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Economia

Jovem luta para retomar apicultura em Santa Cruz

Apesar da seca prolongada, João Gomes Lomba vem lutando para implementar a apicultura no município de Santa Cruz, ilha de Santiago, rico em flora apícola. O projecto tem sido fomentado pela associação italiana Il Vercellese verso Santa Cruz com o intuito de resgatar uma actividade que teve lugar em Cabo Verde na década de 90.

João Gomes Lomba é um dos jovens que há dois anos trabalha na área, hoje com cerca de nove colmeias formadas.

Trata-se, segundo contou ao A NAÇÃO, de um processo longo, que exige dedicação e investimento, mas que acredita em médio e longo prazo.

“Santa Cruz é um município rico em termos de agricultura. Isso automaticamente faz com que tenha potencial para a apicultura, pois uma coisa não funciona sem a outra. Estamos perante uma das maiores áreas verdes do país, principalmente no que diz respeito à flora apícola (planta que produz néctar)”, explicou, apontando as grandes plantações de bananeira, coqueiros e outras espécies fruteiras.

Secas prolongadas

Entretanto, ressalvou, as secas prolongadas fazem com o processo seja um pouco mais demorado, já que as abelhas alimentam e produzem consoante o que é recolhido da natureza.

Em épocas onde os alimentos naturais estão mais escassos, o apicultor recorre a suplementos alimentares, em forma de açúcar pasteurizado especialmente para o efeito ou de água de uma solução de açúcar feita em casa (1kg de açúcar para um litro de água).

A par dessa solução, o mel que é produzido ainda é aproveitado para a própria alimentação das colmeias.

“Por agora não há produção de mel para o comércio, pois ainda estamos na fase de fortalecer as famílias. Isso significa que o mel produzido é deixado com as abelhas para o seu próprio consumo”, explica o apicultor.

Processo de produção de mel e outros derivados

Para se fazer apicultura o primeiro passo é formar as famílias ou colmeias. Isto passa pela captura de famílias na
vida selvagem.

“Em Cabo Verde todas as abelhas ainda são selvagens, a viver no meio ambiente, diferente, por exemplo, da Europa, onde as famílias já estão cativas nas mãos dos apicultores.
Aqui está tudo ao contrário, então estamos a começar um processo que não é fácil, para formar famílias saudáveis e fortes”, explica.

Neste momento, o apicultor mantém nove famílias povoadas, com uma média de 40 mil abelhas cada uma. Um processo que, segundo diz, depende de muito trabalho, esforço, dedicação, estudo e investimento.

Depois de formadas as colmeias, com abelhas fortes e saudáveis, é hora de avançar para o processo de produção de mel e outros derivados. Normalmente, diz João Lomba, as pessoas conhecem a apicultura apenas pelo mel de abelha, mas há outras potencialidades igualmente importantes.

Própolis, geleia real e cera

Para além do mel, extrai-se o própolis, resina vegetal encontrada em várias plantas, cuja função na colmeia é protegê-la contra parasitas, bactérias e outros agentes contaminantes.

Para os humanos, é uma substância medicinal utilizada para combater fungos e bactérias e problemas de pele e sobre a qual o apicultor também tem um projecto em desenvolvimento voltado para a produção de medicamentos naturais.

A geleia real, outro derivado, é fabricada pela própria abelha e serve de alimento para as crias, nos primeiros dias de vida, e para a abelha rainha, por toda a vida, pois precisa de energia para continuar reproduzindo e perpetuando a colmeia.

Extrai-se ainda a cera, substância recolhida nas plantas para a formação de favos para o armazenamento do mel e matéria prima para a produção de medicamentos e cosméticos.

A própria picada da abelha, diz o apicultor, tem vantagens para a saúde, salvo em pessoas que são alérgicas.

Como funciona uma colmeia?

Numa colmeia existem três tipos de abelhas: a abelha rainha, os machos zangões e as abelhas operárias.

A abelha rainha é uma fêmea fértil, com a capacidade de pôr centenas de ovos diariamente.

Os zangões, em número reduzido, são as únicas abelhas macho e têm como única função a procriação, morrendo após a fecundação da rainha.

As abelhas operárias constituem a quase totalidade das abelhas de uma colmeia, tendo a função de criar e alimentar as larvas, e claro, recolher o pólen e produzir os favos de cera e o mel. São as únicas abelhas com estruturas corporais (patas especializadas e aparelho bucal) apropriadas para recolher o pólen e o néctar das flores. Logo, são as únicas abelhas que realizam estas funções.

Os zangões fecundam as abelhas rainha, que põem milhares de ovos que irão transformar-se em larvas, sendo alimentados com geleia real pelas abelhas operárias mais jovens.

As abelhas operárias saem para recolher o pólen das flores. Este pólen, devido à ação de uma enzima no corpo da abelha, transforma-se em mel, que é depois depositado nos favos.
Este mel é guardado para a alimentação diária da colônia de abelhas, mas também, como reserva para o inverno.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 719, de 10 de Junho de 2021

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