A comunidade de Fontes Almeida, interior do concelho de São Domingos, recebeu, este sábado, 19, acitividades alusivas ao Dia da Criança Africana, mas também sobre o Dia Internacional Contra o Trabalho Infantil. A escolha, justificou-se pelo facto de ser uma comunidade com um nível considerável de abandono escolar, e consequentemente de crianças a trabalhar.
“Este evento é o despertar da consciência de que o lugar da criança na escola. E essa criança merece ser acompanhada, primeiro pela família, depois pela escola e na comunicada”, defendeu o sociólogo Henrique Varela, para quem é a partir da escola que qualquer sociedade se transforma.
Isso significa, acrescenta, que o investimento que se deve fazer agora é o investimento no estudo. “O estudo que leva a aprendizagem e a aprendizagem muda tudo. O sujeito com conhecimento consegue seguramente denunciar eventuais práticas, por exemplo, do trabalho infantil e vai evitar também o abandono escolar”, sustentou.
Segundo o presidente da Câmara Municipal de São Domingos, Isaías Varela, apesar de registar alguns casos, não são ainda números muito preocupantes, mas que valem a adoção de algumas medidas, no sentido de consciencializar tanto a comunidade educativa, como, os pais e parceiros, para juntos pensarem em políticas e ações concretas para debelar a situação.
“É uma comunidade com uma média de 1200 pessoas, onde 50,4% dos agregados familiares são chefiados por mulheres”, adiantou, garantindo que esta localidade vai merecer uma atenção especial da autarquia.
Isaías Varela garantiu ainda que Fontes Almeida está na linha das prioridades da câmara, tendo em conta outras necessidades, como as vias de acesso, hoje uma das maiores dificuldades da região, o desemprego e o abastecimento de água.
“Tudo isso também acaba por evitar que a criança faça trabalho infantil. Quando tem água em casa, ela consequentemente terá mais tempo para estudar”, explicou.
Via de acesso degradada
Uma das grandes reivindicações de Fontes Almeida no momento é a requalificação da estrada de acesso a partir de Ribeirão Chiqueiro, danificada, segundo os moradores, pelos camiões de uma empresa chinesa que explora a extração de inertes na região.
Por causa das “péssimas condições da via de acesso”, referiu o presidente, muitos alunos não concluíram o ensino secundário. Por outro lado, acrescentou, os que concluem, não voltam para a localidade, deixando de contribuir com os seus conhecimentos e dinâmicas para o desenvolvimento da sua comunidade.
Esta carência foi também mencionada pela presidente da associação comunitária local, Zuleica Silveira, segundo a qual as condições da estrada têm sido um grande constrangimento para a localidade.
A escassez de água foi apontada como outra carência, assim como problemas na rede de comunicação, já que, segundo diz, apesar de uma intervenção feita recentemente pela CVTelecom, zonas altas que antes não tinham problemas de rede passaram a sofrer com interferências.
Segundo esta associativista, trata-se de uma comunidade muito jovem, mas com uma alta taxa de desemprego, o que leva os jovens a recorrer a serviços informais, na cidade da Praia.
As comemorações do Dia Internacional Contra o Trabalho Infantil tiveram lugar na escola do ensino básico local, e contou com a presença de representantes de várias instituições, como o ICCA, o Acarinhar, a UNICEF, a Embaixada das Nações Unidas em Cabo Verde, entre outros.