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Sociedade

Secretário-Geral da IUSY: “Os jovens cabo-verdianos são altamente participativos”

A avaliação é do secretário-geral (SG) da IUSY (União Internacional das Juventudes Socialistas), Bruno Gonçalves, o primeiro português a ascender a este posto, que conclui, esta quinta-feira, 14, uma visita de cinco dia a Cabo Verde, a convite da JPAI (“Jota” do Partido Africano da Independência de Cabo Verde). Neste exclusivo ao A NAÇÃO, Gonçalves, sustenta, também, que “é urgente inverter o rumo” pós-Pandemia de COVID-19, classifica a Democracia Cabo-Verdiana como “um exemplo saudável” para a Região onde está inserida, pelo que espera que as Presidenciais de domingo, 17, “sejam um passo a caminho do reforço democrático e nunca um retrocesso para um passado obscuro e sombrio”.

 

A NAÇÃO – Quais os objectivos da sua missão a Cabo Verde?
Bruno Gonçalves – O principal é o de perceber os grandes desafios da Juventude cabo-verdiana no caminho para a recuperação da Pandemia de COVID-19…

 E o que percebeu?
Que há um forte desafio no que toca à Saúde Mental e no acesso ao emprego digno, que foi muito afectado pela quebra histórica no Turismo, nas diferentes ilhas. Assistimos a uma Crise Histórica, que acabou por afectar aqueles que são, cronicamente, os mais esquecidos…

 …e quem são eles?
Os jovens e as mulheres; é urgente inverter o rumo. A par disso, esta visita foi um momento de afirmação da Juventude cabo-verdiana no Panorama Mundial, através do estreitamento das relações entre a JPAI e as demais Organizações da IUSY.

 

Desafios

Como avalia a JPAI e os desafios dos jovens cabo-verdianos?
A JPAI é uma Organização muito bem estruturada, com uma forte implantação nas diferentes ilhas, cujo posicionamento no contexto da África Ocidental e do Continente Africano deve ser motivo de orgulho para todos os cabo-verdianos, sejam eles, simpatizantes ou não dos Partidos políticos…

 Na sua leitura, quais os desafios mais prementes?
Para os mais jovens, eles são imensos. Desde logo, porque a realidade pandémica acabou por expôr algumas das insuficiências que o País ainda vive e para as quais apenas uma solução integrada, responsável, visionária e progressista poderá dar resposta….

 …e quais são?
O acesso ao emprego digno e estável, a partir de uma Economia diversificada, que permita aos jovens constituírem Família e emanciparem-se dignamente.

Incluem-se, ainda, neste rol, o acesso à Educação Pública, gratuita e universal, que é, também, tão afectada pela COVID 19, como pela pandemia silenciosa da falta de recursos.

 E o que dizer da Saúde?
Naturalmente, no que toca à Saúde, deve-se ter presente, tanto na prevenção das diferentes crises de Saúde Pública como no investimento de uma agenda firme para a Saúde Mental.

Estou certo que os líderes da JPAI serão, também, enormes líderes do futuro do País e a IUSY cá estará, para ajudar no necessário, de um ponto de vista multilateral e cooperativo.

 

Participação Política

Qual opinião sobre a Participação Política dos jovens a Nível Global e qual a sua percepção sobre o mesmo no contexto cabo-verdiano?
Os jovens cabo-verdianos acabam por sofrer da mesma “Pandemia Global” que os coetáneos dos diferentes países.

Existe, neste momento, um sentimento generalizado de desconfiança perante aquilo que são as Instituições Políticas e os seus actores.

Ainda assim, tenho notado que os jovens cabo-verdianos são altamente participativos nas suas comunidades, sendo, por diversas vezes, motores do desenvolvimento dos seus locais, a partir das associações e/ou de grupos informais.

Ademais, aquilo que nós percebemos nas ruas, através de contactos com as pessoas, é que os jovens acabam por ser mais receptivos a falar com os mais jovens, são mais receptivos a falar com os seus pares, e é, por isso, que nós precisamos, cada vez mais, de líderes jovens na Política, de líderes jovens na opinião pública e de líderes jovens na Sociedade Civil.

 Para quê?
Para que possam representar uma fase de mudança e de aproximação à Juventude e aos seus problemas, nomeadamente, no que toca à aposta firme e decisiva na Educação e nas condições para o sucesso escolar.

