Na cidade da Praia, entre as zonas de Pensamento e São Pedro, situa-se o bairro de Simão Ribeiro. Uma comunidade recente, surgida nos últimos vinte anos, nas encostas e ribeiras antes usadas como locais de pastorícia. Estrada, água e electricidade são algumas das reivindicações dos seus moradores que querem uma presença mais regular das autoridades na zona e dos políticos, além dos períodos de campanha eleitoral.
Problemas de acessibilidade e de habitação, passando pela falta de água e iluminação pública, são algumas dificuldades que os moradores de Simão Ribeiro consideram ser os mais gritantes.
“Nós, de Simão Ribeiro, passamos por várias dificuldades”, afirma uma moradora, quando abordada por esta reportagem.
E continua: “Não temos escolas, jardins, igrejas, centro juvenil e placa desportiva. As estradas estão degradadas, não temos acesso ao transporte público, electricidade e a água só agora começou a chegar. Muitas de nós, mulheres chefes-de-família, estamos desempregadas ou trabalhamos em negócios informais”.
Associação comunitária: uma importante aliada
Entre dificuldades e desafios, a Associação Comunitária de Simão Ribeiro (ACSR), criada há 12 anos, tem sido uma das vozes que se levanta para combater as dificuldades que assolam esta zona da periferia da Praia.
Albertino Fonseca Lopes, seu presidente, conta que, graças aos inúmeros contactos junto das autoridades, foi possível encontrar soluções para alguns dos problemas da zona e hoje aponta ganhos:
“Em 2010 fizemos um apelo à Câmara Municipal da Praia (CMP) porque Simão Ribeiro não tinha uma via de acesso, a Câmara colheu a nossa proposta e a primeira fase foi inaugurada em 2015. Em 2020 tivemos a segunda fase também com muita insistência nossa junto da CMP. Agora só falta terminar essa segunda fase”.
E, porque a luta continua, acrescenta Albertino Lopes, “vamos apostar na requalificação urbana, o que deverá permitir atrair mais meios para a comunidade, nomeadamente, a melhoria das habitações de Simão Ribeiro, áreas verdes e espaço público. É o que queremos e esperamos da Câmara Municipal”.
Falta de água e electricidade
Apesar dos ganhos, Albertino Lopes deixa a entender que os problemas em Simão Ribeiro são vários, sendo dois deles os da água e da eletricidade.
“Antigamente dependíamos do depósito de água local e não chegava para abastecer toda a população. Depois de muita insistência nossa e do empenho da empresa Águas de Santiago (AdS), ao fim de três anos muitas casas já beneficiam de água canalizada. No entanto, ainda há casas que não têm água”.
Relativamente à electricidade, diz também, “estamos a trabalhar juntamente com a Electra, e, neste momento, já entregamos com cerca de 180 pedidos de ligação para que as pessoas possam ter uma energia de qualidade e legal e evitar ao máximo o roubo de energia”.
Formação profissional para mulheres chefes-de-família
Além da água, electricidade e vias de acesso, o presidente da ACSR diz que está a investir no capital humano. Por ser uma comunidade constituída maioritariamente por mulheres, a associação procura fomentar o empreendedorismo através da formação profissional para mulheres chefes-de-família que carregam consigo uma grande responsabilidade de educar e alimentar os filhos.
Segundo Lopes, formar essas mulheres vai igualmente diminuir o desemprego e aumentar a rentabilidade das famílias de Simão Ribeiro. Como diz, “pouco a pouco, é importante incutir nas pessoas que a chave dos seus problemas está nelas próprias”.
Moradores querem maior acção da CMP
Desde a formação de Simão Ribeiro que os moradores dizem passar pelos mesmos problemas. Alguns dos nossos entrevistados acusam os políticos, em especial os responsáveis da Câmara Municipal da Praia (CMP), de só aparecerem na zona em períodos de campanha eleitoral.
A CMP é, aliás, de um modo geral, acusada de ser incapaz de acompanhar o ritmo de crescimento dos bairros informais na capital do país.
Alguns desses moradaores criticam ainda o facto de algumas obras iniciadas pela anterior equipa camarária encontrarem-se actualmente paralisadas alegadamente devido à mudança que conduziu à actual equipa chefiada por Francisco Carvalho.
“Depois que o Francisco entrou, ele visitou a comunidade uma vez, no reservatório de água, mas ainda nada foi feito. O ex-presidente, Oscar Santos, ficou de fazer as estradas, campos e parques, porém, com a saída dele, ainda estamos à espera”, afirma uma moradora.
“A eletricidade foi colocada apenas na época de campanha, altura em que colocaram lâmpadas nos postes de energia elétrica, mas ainda não colocaram nas casas”, afirma um outro morador, igualmente, descrente com a forma como os pobres são tratados pelos políticos.
Para ter respostas e ver quais os planos e os próximos passos para o bairro de Simão Ribeiro, A NAÇÃO tentou em vão contactar a CMP.
Vox Pop: O que mais falta em Simão Ribeiro?
Guilhermina Barros, 48 anos, moradora há 8 anos, professora
– As dificuldades de Simão Ribeiro são muitas. Destaco o desemprego, a falta de infraestruturas, como um centro multiuso, placa desportiva, arruamento e o calcetamento das ruas.
Neste momento, estamos com problemas de construções clandestinas e a Câmara Municipal da Prais tem fechado os olhos a isso. As casas vão crescendo desordenadas, aumentando a pobreza e a falta de saneamento básico.
Na minha opinião, a prioridade da CMP deve ser no sentido de tentar resolver os problemas de saneamento e fiscalizar as construções clandestinas, visto que a zona corre o risco de, brevemente, virar uma zona degradada e desordenada.
Também é preciso reabilitar a única estrada que existe e que já está danificada em algumas partes porque não se fez a devida manutenção.
Cintia de Brito, 21 anos, moradora há quase 19 anos, estudante
– A nossa comunidade é bastante jovem, porém, carecemos de um centro jovem. Não temos parques para as crianças e idosos, não temos transporte público. Também não temos um campo desportivo.
Precisamos de uma maior aproximação do Governo aos jovens da localidade. É preciso apostar na educação, criando uma escola no bairro, porque as crianças daqui deslocam-se até Pensamento e São Pedro para assistirem às aulas, o que é perigoso devido à distância.
Precisamos de uma rede de telecomunicações para podermos ter acesso à internet.
Susana Moreno, moradora há 2 anos, dona de casa
– São muitos os problemas de Simão Ribeiro, mas o maior é a falta de ligação eléctrica e de água. No meu caso não tenho acesso a nenhum dos dois e ainda dependo do reservatório de água que, muitas vezes, não chega para toda a comunidade. A Associação Comunitária tem lutado, há muito, por esses bens, mas ainda não conseguiu para todos.
Precisamos de estradas, campos e escolas. Pedimos pelo menos uma capela para assistir à missa, porque celebramos a missa numa garagem pequena, onde também realizamos outros eventos.
É de realçar que não temos acesso ao transporte público e, por isso, somos obrigados a andar uma distância considerável até chegar à comunidade.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 723, de 08 de Julho de 2021