O ano agrícola está com boas perspectivas, graças ao bom nível de precipitação registado durante o mês de Agosto. Entretanto, já surgiram focos de gafanhotos e percevejos verdes (tartarugas) em alguns concelhos da ilha de Santiago, do Fogo e do Maio. Os agricultores e técnicos do MAA estão no terreno a fazer o combate.
Acampanha da agricultura de sequeiro no interior de Santiago está a decorrer a um bom ritmo e os agricultores estão optimistas num bom ano agrícola, graças à boa quantidade de chuvas caídas durante o mês de Agosto. Os cultivos estão com um bom vigor vegetativo neste momento.
A grande preocupação dos agricultores prende-se com a falta de mão-de-obra, a nível da ilha de Santiago, tal como o reportado pelo número anterior do A NAÇÃO.
Outra preocupação é o surgimento de pequenos focos de gafanhotos e tartarugas (percevejos-verde) nos concelhos de Ribeira Grande de Santiago, São Domingos, Santa Cruz, São Lourenço dos Órgãos, Santa Catarina e São Miguel. Nas ilhas do Fogo e do Maio regista-se também o mesmo tipo de pragas.
E para travar o alastramento das pragas, os agricultores e técnicos do Ministério da Agricultura (MAA) já estão no terreno a fazer o combate, contando também com amigos naturais nomeadamente chuva regular.
Situação estável
Na Várzea de Santana, no concelho de São Lourenço dos Órgãos, semanas atrás, os agricultores estavam aflitos
com a invasão das tartarugas.
Em conversa com o A NAÇÃO, o agricultor Ângelo Freire explicou, entretanto, que a situação já normalizou, graças à queda das chuvas registadas durante o mês de Agosto.
“Tivemos muito tempo a pedir uma intervenção do ministério da no sentido de ajudar-nos a combater as tartarugas que estavam a atacar as plantas, sobretudo as hortaliças e fruteiras, mas não fizeram nada. Felizmente, graças às chuvas, as pragas desapareceram. Neste momento, registamos pequenos focos de lagartas-do-cartucho do milho, mas a delegação do MAA já nos disponibilizou os remédios e as bombas e estamos a fazer o tratamento”, avança.
Por sua vez, Fernando Garcia “Pina” diz que este ano, “graças a Deus”, no perímetro das Canárias, ainda não
foi registado nenhuma praga.
“Como tivemos praticamente três anos de seca sem cultivar as pragas também desapareceram. Por vezes, há males que vêm por bem”, sublinha. Contudo, “Pina” diz ter conhecimento de focos de tartarugas e lesmas em outros pontos do concelho.
Receitas natural
O experiente “Pina” revela que descobriu uma forma simples e saudável de combater as tartarugas e a lesma sem usar produtos químicos, muitas vezes tóxicos. No caso das tartarugas, aconselha os outros agricultores usarem fogueiras.
“A luz e o lume, à noite, atraem as tartarugas e outros insectos. Então, os agricultores podem colocar pequenos
fogos dentro das suas propriedades à noite e estes atraem as tartarugas que, ao cair no lume, acabam por morrer”.
E, no que tange a lesma, que ataca principalmente tubérculos e cultivos de morangos, “Pina” aconselha o uso de cerveja. “Os agricultores arranjam um recipiente largo que leva um litro de cerveja ou mais e cavar um buraco e enterrar. A cerveja atrai a lesma e ao cair no recipiente a bebida morre”, explica.
Situação em outros pontos de Santiago
Em São Domingos, particularmente nas localidades de Fontes Almeida e Loura, os agricultores estão preocupados com o surgimento do primeiro foco de gafanhotos, e temem que essa praga possa colocar em risco a cultura do milho.
No concelho de Ribeira Grande de Santiago, mais concretamente em João Varela, foram identificados focos de gafanhotos, assim como na zona de Achada Grande, no município de Santa Catarina, e em Renque Purga e Monte Negro, ambas no concelho de Santa Cruz. Em São Miguel foi registada a presença de tartarugas.
Outras ilhas
No Maio os técnicos do Ministério da Agricultura e Ambiente (MAA) estão no terreno a dar combate aos gafanhotos, que surgiram logo após as primeiras chuvas.
A delegada do MAA, Teresa Silva, diz que logo que tiveram conhecimento dos primeiros focos de gafanhotos, os técnicos saíram ao terreno para fazerem a prospecção.
“Estamos a fazer o combate, tanto no nas zonas florestais, como nos campos da pastagem e nas parcelas agrícolas”, destacou, realçando que já trataram cerca de 38 hectares de terreno, com pesticidas biológicos e químicos, com “efeitos positivos”.
A mesma fonte adiantou que as chuvas caídas na madrugada do dia 26, com muita intensidade, contribuíram, também, para matar uma boa quantidade de gafanhotos.
“Nas parcelas agrícolas estamos a trabalhar em parceria com os agricultores. Colocamos iscos envenenados em pontos estratégicos e depois os técnicos fazem o acompanhamento. Nos campos de pastagem, nas zonas florestais, utilizamos pesticidas biológicos e químicos que não colocam em risco a saúde animal”, garante.
Fogo
Na ilha do Fogo, em Chã das Caldeiras, foram também registados focos de tartarugas, nos cultivos de congo e fruteiras. Os agricultores com ajuda dos técnicos da MAA estão no terreno a dar combate sem trégua.
DGASP no terreno
Contactado pelo A NAÇÃO, o coordenador do Programa Fitossanitário do MAA, Celestino Tavares, confirma a existência de focos de pragas nos concelhos referenciados acima.
Aquele responsável assegura que os técnicos de MAA estão no terreno a auxiliar os agricultores com equipamentos e produtos de combate às pragas.
De salientar que este ano, apesar do cenário apontar para um bom ano agrícola, uma vez que até aqui tem chovido regularmente e existência de pouca praga, a produção pode não ser em grande escala. Isto porque muitas parcelas agrícolas correm risco de ficar ao abandono por falta de mão-de-obra. O que é de lamentar depois de vários anos de seca.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 731, de 02 de Setembro de 2021