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Sociedade

Biosfera pretende suspender atividades na Reserva Integral do Ilhéu Raso

A Associação para a Defesa do Meio Ambiente em Cabo Verde, Biosfera, pretende suspender todas as suas actividades de conservação/pesquisa da biodiversidade na Reserva Integral do Ilhéu Raso, a partir de 15 de Junho.

A informação foi avançada na última sexta-feira (4), através das redes sociais da associação. Segundo esta fonte, trata-se de uma medida que pretende salvaguardar a vida das suas equipas.

“Embora nos deixe tristes e desmotivados, após 16 anos de trabalho ininterrupto para assegurar a conservação da fauna do ilhéu Raso e evitar a captura/abate ilegal de aves marinhas e de outras espécies, não temos outra escolha, correndo o risco de pôr em perigo a vida das nossas equipas”, lê-se na publicação. O Ilhéu Raso, segundo a Biosfera, é especificamente considerado como um dos pontos  mais importantes do país em termos de biodiversidade, riqueza e abundância de vida selvagem,  e por isso começou a ter um estatuto de conservação.

“No entanto, ao longo dos anos, nenhum governo conseguiu aprovar formalmente e oficialmente um plano de gestão desta reserva e os recursos naturais continuaram a ser  impiedosamente delapidados por caçadores furtivos sem qualquer intervenção para impedir a  pilhagem”.

Em 2006, uma ação conjunta entre a ONG Biosfera e vários parceiros internacionais e  nacionais ajudou a pôr fim à captura ilegal e declínio da Calonectris edwardsii, uma ave  marinha endémica de Cabo Verde e considerada ameaçada.

Conforme a Biosfera, após anos de esforços de conservação, esta espécie está a mostrar uma notável recuperação  populacional juntamente com as outras seis espécies de aves marinhas de importância  internacional que nidificam no Ilhéu Raso.

Durante os últimos 15 anos, muitos parceiros financeiros, técnicos e científicos  acompanharam este processo de proteção e deram à Biosfera a sua confiança e empenho.

Entretanto, apesar dos esforços feitos, a Biosfera dá conta de uma certa ganância por parte de grupos de jovens, que encorajam a depredação insustentável e ilegal dos recursos marinhos na área Raso, colocando em risco o equilíbrio extremamente vulnerável  do ecossistema.

“Estes grupos de jovens, oriundos de diferentes ilhas (Santo Antão, São Nicolau e São Vicente)  são particularmente agressivos, ameaçadores e não respeitam os recursos como fazem os  pescadores ansiosos por continuar a sua actividade no futuro. Biosfera tem alertado  repetidamente as autoridades para estas infrações e entregou no passado recente uma abaixo assinado da parte dos pescadores artesanais que operam na zona, rogando às autoridades para  porem cobro a situação”, avança.

Face a esta situação, a Biosfera aponta como uma das soluções possíveis a desmobilização dos pescadores do ilhéu de Raso e atraí-los para a ilha vizinha de Santa Luzia.

O Ministério da Economia Marítima solicitou em 2019 que a Biosfera, presente quase  semanalmente na região, que produzisse reportagens fotográficas sobre as atividades de  pesca ilegal ocorridas no Ilhéu, e apesar da apresentação de dezenas de imagens às autoridades, diz a Biosfera que os predadores continuam sem se deixarem desencorajar, todos os dias, a trazer  infortúnios e a enfraquecer a biodiversidade do Raso.

“Nos últimos dois anos, estes mesmos grupos de jovens caçadores furtivos, animados por uma  crescente animosidade em relação à Biosfera, têm vindo a fazer ameaças que têm vindo a aumentar de tom, sem que as  autoridades façam nada para proteger uma organização da sociedade civil, reconhecida como  sendo de utilidade pública e tendo obtido numerosos reconhecimentos nacionais e  Internacionais”.

A Biosfera diz que já fez denúncias de todos as formas possíveis, mas as autoridades continuam  acomodadas enquanto sua equipa sente-se desamparada e claramente ameaçada no seu trabalho diário de proteção  deste importante património natural.

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