Em um ano e meio, após a instalação da máquina de trituração de vidro na comunidade de Rincão, em Santa Catarina, os primeiros ganhos já se fazem sentir. A mudança no comportamento da população local, em relação ao lixo, e a consequente preservação do meio ambiente é um dos maiores ganhos do projecto Raiz Azul, até agora.
O impacto visual da reciclagem de vidro, em Rincão, para a produção de areia, é já visível nessa localidade de Santa Catarina. Centenas, para não dizer milhares, de garrafas de vidro deixaram de ser descartadas na natureza, sobretudo nas praias e ribeiras dessa zona da ilha de Santiago.
A população, como conta a vice-presidente da Associação Cabo-verdiana de Ecoturismo (ECOCV), Edita Magilevicinte, tem participado na recolha das garrafas, colocando os vidros dentro dos contentores instalados pela ECOCV, que depois são recolhidos e levados para o Eco Centro. Além do mais, já há cidadãos e empresas que entregam os vasilhames directamente no centro, o que por si denota a consciência ambiental dessas pessoas e entidades.
A máquina de trituração rendeu, até agora, cerca de duas toneladas de areia, correspondente a cerca de sete mil garrafas de vidro trituradas. Por estar à espera da avaliação do produto final, a areia não é ainda comercializada, devendo acontecer a breve trecho.
Entretanto, diz Edita, o centro está à procura de propostas tendo em conta que o objectivo é a produção de areia ser rentável e trazer algum ganho tanto para as pessoas que trabalham no centro, como para a comunidade, outrora dependente da apanha de inertes nas praias da localidade.
Até agora, toda a areia produzida, fina e grossa, tem sido entregue a uma empresa para ser testada. “Neste momento estamos a verificar que tipo de produtos podem ser feitos com o tipo de areia que temos. Estamos a fazer experimentação, por exemplo, de alguns tipos de pavê, e mais tarde saber se é possível utilizar a areia na construção civil”, explica a responsável, avançando que estão “à espera da instalação de um painel fotovoltaico, no próximo mês de Maio, para ajudar no gasto de energia no Eco Centro”.
Equipa feminina
A equipa é composta por cinco mulheres, que antes viviam da extração de areia na zona costeira, mas que agora dedicam o seu tempo a fazer formações, com o intuito de intensificar a produção de areia de vidro.
Domingas Fidalga, nascida e criada em Rincão, de 27 anos, faz parte do grupo que trabalha no Eco Centro. Para ela, o trabalho realizado tem um grande impacto na vida da comunidade, tanto para aqueles que ali trabalham, “embora sem salário”, quanto para a natureza que “está cada vez mais limpa e sem lixo jogado no chão”.
Maria Semedo, 42 anos, diz que o projecto “é uma grande oportunidade para as mulheres que trabalham no Eco Centro como para a comunidade” e está “satisfeita e contente” pelo trabalho feito.
Com os bidões distribuídos em pontos estratégicos da localidade para que as pessoas possam deixar o vidro, o grupo, com um carrinho, recolhe as garrafas e leva para o centro onde é deixado na água, para depois serem tiradas as etiquetas e a cola, secarem e depois serem trituradas.
Depois de triturar, as mulheres pesam a quantidade de areia de vidro produzida, que depois armazenam num bidão, de acordo com a tipologia, fina ou grossa.
Por dia, cada grupo tritura cerca de 500 garrafas. Além dessa tarefa, limpam a casa da máquina, a máquina e o espaço. O projecto Raiz Azul é um acrónimo do projecto Eco Vila, uma abordagem para promover a resiliência do sistema sócio ecológico em Cabo Verde.
O projecto é financiado pela Darwin Initiative do Reino Unido e desenvolvido, na ilha de Santiago, pela Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), juntamente com a ECOCV. O projecto é ainda desenvolvido com outros parceiros como as câmaras municipais, associações locais e o Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI).
Outro objectivo alcançado pelo projecto é a aprovação da criação da área marinha protegida na Baía do Inverno, em Monte Angra. A delimitação da zona protegida está publicada em Boletim Oficial.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 713, de 29 de Abril de 2021)