A pandemia da covid-19 corroeu as instituições políticas e judiciais de Cabo Verde e deixou o país exposto ao crime organizado e ao branqueamento de capitais. Esta é uma das conclusões da PANGEA-RISK, serviço de inteligência especializada que fornece análises e previsões sobre riscos políticos, de segurança e económicos em África e no Oriente Médio.
Segundo o relatório da PANGEA-RISK, publicado na semana passada e ao qual A NAÇÃO teve acesso, a pior crise económica em 45 anos deixou este arquipélago mais exposto que nunca ao crime organizado e ao branqueamento de capitais.
Este facto, por si preocupante, está a minar a estabilidade política do país e a erodir a sua independência judicial. “Com base numa nova investigação e avaliação de risco da PANGEA-RISK, as classificações favoráveis do arquipélago nos índices globais não correspondem mais à situação no terreno”, enfatiza o documento.
“Embora o sistema político de Cabo Verde já tenha alcançado elogios de Mo Ibrahim, as instituições do país estão cada vez mais em risco de serem sequestradas pelo tráfico organizado de drogas, lavagem de dinheiro e outras atividades do crime organizado”, realça a mesma fonte.
Vulnerabilidades apontadas
Aquele organismo lembra que Cabo Verde sofreu uma das mais profundas contrações económicas em África no ano passado e actualmente tem o terceiro maior peso da dívida pública bruta em proporção da sua produção económica.
“Sem perspectivas de recuperação económica, as instituições locais do Estado estão sem financiamento e vulneráveis à intimidação, extorsão e corrupção de elementos criminosos que incluem a máfia russa, cartéis de drogas latino-americanos e lavadores de dinheiro angolanos. A realidade no terreno, portanto, não corresponde às classificações favoráveis do país nos índices globais”.
A PANGEA-RISK aprofunda-se um pouco mais nas causas do risco político em Cabo Verde e avalia que a estabilidade política e a legitimidade judicial do país estão cada vez mais ameaçadas.
Pelo adiantado da hora, não nos foi possível colher uma reacção das autoridades cabo-verdianas sobre tão sombria apreciação de Cabo Verde.
Morte lenta da UIF
Entretanto, a apreciação da PANGEA-RISK sobre Cabo Verde parece vir ao encontro da ideia instalada de um certo descaso das autoridades cabo-verdianas no que toca à prevenção de lavagem de capitais e outras formas de crime organizado.
Um exemplo disso são os sinais de alegado enfraquecimento da Unidade de Informação Financeira (UIF), que tem vindo a perder alguns dos seus elementos.
“Nos dias de hoje a UIF é um mero ‘corpo presente’, o que é motivo de grande preocupação tendo em conta o seu papel crucial e insubstituível na luta contra o flagelo da lavagem de capitais e financiamento o terrorismo”, confidenciou uma fonte deste jornal tempos atrás.
Esta considera, ainda, que a “morte lenta” da UIF, nos últimos anos, tem tido impacto directo na investigação de crimes de lavagem de capitais e financiamento do terrorismo em Cabo Verde.
Além disso, há já algum tempo que este arquipélago não faz qualquer operação de larga escala contra o tráfico de droga, facto este notado pelo jornal Expresso (Portugal), no ano passado.
Segundo este semanário, que cita uma fonte policial cabo-verdiana, desde Agosto de 2019, que Cabo Verde deixou de dar cumprimento às informações transmitidas pelos investigadores
do MAOC (sigla inglesa do Centro de Análises de Operações Marítimas).
PANGEA-RISK- Serviço de inteligência
A PANGEA-RISK é um serviço de inteligência especializada que fornece análises e previsões sobre riscos políticos, de segurança e económicos na África e no Oriente Médio.
Foi fundado em 2015 com a designação de EXX Africa, rebatizada como PANGEA-RISK em 2020, e, desde então, tornou-se uma empresa de consultoria e assessoria de risco líder com uma ampla rede de clientes que vão desde bancos, comerciantes, empresas e seguradoras a governos, contra terrorismo e forças militares em todo o mundo.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 721, de 24 de Junho de 2021)