Por: Wilson Lopes*
Como cidadão cabo-verdiano, nesta data, deveria estar orgulhoso. Orgulhoso pelo significado e elevação dos ideais daqueles que, vivenciando injustiças várias e inconformados com o rumo e/ou destino dessas ilhas e dos outros territórios subjugados pelo ideário colonial, decidiram engajar num movimento independentista com repercussão global; orgulhoso e grato por aqueles que, com bravura, tombaram no campo de batalha para que hoje eu pudesse escrever essas linhas; orgulhoso por aqueles que deixaram os seus lares e enfrentaram as dificuldades da guerrilha e do uso continuo do intelecto para o bem do nosso povo; orgulhoso pelo legado do nosso eterno Amílcar e seus companheiros.
Infelizmente, analisando a realidade socioeconómica e política do nosso país e a forma como os ideais do(s) pai(s) da nossa nação foram interpretados e/ou implementados pelos nossos dirigentes, durante esses 46 anos, sinto-me triste e inconformado.
Hoje, sem dúvida, deveria ser um dia de festa e comemoração, mas me deparo num labirinto de interrogações. Afinal, o que é a independência? Cabo Verde é, hoje, 46 anos depois, um país independente? Até que ponto os nossos líderes têm tentado efectivar o sonho dos nossos heróis? Da educação à administração pública testemunho uma réplica da Metrópole. Seria isso uma prova de que os ideais dos nossos combatentes ficaram para trás? Fico me perguntando o que é que os nossos heróis queriam ver e nos dizer nesta data. Não sei, mas acredito que queriam ver uma nova dinâmica, uma nova abordagem política, económica e social para esse arquipélago abençoado pelos deuses.
Creio que, concordariam em afirmar que hoje é um dia de (re)pensar Cabo Verde, de dar os passos para a verdadeira independência política e económica e a afirmação da nossa identidade, da nossa cultura, do nosso ser-no-mundo. Aliás, concordariam que nenhum país consegue desenvolver e se afirmar como independente se não ensinar a sua história aos seus filhos; se não criar um espírito patriótico, um amor à pátria um orgulho de onde viemos, do nosso passado e dos nossos antepassados.
Acho que ao ouvirem os discursos dos nossos dirigentes políticos comemorando a nossa independência, questionariam tais discursos. Afinal, pode-se dizer que um país é independente sabendo que o Hino é cantado na língua do colono, o ensino enaltece e prioriza a língua do colono, a história é ensinada de modo a limpar as sujeiras do colonialismo e condenar os nossos irmãos que tanto sofreram com a mesma sina no passando, não muito distante, e no presente constante? Podemos abrir a boca e dizer que o nosso país é independente sabendo que a nossa estrutura política e económica é um reflexo da (ex)Metrópole; as principais ruas têm o nome do colono e a moeda que usamos é originária do período colonial? Podemos afirmar que Cabo Verde é independente?
Afinal, o que é isso de independência?
*Mestrando em Marketing e Comunicação
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 723, de 08 de Julho de 2021