Por: Péricles Barros
Numa das minhas tertúlias gostosas com cidadãos comuns, descomprometidos mas sobretudo atentos, sobre fazer e estar na política, partidos, parlamento, governos, oposições, poder e quejandos, alguém questionou: Cabo-verdianos, política é luta para o poder entre partidos, constitucionalmente consagrado com programas de governação diferentes, onde todos dizem querer o bem da sociedade em geral e de todos pecadores em particular quer vivos, quer por nascer certo?
Se elogios feitos sobre a governação de um partido no poder, (sendo verdade e evidente…) é bom e recomenda-se, e por inerência bom para o povo e “menos bom” para quem está na oposição e quer destronar o poder e governar, fizer sentido… Será que é bom para a construção de boas soluções para o país e para a democracia, que as oposições enumerem por regra, só o que há de criticável na governação, pensando que está a contribuir para melhorar a governação? Não será este um direito inalienável que assiste a toda a oposição em democracia?
Será que, se a oposição louvar publicamente as coisas boas feitas pela situação a bem do povo, é ser POLITICAMENTE “BACAN”? Se esta oposição aplaudir e criticar o poder na justa medida, não estará a mandar uma mensagem subliminar à sociedade, do estilo: tornem a votar nos meus adversários pois só quem não erra é quem não faz? Alguma oposição pretenderá chegar ao poder com atitude cidadãs, nobres, responsáveis e coerentes desta estirpe?
Serão o silêncio conveniente e ou a má-língua ingredientes indispensáveis na democracia? A luta pelo poder e a nobreza de atitudes são incompatíveis? Há estratégias escondidas, escusas, malandras, para chegar ao poder? Se as há, por serem torpes, pouco sérias, sórdidas e mais que evidentes no nosso contexto, os respetivos atores podem ser considerados confiáveis? Quem deve denunciar, a quem e em que moldes?
Que consequências? Qual o momento do poder se retirar? Algum “poder” abdica e sai do palco de livre e espontânea vontade para que haja a saudável alternância do poder que a democracia preconiza? Quem estiver a governar deve permanecer lá para eternidade? Há algum registo credível desta ocorrência?
O que impede os partidos de se juntarem e se entenderem sobre as grandes questões e desígnios e desafios crónicos nacionais e terem acordos corajosos e patrióticos de longo prazo sobre os males crónicos, quase insolúveis que assolam o país, a saber, o desemprego, a luta contra a pobreza, a educação, a saúde, a segurança, o ambiente, o abastecimento de água, o saneamento etc., etc.? Cobardia e ou oportunismo coletivo?
Malandragem política generalizada? Agnosia conveniente? A nossa tão adulada e idolatrada democracia tem solução para estas disfunções? Toda a alternância na governação tem de recomeçar tudo quase da estaca zero, caso contrário é considerado cábula, sem imaginação, e copiador de soluções da outra senhora? Alguém contesta? A fogueira dos recursos públicos, o culto do secular desperdício, do esbanjamento, da incúria e da impunidade na história da gestão da coisa pública.cv devem ser alimentados e fortalecidos em cada ciclo politico num país paupérrimo como o nosso?
Escravos do voto? Os partidos transformam-se numa espécie de seitas; todo o mundo vigiado,.. “ cuidado com aquele gajo… está a escorregar, cara perigoso… bom, djam flaba nhos! Miséria mental. Será que existe país exemplo onde o sucesso é produto de uma outra forma de convivência inter partidos na política? Será isso uma quimera?
Se alguma coisa vai mal neste carnaval da política.cv das últimas décadas e se as perguntas feitas, por mais incómodas que sejam, são legítimas e oportunas, perguntamos: Quem é qui debi pô ordi ness quartel di politiquerus di merda? quem é culpado? quem quê polícia? povo? Prisidenti da República? Cadê? Dimocracia? ooops!!! bom, si cadjar , nôs democracia mesti entra na estaleiro pamodi , cascu mesti di reparação e sta ta meti água… purguntas simplis pa raspostas dificel”
(Cidadão)
Praia, 6 Julho de 2021
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 723, de 08 de Julho de 2021