Com a covid-19 a dar sinais de recuo, Cordas do Sol, grupo musical de Santo Antão cujo sucesso ultrapassa as fronteiras de Cabo Verde, estuda o regresso aos palcos. Arlindo Évora revelou ao A NAÇÃO que ele e os seus companheiros procuram, nesta pausa, criar novas composições e repensar o percurso de 27 anos da banda. Cordas do Sol está com saudades dos palcos e o seu líder diz estar em preparação uma “revolução musical” que promete surpreender.
A covid-19 impôs um stop, ainda que temporário, ao Cordas do Sol, banda musical que saltou para a ribalta há quase trinta anos. A pandemia acabou por interromper essa caminhada, impondo uma pausa temporária, como diz o seu líder, Arlindo Évora, ao A NAÇÃO:
“Estávamos numa virada de ouro. No ponto em que a maturidade, a notoriedade, a seriedade e a criatividade estavam juntas para o desbloqueio de várias acções e coroação de uma época nova para nós. Foi duro sentir como de repente tudo ficou para depois”.
Estudo e reflexão Contudo, apesar da pausa, o grupo permanece activo, nomeadamente, através de contactos online e alinhamento de projectos com outros países, bem como apostando na investigação e dedicando-se ao estudo dos fenómenos do mercado da música, novas formas de divulgação, direitos autorais e conexos, como faz saber o nosso entrevistado.
“Também houve tempo para repensar todo o percurso feito, os ganhos conseguidos e o que não foi aproveitado em tempo útil, as mudanças que devemos adoptar e que caminho o futuro pode nos ter reservado”, acrescenta.
Conteúdo para os próximos 15 anos.
O regresso aos palcos ainda não tem data, mas Arlindo Évora destaca que há planos e esboços, feitos “com muita coerência”, estando o grupo confiante que, em breve, retornará para “bater e ficar”. Até porque, como diz, a banda tem conteúdo para navegar para os próximos 15 anos “sem excitação”.
“São pacotes que exigem muito investimento, mas seguramente lá chegaremos”, acredita Arlindo Évora.
Carreiras a solo Aliás, o período de pausa tem sido particularmente inspirador para os oito elementos do grupo, que têm produzido novas composições e sonoridades, algumas lançadas a solo.
É o caso de Titita que aproveitou o período para lançar o primeiro álbum. Por sua vez, a Ceuzany lança brevemente um novo trabalho e, ainda, o produtor musical Bruce John, apontado como uma das “grandes surpresas” do mercado a solo.
Outro elemento da banda, John de Brava, tem igualmente dado passos a solo, o que, segundo Arlindo Évora, “não coloca fim” da carreira desses integrantes no grupo, mas sim enriquece a banda e a robustez das apresentações.
Arlindo Évora regressa à profissão de enfermeiro
Já Arlindo Évora, para além de compor, regressou aos serviços de saúde, como enfermeiro, sua profissão, para dar a sua contribuição e reforçar o combate à covid-19 em Santo Antão e ajudar a salvar e cuidar de vidas.
“Eu tive este privilégio de regressar ao lugar que tenho muita estima e respeito e sinto muito feliz por voltar a vestir a bata branca e reencontrar com os novos e velhos colegas e assim unir numa causa em comum que é salvar vidas.
Por enquanto vou dedicando o máximo e dar o meu melhor como sempre fiz e faço em tudo que eu entrego”, afirma.
Retorno aos palcos promete surpreender
Contudo, as trajectórias distintas não separam os membros do Cordas do Sol, pelo contrário, estão mais unidos no preparo do regresso aos palcos como a resistência das montanhas e no preparo de uma “revolução musical” que promete surpreender.
Para já, há perspectiva de um espetáculo que deverá acontecer em Novembro numa das ilhas do país, ainda sem confirmação.
Contudo, o regresso propriamente dito só deverá acontecer em 2022, estando já a receber chamadas para a reserva de datas em Portugal, França, Holanda, Luxemburgo, Suíça, EUA, Bélgica, Espanha, Senegal, etc.
“Nada deverá acontecer antes de 2022 na nossa agenda. Pensamos sim, que quando as actividades se retomarem estaremos ‘super ocupados’ para um longo período. Imagino que será uma nova temporada de brilho e expectativa.
Veremos com calma. 2022 é o nosso prognostico”, perspectiva Arlindo. Cordas do Sol já tem no mercado
quatro álbuns de originais, “Linga de Sentontom”, “Marijoana”, “Lume d’ Lenha” e “Na Montanha”, e, desde 1994, ano de formação do grupo, tem prestado um tributo musical a Santo Antão.
O foco tem sido a tradição oral da Ilha das Montanhas nos estilos musicais como mazurca, cola sonjon, coladeira e mornas, adaptados a instrumentos contemporâneos. Tudo isso constitui o sucesso do grupo no país e na diáspora.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 730, de 26 de Agosto de 2021