 

“Exemplo saudável”

Qual a sua opinião sobre a Democracia cabo-verdiana?
É um exemplo no que concerne aos Regimes da Região Africana em que Cabo Verde se insere.

Tem, desde há largos anos, um Sistema Multi-Partidário, que permite diferentes expressões,

que permite a Liberdade de Imprensa e de Expressão e que permite, acima de tudo, que cada cidadão se possa expressar, consoante aquilo que são os seus anseios, as suas motivações

e consoante aquilo que são, também, os seus interesses para o desígnio individual e comum do seu País.

E o que dizer das Instituições?
Cabo Verde é um exemplo saudável do bom funcionamento das instituições democráticas na Região. Isso, também, é um mérito dos jovens da JPAI e do PAICV.

Devo, aliás, dizer que muito me impressionou a excelente capacidade organizativa desta missão, a qual não seria possível sem a liderança da JPAI.

 Como prognostica que sejam as Eleições Presidenciais, marcadas para o próximo domingo, 17?
A sã convivência entre Partidos e Candidatos às diferentes Eleições é revelador do espírito democrático, estável e participativo, do povo cabo-verdiano desde a sua independência.

Espero, aliás, que as Presidenciais de domingo decorram num registo sadio, com uma enorme participação de todas as pessoas, resultando num País mais livre, mais próspero, mais justo e aberto ao Mundo.

O Mundo vive, infelizmente, momentos turbulentos com o retorno de alguns movimentos fascistas e de extrema-direita, que são de muito má-memória para o povo. Por isso, espero que as próximas Eleições sejam um passo a caminho do reforço democrático e nunca um retrocesso para um passado obscuro e sombrio.

Plataforma Política

Como tem sido a interacção, cooperação e concertação da IUSY com as outras organizações juvenis?
A IUSY é, essencialmente, uma Plataforma Política para o encontro de milhões de activistas progressistas e de esquerda, de todo o Mundo.

A Estrutura organiza-se em diferentes comités regionais, notadamente: Europeu, Africano, Americano, Ásia Pacífico e Mediterrâneo.

Estes comités acabam por ser as principais plataformas correntes do contacto com as organizações no seu contexto territorial e, também, as principais pontes para uma Organização que se quer verdadeiramente internacional.

E é, precisamente, por essa razão, que, todos os anos, organizamos encontros globais…

 Quais em concreto?
Desde o “Global Seminar”, em Estocolmo, aos congressos, conselhos mundiais e festivais…

 …com que objectivos?
Para que a Juventude possa trocar ideias e perspectivas sobre os seus países. Pretendemos, essencialmente, que caminhemos, juntos, para uma solução de Governo Mundial, onde a paz, a estabilidade e a dignidade humana sejam sempre asseguradas.

 

Ambiente

Qual a Vossa principal preocupação e foco no Dossiê Ambiente?
Precisamos de individual e colectivamente, acelerar o combate às Alterações Climáticas.

Mas essa luta, esse combate, só pode ser feito à Escala Global, a partir de esforços multilaterais de Cooperação, numa simbiose entre o espírito democrático – a vontade dos povos – e a Ciência.

O último Relatório do IPCC (Painel Inter-Governamental das Nações Unidas para o Combate às Alterações Climáticas) é inequívoco: não há mais tempo a perder. É urgente reduzir as emissões de Dióxido de Carbono, a partir da aposta nas Energias Renováveis, alterando o paradigma do mix-energético e investindo na Eficiência Energética, principalmente, no que concerne às habitações, bem como introduzir novos mecanismos de armazenamento de Energia Verde, como o Hidrogénio, na Economia.

Contudo, há uma outra realidade que nos deve convocar para um esforço comum e vigoroso, que é a da poluição dos oceanos.

Todos os minutos são enviados para os rios, mares e oceanos mais de 15 toneladas de plástico, em todo o Mundo.

 Como alterar a situação?
A partir da tributação das emissões de Carbono, do investimento em fontes de Energia Alternativas e Renováveis, do fim progressivo de todos os combustíveis fósseis, mas também reduzindo e reestruturando os padrões de consumo e produção da sociedade actual. É uma luta difícil, certamente.

Contudo, e apesar de não sermos a primeira geração neste combate, podemos ser a última a ter oportunidade de o fazer. É, pois, tempo de estarmos todos juntos e convocados para o combate das nossas vidas: o combate pela Sobrevivência da Espécie Humana.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 737, de 14 de Outubro de 2021

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