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Política

São Vicente: Ganhos e recuos em 46 anos da Independência

Para Alexandre Novais e Salvador Mascarenhas São Vicente alcançou muitas conquistas desde a independência de Cabo Verde, mas desafios ainda persistem, entre os quais o da regionalização e uma distribuição mais justa da riqueza nacional.

 Cabo Verde celebra hoje, 5 de Julho, 46 anos da sua independência, um aniversário perturbado, pelo segundo ano consecutivo, pela pandemia da covid-19. No Mindelo, São Vicente, este ano a comemoração é mais discreta, sem atos de rua, como aconteceu no passado recente.

Na ótica do empresário Alexandre Novais, atrelado à independência, o país ganhou a liberdade para existir como uma nação e a oportunidade de ser dono do próprio destino.

“Esta é que é a essência da Independência, ou seja, assumir a responsabilidade de nos desenvolver como nação, como povo e como sociedade. E, para qualquer cabo-verdiano, a independência é, sem dúvida, um marco importantíssimo e não podia ser de outra forma”, pontuou o empresário.

Questionado se nesses 46 anos a ilha sofreu um recuo, como defendem algumas vozes, Alexandre Novais diz que não houve “qualquer retrocesso que seja” entre o dia 5 de julho de 1975 e até este momento, mas, contudo, lamenta, São Vicente tão-pouco “está aonde já deveria estar”.

“Penso que com uma sociedade mais pragmática, solidária e inclusiva, não só do ponto de vista social, mas também político e com um sistema mais regionalista, poderíamos ter dado um salto muito maior e não ter ficado bloqueados”.

Para o empresário, o país precisa de uma reforma profunda do Estado para que todas as ilhas e todos os cabo-verdianos possam dar o seu “verdadeiro contributo” para o desenvolvimento do arquipélago.

Também Salvador Mascarenhas, do movimento Sokols 2017, houve em São Vicente uma “evolução enorme” em vários domínios advenientes da independência nacional. Cabo Verde, como defende, tornou-se num país “com mil e uma possibilidades de fazer mais e melhor”. No entanto, entende também que quanto à concentração dos poderes, o Estado piorou “e muito”.

“No tempo colonial tínhamos muito menos centralismo e havia uma distribuição mais equilibrada entre os dois polos [Mindelo e Praia]. Não era o mais correto, pois também era centralismo, mas agora é num só polo, na capital. E, neste aspeto, estamos cada vez piores”, avalia.

Mascarenhas acrescenta, ainda, que logo depois da independência houve um período, “infelizmente muito curto”, de alguma distribuição igualitária dos poderes e lembra, inclusive, que São Vicente chegou a receber sessões da Assembleia Nacional.

Segundo o nosso entrevistado, a saúde e a educação foram as áreas que o país se destacou, apresentado “melhorias imensas”, contudo, não obstante essa evolução, Mascarenhas alerta par aquilo que classifica de “estagnação”. Principalmente no sector da saúde durante os últimos anos.

“A título de exemplo, hoje em dia um equipamento de TAC, um instrumento básico de análise em qualquer parte do mundo, em São Vicente e em Cabo Verde é um luxo”, destaca.

Outras áreas que são alvo de alguma crítica por parte de Salvador Mascarenhas são os transportes e a pesca. A falta de mais ligações aéreas internacionais para São Vicente, a mobilidade entre as ilhas e a inexistência de uma frota de pesca robusta, representam um corte nas atividades económicas da ilha e do país na totalidade. Daí defender uma mudança na forma como Cabo Verde vem sendo governado, a partir da capital, cidade da Praia.

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