Ribeira de Corujinha é uma das zonas que se tem destacado na prática da agricultura urbana no Porto Novo. Já são 3.8 hectares de terreno distribuídos a 30 famílias que, desde 2018, têm cultivado as parcelas para o consumo próprio e para venda, numa estratégia de combate à pobreza nesta cidade de Santo Antão.
Ribeira de Corujinha já é apontada como uma referência nacional na prática da agricultura urbana.
Os cerca de quatro hectares de terrenos distribuídos desde 2018 a famílias consideradas pobres têm, conforme a Câmara Municipal, ajudado a reduzir os níveis de pobreza e assegurado, de certa forma, a segurança alimentar e nutricional das famílias.
O projecto, exclusivamente hortícola, conseguiu no primeiro ano produzir 26 toneladas, garantindo rendimento às famílias, conforme adianta Joel Barros, delegado do Ministério da Agricultura e Ambiente no Porto Novo.
Combate à pobreza e criação de espaços verdes
Nesta zona, 30 agricultores foram beneficiados com parcelas de terreno para a prática de agricultura urbana.
Alguns, abordados pelo A NAÇÃO, reafirmam a importância do programa na garantia de rendimentos para as famílias.
É o caso de Maria dos Reis que, conforme diz, apesar dos ganhos não serem altos, consegue, a partir da horta urbana, tirar algum rendimento para pagar as despesas e alimentar a família, não obstante certas pragas que interrompem algumas culturas.
João Brito, também agricultor, viu no projecto a oportunidade de retomar a prática agrícola que já mantinha na cidade. Com mais condições criadas, em 2018, João relançou-se na empreitada cultivando para o uso familiar e para abastecer o mercado local.
Avaliação satisfatória
Neste sentido, o presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Ribeira de Corujinha, João Reis, realça a importância dessa iniciativa na integração e redução da pobreza no meio urbano e na criação de espaços verdes na cidade.
Para João Reis, a avaliação é satisfatória apesar de a produção de certas culturas ter sido condicionada pelos três anos consecutivos de secas registados após o início do projecto.
“O projecto tanto promove a integração e redução da pobreza no meio urbano, uma vez que apoia a integração das famílias vítimas do êxodo rural, como permite espaços verdes na cidade para mitigar os efeitos do aquecimento global”, avança o líder associativo, destacando o custo acessível dos produtos no mercado local.
Infraestruturas hidro-agrícolas
A ideia é aproveitar os furos de água disponíveis na cidade e equipá-los. Aliás, todo o projecto de agricultura urbana, conforme avança Joel Barros, foi montado no sentido de se criar infraestrutura hidro-agrícolas com sistema de energia fotovoltaico e equipamento de furos.
O resultado, segundo a mesma fonte, tem sido “extraordinário”, com Porto Novo a mostrar a vocação agrícola que possui e novos agricultores a interessarem-se pelo projecto.
Lajedinho também com horta urbana
O caso de sucesso da Ribeira de Corujinha permitiu com que novas zonas se engajassem nas hortas urbanas.
Em Lajedinho, por exemplo, dois hectares de terreno já estão a ser cultivados desde 2019 por 20 agricultores, estando mais dois hectares disponíveis para futuramente alargar o projecto na zona.
Aqui, no primeiro ano de cultivo, conseguiu-se 18.2 toneladas de hortícolas.
Nova experiência em Ribeira de Tortolho
Uma nova zona urbana do Porto Novo está no momento a ser preparada para acolher novas hortas urbanas.
Ribeira de Tortolho já tem um furo equipado com sistema fotovoltaico e com um reservatório de cem toneladas construído.
“Porto Novo tem uma particularidade e uma vantagem pelo facto de a maioria dos terrenos serem públicos, o que facilita a implementação do projecto.
Por causa do sucesso da Ribeira de Corujinha e de Lajedinho, nesse momento temos uma demanda enorme.
Em Ribeira de Tortolho vai ser um projecto misto, já temos o dossiê pronto à espera de arrancar”, detalha Joel Barros.
O projecto de agricultura urbana é uma iniciativa do governo e que no Porto Novo tem sido apoiado pela Câmara Municipal local e pela delegação do Ministério da Agricultura e Ambiente. No momento, Porto Novo tem 5.8 hectares de terrenos destinados à agricultura urbana e beneficia 50 agricultores.
Porto Novo com aumento de espaços verdes
Nos últimos meses, a cidade do Porto Novo tem ganhado mais espaços verdes, seja por iniciativas da Câmara Municipal, seja de pessoas preocupadas com o ambiente.
A autarquia tem reabilitado jardins e canteiros, bem como plantado novas árvores nas ruas e vias recém-requalificadas no sentido de atingir a meta de cinco mil novas plantas e árvores ao longo do mandato.
A nível de iniciativas privadas, destaca-se a associação Young Talent que, para além de campanhas de plantação de árvores pela cidade, tem levado espaços verdes às escolas com o melhoramento do horto escolar através do “Green School”.
Diminuir os efeitos do aquecimento global e melhorar o aspecto paisagístico da cidade são os objetivos principais.
Vox Pop: Tem tirado proveito da horta urbana?
João Brito
Retomei a actividade agrícola aqui, na cidade, em 2018 com o projecto de agricultura urbana.
Passei muito tempo parado, mas agora com as condições criadas, nomeadamente com água para rega, decidi retomar a prática aqui na Ribeira de Corujinha.
Tenho colocado os produtos no mercado local, mas, contudo, os ganhos não são muitos, a não ser para o essencial.
Manuel Ramos
Tem sido uma boa iniciativa porque garantimos algum rendimento. Estou a cultivar esta horta há quase quatro anos.
Apesar de muitas vezes termos uma boa colheita, nomeadamente da batata comum, os ganhos não são muitos porque o preço de venda é inferior aos investimentos que fazemos.
Também algumas pragas têm atacado certas colheitas, o que dificulta. Mas gosto de cultivar, mesmo que seja para garantir o essencial.
Maria dos Reis
Temos tirado um bom proveito da horta. Cultivamos de tudo um pouco, conforme o clima.
Para além de cultivar para o uso em casa, tento também vender para garantir algum dinheiro.
Apesar do ganho não ser muito, consigo arrecadar o suficiente para as despesas da casa e pagar o custo de água.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 724, de 15 de Junho de 2021