Maísa Fortes, 39 anos, diz-se orgulhosa de ser líder e de fazer parte do grupo de mulheres calceteiras, “Amdjer na Obra”, que actua na ilha de São Vicente. Embora ainda não seja uma profissão com muitas mulheres no país, é a que lhe permite levar o sustento aos cinco filhos e à mãe que vive com ela.
A residente em Alto Bomba, em São Vicente, Maísa Fortes, contou ao A NAÇÃO que trabalha desde a adolescência como vendedora ambulante. Vendeu peixe, legumes, frutas e verduras e roupas nas ruas do Mindelo. Mãe solteira de cinco filhos, é com o fruto do seu trabalho que sustenta a família.
No entanto, para driblar o desemprego procurou a capacitação que surgiu quando as calceteiras do Carriçal de São Nicolau ministraram uma formação para um grupo de dez mulheres do Alto Bomba, em 2019. Grupo do qual fazia parte a Maísa Fortes, tida neste momento como a sua líder.
“O calcetamento começou como uma experiência quando eu e outras mulheres do bairro recebemos uma formação ministrada pelas calceteiras do Carriçal. Depois tornou-se uma necessidade pois necessitávamos trabalhar. Estamos a trabalhar nesta área desde Novembro”, explica a entrevistada.
“Amdjer na Obra”
O grupo chama-se “Amdjer na Obra” e surgiu através do projecto Outros Bairros, do Ministério das Infra-estruturas, Ordenamento do Território e Habitação, que pretende intervir nos subúrbios do país. O plano é contribuir para transformá-los, através da reabilitação, revitalização e acessibilidades.
Hoje, como calceteira profissional e mãe solteira consegue o sustento dos cinco filhos e da própria mãe, que vive com ela. Aliás, o apoio da família tem sido fundamental “desde o início”, pois eles sabem das “lutas” travadas pela progenitora.
“Os meus filhos sempre me apoiaram, porque sabem a mãe que têm”, destacou.
Conforme esta mindelense, o dia de trabalho começa às 7 horas e termina por volta das 14 ou 15 horas, consoante a metragem colocada, ou seja, o salário é calculado com base no número de metros calcetados num dia, que em média é cerca de 10 metros por dia.
O grupo Amdjer na Obra já deixou a sua marca em alguns pontos de São Vicente, como o calcetamento no Monte Sossego, a obra de requalificação da Baía das Gatas, agora em Alto Bomba e já se encetaram contactos para trabalhos na zona Calhau.
“Sinto uma satisfação imensa quando passo numas das localidades e vejo o nosso trabalho. Além disso, as críticas são muito boas e naturalmente que me sinto muito orgulhosa do trabalho feito por mim e pelas minhas colegas”, acrescenta Fortes.
Nem tudo são rosas
Maísa confessa que nem tudo rosas, pois ainda persiste algum preconceito no seu meio laboral, pelo facto de serem mulheres.
“Ainda há uma certa discriminação por parte de alguns homens. Talvez porque pensam que vamos tomar-lhes o trabalho”, salientou.
Mesmo assim, continua motivada em seguir a trabalhar diariamente, assim como as suas colegas, e encoraja outras mulheres a seguirem os seus passos.
“Não devem desistir, pois, inicialmente encontram muitas dificuldades neste tipo de trabalho. Muitas pessoas dizem que uma mulher não pode fazer este ofício e nós, provámos que não só somos capazes como o nosso trabalho tem muita qualidade”.
Questionada sobre o que as mulheres dizem sobre o facto de serem calceteiras, Maísa Fortes, explica que algumas afirmam ser um trabalho difícil, porém, outras mostram interesse em aprender.
É neste sentido que o grupo «Amdjer na Obra” pensa repassar o conhecimento adquirido aos “interessados e interessadas” que queiram aprender o ofício, com cursos práticos em calcetamento.
Futuramente o grupo liderado por esta jovem já pensa, igualmente, em empreender e criar a sua própria empresa de prestação de serviços na área do calcetamento.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 716, de 20 de Maio de 2021)