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Economia

Retoma do Turismo: Resort Group quer ajuda de 10 milhões de euros do Governo e passaporte diplomático para Rob Jarret

O The Resort Group (TRG) quer do Estado cabo-verdiano uma ajuda de 10 milhões de euros para poder reabrir os seus hotéis na ilha do Sal. Solicita, igualmente, um passaporte diplomático para o presidente do grupo, Rob Jarrett, para influenciar o Reino Unido a retirar Cabo Verde da sua “lista vermelha”.

Rob Jarrett

O TRG aponta Setembro para a reabertura dos seus resorts na ilha do Sal, mas, para isso, espera contar com o apoio financeiro do Governo de Cabo Verde. Para já, solicita 10 milhões de euros para pagar dívidas a fornecedores e reabastecer os hotéis.

Numa carta – “privada e confidencial” – endereçada ao primeiro-ministro e ao vice-primeiro-ministro, que A NAÇÃO teve acesso, começa por dizer que, “como maior investidor estrangeiro em Cabo Verde, a TRG pretende continuar a assumir essa posição por um longo prazo”.

Prioridade “número um”

O TRG diz também que já utilizou a sua influência junto do Melia e da TUI AG “a fim de iniciar o turismo rapidamente”, mas, para outras acções, espera que o Governo lhe satisfaça a prioridade “número um”, que é disponibilização de uma ajuda financeira de 10 milhões de euros.

Conforme tal prioridade “número um”, referida na missiva assinada por Rob Jarrett, “são necessários 10 milhões de euros para que a TRG reabra os seus Resorts, tendo em consideração que as primeiras receitas dos operadores turísticos serão pagas em 90 dias.

Os prazos para recepção de pagamentos são importantes para a TRG, para que esta possa ter um fluxo de caixa, dadas as datas de reabertura previstas para Setembro deste ano, pagamentos de fornecedores e outros pagamentos necessários para o reinício do turismo”.

O TRG faz questão de lembrar que já contribuiu com 52.335.528 euros para o Estado cabo-verdiano entre 2011 e 2019, “de acordo com estatísticas oficiais”.

Com os referidos 10 milhões de euros, o TRG reserva 1,5 milhões de euros para pagar à Electra; 2,5 milhões para fornecimentos alimentares; 1,2 milhões a outros fornecedores locais; 1,2 milhões para fornecimento de bebidas; 2,5 milhões para o pagamento do pessoal, 0,5 milhões para materiais covid-19 e 0,6 milhões de euros para a manutenção dos resorts.

O TRG solicitou créditos à banca nacional no valor de 6,8 milhões de euros, sendo 5 milhões junto da Pro Empresa, desde Março passado. Conforme a referida carta, “o TRG tem estado à espera de apoio há mais de 6 meses desde que apresentou o seu pedido de alívio da linha covid”.

Estatuto diplomático

Uma outra prioridade descrita na missiva, é a atribuição do estatuto diplomático ao presidente executivo do TRG, Robert Jarret, para que este possa influenciar o reinício do turismo em Cabo Verde.

Tal influenciação passaria por “influenciar” o governo do Reino Unido “a retirar Cabo Verde da sua ‘Lista Vermelha’; penetrar no mercado britânico do turismo o mais rapidamente possível; usar os contactos influentes em todo o mercado de viagens do Reino Unido e do Governo do Reino Unido para dar o pontapé de saída ao turismo; dar credibilidade que é desesperadamente necessária para que o turismo recomece e, portanto, o PIB de Cabo Verde seja aumentado, proporcionando o aumento do emprego em Cabo Verde”.

A carta sublinha que os custos de uma tal diplomacia “serão totalmente por conta do TRG”.

O TRG diz que a sugestão de atribuir um passaporte diplomático a Rob Jarrett foi feita pelo então primeiro-ministro, José Maria Neves, e, mais tarde, corroborada pelo vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, para que ele, Jarret, possa representar Cabo Verde nestes tempos difíceis.

Vacinação para ilha do Sal

Outra prioridade referida na carta está relacionada com a vacinação, com o TRG a disponibilizar a sua logística para o efeito.
Oferece o Dunas Beach Resort como centro de vacinação para a Ilha do Sal e promete cuidar das 12 equipas encarregadas do programa de vacinação no Sal, para incluir alojamento e transporte de refeições.

“Podemos assegurar que não haja contaminação cruzada através de entradas e saídas separadas das nossas instalações com o apoio das nossas equipas de segurança e, de acordo com o número de vacinas previstas, podemos adaptar o nosso espaço para criar tanta flexibilidade que possa ser necessária para que o programa de vacinação
no Sal seja eficiente e bem-sucedido”, realça.

Justificação do pedido de apoio financeiro

Na sequência do pedido de apoio financeiro, o TRG lembrou ao Governo que “é o maior investidor estrangeiro em Cabo Verde”, tendo investido, desde 2008, nas ilhas do Sal, Boa Vista e Santiago, o total de 263 milhões de
euros.

“Além disso, existem custos centrais que incluem grandes quantias de comissão, normalmente um terço do valor arrecadado no Reino Unido, além de pagamentos de salários, IVA, comida e bebida para consumo do cliente, taxas do Melia Hotels International e outros valores a pagar para gerar fundos, incluindo pagamentos de rendimento de pré-abertura a clientes para realizar transferências de pensões usadas para construir no Sal. Com todos esses custos considerados, o investimento total da TRG é próximo a um bilhão de euros até o momento”, lembra.

O grupo recorda ainda que o surto da covid-19 “causou efeitos negativos” em todo o mundo e em vários níveis, com realce para o sector da economia.

“A TRG é totalmente dependente do turismo e não ficou imune à crise financeira. Todos os Resorts da TRG em Cabo Verde estão encerrados e sem clientes desde abril de 2020”, assume.

O TRG diz que, apesar da crise, continua a empregar mais de 800 funcionários, “com receita zero ou alívio bancário”. Realça, entretanto, que foi informado pela TUI AG e Melia Hotels International que o turismo pode ser retomado em Agosto próximo no mercado europeu, com o sector do Reino Unido a partir de Setembro/Outubro.

“Para nos prepararmos para a reabertura, agora iminente, o TRG necessita de apoio financeiro do Estado de Cabo Verde.
É absolutamente essencial que um empréstimo de aproximadamente 10 milhões de euros seja imediatamente exigido”, sublinha o documento.

Conforme o TRG, os fundos pretendidos “são necessários para nos mobilizarmos, o pool de empregos, fornecer treinamento, gerar os suprimentos necessários para os nossos hóspedes e nos alinharmos com o Governo”.

“A nossa análise do que é necessário para que o TRG comece a gerar turismo em Cabo Verde exige um prazo. Estamos aqui para o longo prazo, mas temos necessidades financeiras de curto prazo. Devido ao transporte,
logística e relacionamentos difíceis, exigimos uma data de financiamento específica que sugerimos não vai além do final de julho de 2021 para nos dar tempo para reiniciar nossos negócios. Uma data para assistência nos permitiria fazer um planeamento financeiro e ser muito apreciados” realça a carta.

Contudo, o TRG faz questão de lembrar que está sob pressão, devido à influência de terceiros, para obter uma resposta em relação ao pedido de 10 milhões de euros.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 723, de 08 de Julho de 2021)

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