumas ideias. Dinheiro então, nem se fala. Nem para comprar tecidos. O pouco que tínhamos para iniciar, fazíamos render nas calças de ganga que adquirimos nos dias de feira na Assomada. Procurávamos calças bem grandes que nos rendiam mais tecidos. As vendedeiras do ‘mo na txon’ que nos ajudavam a procurar com toda a paciência achavam que tínhamos familiares obesos em casa. Afinal, quem compraria aquelas calças, e com frequência?”, contou às gargalhadas o nosso entrevistado.
Um passo de cada vez
Voltado para a confecção de bolsas de ganga, de tecidos africanos e de panos de terra, para todos os gostos, sexos e idade, a DEA Produções foi dando um passo de cada vez até conquistar o mercado. Primeiro na Assomada, depois noutros mercados de Santiago, saindo para as ilhas e, hoje, para fora de Cabo Verde.
“Os nossos fiéis clientes são mulheres, que encomendam as nossas bolsas para os seus familiares no estrangeiro”, disse o jovem, acrescentando que os seus clientes consomem as variedades do que produzem desde tiracolos, bolsas sofisticadas, mochilas entre outros.
Estar nesta área tem sido desafiador para o casal que, apesar de ideias e boas práticas que já agradam o mercado, não possui nenhuma formação nesta área. No entanto, o trabalho feito até agora “agrada”, pois tem rendido elogios, sobretudo nas redes sociais onde procuram ultrapassar as fronteiras e ganhar mais clientela.
“Trabalhamos com o básico que vimos e aprendemos com os nossos familiares. Mas aprendemos a cada dia com a prática, para além de consultas frequentes na internet, que hoje em dia facilita o conhecimento”, explicou o nosso entrevistado. “Ainda somos iniciantes, mas graças a Deus, ganhamos cada vez mais clientes”.
Desafios
Ainda sem condições para abrir um espaço e instalar a empresa, a DAE Produções funciona na própria casa do casal. O lucro tem dado para sustentar a família, ao mesmo tempo que vai pensando na expansão do negócio, tanto no país, como internacional, na mira de “conseguir financiamento para produzir mais tipos de bolsas e pôr em prática algumas ideias com mais exigências”.
Adilson e Edna confessam que, por vezes, têm encomendas que justificariam contratar mais pessoas, mas tendo em conta que a empresa funciona em casa, não conseguem dar mais este passo e preferem trabalhar sozinhos, apenas por encomendas.
“A concorrência não é muito forte, mas o nosso trabalho sobressai porque temos diferenças na nossa marca e as nossas bolsas têm as suas peculiaridades. Além de mais, estamos focados na satisfação dos nossos clientes e de todos que nos procuram. Por isso, sempre fazemos novas peças, novos estilos e apostamos sempre na qualidade, optando por matérias-primas mais resistentes”, garante o jovem para quem as feituras da DEA Produções “possuem as suas distinções no mercado”.
O casal acredita que estão num bom caminho para atingir o limite máximo que pretende, já que os primeiros maiores desafios já ultrapassaram, nomeadamente, driblar o desemprego.
“Estamos num bom caminho e com a ajuda de Deus, vamos continuar esta luta sem desistir apesar de pouca ajuda e incentivo aos jovens. Aliás, sempre confiamos em Deus e foi Ele que nos indicou o caminho desde sempre, por isso o nome da nossa empresa D-Deus, E-Edna e A-Adilson, Produções. Vamos continuar firme nesta caminhada e cremos que estamos cada vez mais perto conquistar a todos com o nosso trabalho, um produto puro e ‘di tera’ que muito respira a cabo-verdianidade”, termina.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 742, de 18 de Novembro de 2021