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Ambiente

Cabo Verde tem a vantagem de não ter indústrias poluidoras

Esta é uma das principais conclusões a que se chegou, esta segunda-feira, 25, na conferência sobre Água e Ambiente, promovida pela Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, na Praia. Uma vantagem competitiva, segundo o reitor cessante, Wlodzimierz Szymaniak, mas beliscada pelo facto de o país receber uma quantidade excessiva de produtos poluidores, como é o caso do plástico.

“Cabo Verde ainda tem muitas vantagens competitivas e não devemos perdê-las. Uma delas é a ausência de indústrias poluidoras, mas cuidado – os produtos poluidores chegam em qualidade excessiva ao país, afetando a nossa forma de viver e a nossa saúde. O exemplo mais evidente são os plásticos, os combustíveis e o uso desmesurado de energia”, alertou.

Segundo Wlodzimierz Szymaniak, que discursou sobre a importância da literacia ambiental na sociedade moderna, é urgente fazer um esforço para racionalizar o consumo e os recursos, já que os impactos nefastos no ambiente são transversais e afetam nossa vida em vários domínios.

“Na saúde pública, observamos a diminuição de doenças infecciosas mas o aumento de doenças crónicas, como é o caso dos diabetes, obesidade e problemas oncológicos. Em muitos casos, são doenças que podem ser evitadas através de um estilo de vida saudável, num ambiente saudável”, assegurou o professor.

Ausência de incentivos fiscais para importadores

A adopção de políticas ambientais saudáveis necessita também de incentivos , entre os quais fiscais, e um trabalho em conjunto, que envolve os decisores e a sociedade civil.

“Ha soluções que são simples, mas não se aplicam muito. Por exemplo, a política fiscal pró-ambiente. Actualmente, nas zonas costeiras de Cabo Verde, um dos maiores problemas são os copos de plástico”, apontou.

Enquanto isso, existem copos de papel que não produzem efeito nefasto no ambiente, mas o importador não encontra vantagens em trazer esse tipo de material.  “Infelizmente, o importador dos copos de papel paga as mesmas taxas alfandegárias que um importador dos copos de plástico. E o efeito ambiental não se compara”, indicou.

Para o professor, a culpa não pode ser atribuída somente aos políticos, mas também à própria sociedade civil, que não exige que os decisores sejam mais sensíveis às questões ambientais.

Um dos grandes desafios da sociedade actual, segundo apontou, é a literacia, já que, segundo explicou o palestrante, uma pessoa bem informada corre menos risco de tomar decisões erradas e assume mais facilmente as responsabilidades.

Desafios da cobertura mediática

A conferência contou também com a colaboração do diretor-geral do Jornal A Nação, que abordou os desafios da cobertura jornalística da água e do ambiente, no contexto nacional.

Para Fernando Ortet, a comunicação social está ainda – infelizmente –  quase no ponto zero no que se refere à cobertura de problemas vitais relacionados com a água e com o ambiente.

Isso tendo em conta a baixa percentagem de cobertura do tema, em comparação com outras editorias, como a política, cultura, economia ou sociedade, este último no que se refere ao crime.

Tomando como exemplo um recorte de cobertura ao longo de um ano no jornal A Nação, Fernando Ortet indicou que apenas 2,5% dos conteúdos produzidos estavam relacionados com o tema, quando, para se ter um equilíbrio com outras editorias, o score deveria ser de, pelo menos, 8%.

Um déficit que, segundo explicou, está relacionado com vários intervenientes, sendo os mais evidentes a falta de especialistas nas redações e dependência financeira dos órgãos de comunicação social, especialmente os privados, que precisam produzir aquilo que interessa aos seus leitores.

“Em tudo isso, nos chama a atenção o facto de estarmos perante temas vitais para a nossa vida, mas que não estão a ser tratados com um mínimo de seriedade e persistência que devia ter sido tratado”, analisou, indicando que o caminho passa por sensibilizar os decisores a investirem nesta editoria nos diversos órgãos de comunicação social para que esses temas “tão importantes” possam ser tratados.

É igualmente importante, na sua óptica, sensibilizar instituições ligadas à educação e criar parcerias entre as diversas instituições e os órgãos de comunicação.

A conferência contou ainda com a intervenção do professor Tomaz Vitez, da Universidade de Mendel, na República Checa, que partilhou a experiência do país no tocante a políticas ambientais, como o tratamento de águas e resíduos.

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