“Sanpabadio” é o segundo livro de Adolfo Lopes Varela, sob manto de N’gosi Nelly. A obra está precisamente a ser lançada na tarde deste sábado,29, na Escola Secundária do Tarrafal de Santiago.
A obra que quer quebrar barreiras etárias e linguísticas, é resultado de um projeto que pretende promover a tradição oral das ilhas de Cabo Verde.
Com a chancela de Mangui Editora, o livro tenciona juntar todas as variantes e variedades da língua crioula das ilhas de Barlavento e Sotavento, em específico das ilhas de Santo Antão, São Vicente e Santiago.
“Sanpabadio” é resultado de uma grande pesquisa de terreno, na variante de Barlavento e de Sotavento, exercendo a função de linguista e a de preservador da tradição oral das ilhas. Um livro de inclusão linguística e geográfica, concebido com os pés bem fincados na cultura tradicional cabo-verdiana”, diz uma nota de imprensa.
Entre as 50 páginas desta edição estão escritos 60 poemas em língua cabo-verdiana que escondem os segredos das “nossas variedades dialetais”, baseada na “mulher, o feminino, amor lírico, emigração, identidades na diáspora, exploração em contrato para as roças de São Tomé, música, apologia da mulher cabo-verdiana”.
A obra é uma alusão clara à união dos povos das ilhas bem como um exemplo de que o ALUPEC pode ser escrito em qualquer variante, tendo como pano de fundo a nossa cultura e figuras emblemáticas da nossa história, Nho Anbroze e Nha da Bega.
Em entrevista ao A Nação, a apresentadora do livro, a professora universitária, Zita Vieira, declara ser uma iniciativa “muito rica”, envolver numa obra duas variantes da língua.
“Existem particularidades no nosso crioulo de Cabo Verde que faz com que a nossa língua seja ainda mais rica, dinâmica e versátil! E quanto mais rápido reconhecermos essas particularidades, mais rápido daremos valor à nossa língua materna”, afirma Zita Vieira.
Recolha e Entrega de livros
O livro vai estar entre os livros a serem entregues à Escola Secundária e à Biblioteca do Tarrafal. Esta campanha, de recolha de livros, é fruto de uma parceria entre Mangui Editora e a English Language Learners (ELL-CV), após constatarem carência de livros atuais na biblioteca municipal e na Escola Secundária do Tarrafal. Além de obras literárias também vão ser entregues livros de diferentes temas.
Devido à quantidade e qualidade de livros recolhidos durante a campanha, os mentores deste projeto decidiram beneficiar outras ilhas, tendo como prioridade a ilha do Maio.
N’gosi Nelly
Questionado sobre o atípico pseudónimo, Adolfo Varela explica: “o meu nome artístico surgiu devido a uma grande influência da poetisa Ineida Nelly, e também da escritora e dramaturga nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, e assim optei por fundir as minhas maiores referências em um nome só N’gosi Nelly”.
N’gosi Nelly, de nome próprio Adolfo Lopes Varela, é um jovem de 28 anos residente na cidade de Shanghai, China. Apesar de ter nascido em Lisboa, Portugal, N’gosi Nelly é filho de pais cabo-verdianos, tendo consigo uma parte de Cabo Verde.
Um poeta e escritor apaixonado pelas variantes do crioulo, N’gosi Nelly realizou várias pesquisas sobre Cabo Verde e a sua história e cultura, porém não pára por aí.
Considerando-se um aventureiro nato, o escritor já viajou por mais de 15 países no qual destaca: Vietnam, Cambodia e Tailândia.
N’gosi Nelly sonha com a oficialização da língua materna e realça que foi um dos subscritores de uma petição entregue ao Presidente da República, para a mudança e definição de uma política linguística para Cabo Verde.
Mangui Editora
Nascida em julho do ano passado dentro do cenário pandêmico, a Mangui Editora era composta por um grupo de jovens escritores de debates online que promoviam campanhas solidárias para ajudar artistas afetados pela crise provocada pela Covid-19.
Mangui Editora é tida como uma representação da dispersão da diáspora cabo-verdiana “visto que os seus co-fundadores se encontram fora e em diferentes países: Portugal, Reino Unido e China”, conforme explica N’gosi Nelly.
Para os fundadores o nome Mangui é uma metáfora que sugere diferentes interpretações.
“Mangui para nós é um símbolo de resistência e persistência em querermos lançar as nossas obras literárias e através da sua semente vai gerar outras mangas, no nosso caso queremos impulsionar o aparecimento de novos escritores, e, por último, um tributo à cidade de um dos fundadores, Tarrafal de Santiago”, esclarece.
Sampabadiu é o primeiro livro a dar à estampa, com a chancela desta jovem editora, porém há projetos ainda engavetados de outros dois autores, que também são cofundadores da Mangui Editora.