Enquanto em Cabul, multidões desesperadas fazem tudo para deixar o Afeganistão, de novo tomado pelos Talibãs, a Comunidade Internacional vê com preocupação o futuro daquele País da Ásia. António Guterres, secretário-geral (SG) da ONU (Organização das Nações Unidas), promete não esquecer os afegãos.
O regresso dos radicais islâmicos ao controlo do Afeganistão – escreve o portal pt.euronews.com -, acontece depois da retirada das Tropas Estrangeiras, designadamente da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e dos EUA (Estados unidos da América).
O País vive, agora, entre o desespero, a fuga e o caos.
“Peço o fim imediato da violência, que os direitos de todos os afegãos sejam respeitados e que o Afeganistão respeite todos os Acordos Internacionais de que é signatário. Os próximos dias são essenciais. O Mundo está a assistir. Não podemos e não vamos abandonar o Povo do Afeganistão”, garante António Guterres.
Aliás, estes são os medos da Comunidade internacional. Há a questão das liberdades dos afegãos, em particular das mulheres. Há, também, o medo de que o Afeganistão se volte a transformar num “ninho do terrorismo” da Al Qaeda.
Optimista, a chanceler alemã, Angela Merkel, acredita que isso não vai voltar a acontecer.
“É um dado adquirido que a al-Qaeda já não pode lançar ataques a partir dos Afeganistão. como fez no 11 de Setembro de 2001, mas nem tudo o que se seguiu a essa data teve sucesso ou foi conseguido da forma que esperávamos”, admite a Chefe do Governo alemão.
Tanto a Alemanha como a França já enviaram aviões para a Região, com o objectivo de repatriar nacionais, mas, também, afegãos, que colaboraram com a Europa e as respectivas famílias, a quem foram dados vistos.
“O Afeganistão não pode voltar a ser o ‘santuário do terrorismo’, que já foi. A desestabilização do Afeganistão pode trazer fluxos migratórios irregulares para a Europa. Juntamente com a Alemanha e outros Países Europeus, vamos dar uma resposta robusta, coordenada e unida”, promete o Presidente Francês, Emmanuel Macron.
A França suspendeu, há quatro meses, a deportação de migrantes afegãos e a Alemanha voltou, agora, atrás, na decisão de continuar a expulsar migrantes a quem foi negado asilo.
Os afegãos são o segundo maior Grupo de Migrantes a querer entrar na Europa, depois dos sírios, mas os últimos acontecimentos podem desencadear uma nova onda migratória.
Garantias dos Talibãs
Em entrevista exclusiva ao sítio na Internet cnnbrasil.com.br, o porta-voz dos Talibãs, Suhail Shaheen, disse que a prioridade para eles é garantir a segurança e estabelecer um Novo Governo no Afeganistão. Ele também afirmou que há consideração de que pessoas que não são integrantes do Grupo possam fazer parte do Governo.
“Nós falamos que será um Governo Afegão inclusivo, isso significa que outros afegãos terão participação no Governo, para que ele seja um Governo Islâmico Afegão Inclusivo”, explicou Suhail Shaheen, insistindo que as suas “prioridades são a manutenção da Segurança, e, depois, nós vamos ter um Novo Governo Islâmico Afegão Inclusivo, nos próximos dias”.
EUA admitem erros…
O Presidente dos EUA, Joe Biden, admite erros, mas diz não se arrepender de retirar tropas do Afeganistão.
“Nossa missão no Afeganistão teve muitos erros, nas últimas décadas. Eu sou o Presidente dos EUA e essa guerra acaba comigo. Não me arrependo da minha decisão de acabar com essa Guerra e manter foco na nossa Missão de Contra-Terrorismo”, afirmou Biden, num discurso televisionado, na segunda-feira, 16.
Bide reiterou que as Tropas não poderiam permanecer no País, se nem as Forças Oficiais Afegãs lutaram contra os Talibãs.
E ilustra: “Os lideres desistiram e fugiram do País. As Forças Militares colapsaram, alguns tentaram lutar. Se o Afeganistão não consegue oferecer uma resistência aos Talibãs, os Militares Americanos não conseguiriam fazer ali qualquer diferença”.
Joe Biden revelou, também, que teve conversas com o ex-Presidente Afegão, Ashraf Ghani, e com demais lideranças do País sobre “como o Afeganistão deveria estar pronto para enfrentar uma Guerra Civil, após a saída dos Americanos”, remarcando que, durante 20 anos, os EUA gastaram mais de um trilhão de dólares, na Guerra mais lôngeva travada pelo País, mas que, mesmo assim, “nunca houve uma época boa para retirar as Forças do País”, confessando que, na “verdade, é que o Afeganistão caiu mais rápido do que imaginávamos”.
Avisos…
Biden também comentou sobre assuntos envolvendo os Direitos Humanos e Direitos das Mulheres e Minorias, já que os Talibãs carregam consigo uma Matriz Religiosa forte acerca do Papel das Mulheres na Sociedade.
Segundo ele, os Direitos Humanos devem ser “o centro da Política Externa, e não a periferia”. Por isso, o País deverá dar “’status’ de Refugiados para quem trabalha em Embaixadas e Organizações Americanas no Afeganistão”.
Agora, o foco dos Estados Unidos será retirar trabalhadores Americanos que ainda estão na área. Meses após a declaração inicial de que todos os dois mil e 500 soldados dos EUA estariam fora do Afeganistão, até o final do Verão, um total de seis mil soldados devem ajudar a facilitar a retirada do País, até o fim do ano.
Ao comentar sobre essa debandada final, o Presidente afirmou que, se o Talibã atacar as Equipas Americanas, a contra-resposta será “rápida e forte”.
“Defenderemos o nosso Povo com uma força devastadora, se necessário. Assim que cumprirmos essa Missão, concluíremos a saída dos Militares e a Guerra mais longa dos EUA, após 20 anos, de um banho de sangue”, avisou, frisando que não vai “repetir os erros do passado, de ficar, indefinitivamente, em um conflito que não é do interesse dos EUA, ou de apostar na Guerra Civil de um País e manter as nossas Forças nele”.
A rápida queda das Forças Nacionais e do Governo do Afeganistão foram um choque para Biden e para os altos membros de sua Administração, que, no mês passado, acreditavam que poderia levar meses até que o Governo Civil em Cabul caísse, permitindo um período de tempo, após a saída das Tropas Americanas antes que todas as consequências da retirada fossem expostas.