Independente do gênero, um bom filme é aquele que consegue prender a atenção do espectador até ao fim da trama. Pensando nisso, esta semana, o A Nação preparou para si uma seleção de três filmes de géneros diferentes mas que possuem a mesma intenção: fazê- lo refletir, questionar e nunca desistir.
The Pursuit of Happyness – um filme para nos inspirar em meio a crise
The Pursuit of Happyness (Em busca da felicidade) é um drama biográfico lançado em 2006, dirigido por Gabriele Muccino e estrelado por Will Smith e pelo filho Jaden Smith.
O filme conta a trajetória de vida de um homem chamado Chris Gardner, um pai de família que batalha pela sobrevivência e para sustentar o seu filho. Mesmo com uma condição de vida difícil, e em meio a tantas dificuldades, ele luta dignamente, e nunca desacredita que um dia mudará sua vida.
O que torna o drama envolvente e reflexivo é a sua honestidade em narrar os factos e a forma de mostrar que a vida tem um sentido maior e que devemos buscar os nossos sonhos.
Além de explorado, muito bem, o elo entre pai e filho e de contar com um roteiro, apesar da conclusão ser óbvia, com bom desenvolvimento da trama, ainda tem uma primordial lição de vida. Faz com que o espectador se pegue torcendo pelo protagonista mesmo sem querer.
O filme poderia ser mais um melodrama, mas isso não acontece. As sequências de vitórias são quase que impercetíveis e gradualmente equivalem a algo. Tudo parece muito real.
A trilha sonora de Andreia Guerra é bem encaixada em cada cena e funciona perfeitamente, evocando emoção na hora certa.
A câmara pega bem a veracidade do ator em cena. De destacar a mais séria atuação do Will Smith, considerado por muitos o melhor da sua carreira. Ao qual ele foi indicado como melhor ator, indicação também alcançada no Globo de Ouro.
Nesse momento de pandemia e incertezas, The Pursuit of Happynesse com a sua história de superação pode ser, sim, uma maneira de nos inspirar a continuar.
Foco, criatividade, resiliência e persistência são algumas características do protagonista e podem servir como referência para toda essa tensão.
O filme está disponível no Youtube de graça, e ainda pode ser encontrado para download no torrent.
Green Book: O Guia
Ambientado nos Estados Unidos na década de 1960, Green Book: O Guia (2018) é uma comédia dramática de road trip comovente e divertida. Fala de problemas aparentemente antigos, mas que, na verdade, ainda são mascarados nos dias de hoje- O Racismo.
Vencedor de três Óscares em 2019, nomeadamente o de melhor filme, o de melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali) e de roteiro original. A longa acompanha a viagem do pianista Don Shirley (Mahershala Ali) e seu motorista Tony Vallelonga, chamado de Tony Lip (Viggo Mortensen) pelo sul dos EUA, para seu tour musical, durante os anos de segregação – algumas cidades, inclusive, sequer permitiam a circulação de negros.
O título é uma alusão ao guia de viagem que indicava aos afro-americanos os hotéis e restaurantes que podiam frequentar. Apesar de o filme ser sobre a improvável amizade entre o ignorante, grosseiro e racista ítalo-americano, Tony Lip e o excêntrico e culto afro-americano Dr. Don Shirley, um notável da música clássica, o tema da história centra-se no racismo nos anos 60 e mostra dois homens completamente diferentes que aprendem a conviver em um país que até hoje não aprendeu como tratar os negros.
É impossível não se apegar aos personagens, bem interpretados por Viggo Mortensen e Mahershala Ali. É um filme que, usando o humor como veículo, acaba por destacar-se em sua mensagem.
A direção assinada por Peter Farrelly põe a nu a tragédia do racismo e o aborda seriamente, mas trazendo gargalhadas normalmente agridoces para o espectador já que o humor vem muito mais do absurdo verdadeiro de diversas situações, do que de piadas propriamente ditas, o que é um suavização e acaba por abrir os nossos olhos, na medida em que abre os da dupla principal, demonstrando que o abismo étnico pode ser eliminado e deixado pra trás.
É uma evolução que precisa ser individual para se tornar coletiva, o que também serve de mensagem universal.
Uma das observações postas por Green Book, talvez a mais significante e que apresente o melhor diálogo do filme, é justamente sobre o que é chamado de racismo reverso – quando uma pessoa branca diz sofrer mais racismo que um negro. Situação essa que ainda ocorre no quotidiano da nossa sociedade e geralmente é relativizada.
As questões raciais e identitárias do filme são bem apresentadas e chocam em alguns momentos. Mas o filme falha ao tornar simples demais a “transformação” de alguns dos personagens, que simplesmente deixam de ser racistas de um instante para o outro. Caso de um dos personagens principais, Tony Lip.
Green Book desenrola-se de maneira suave, embalado por uma boa e nostálgica trilha-sonora de Kris Bowers, repleta de muito jazz e ótimos detalhes da época na qual é ambientado.
A fotografia de Sean Porter destaca-se na maneira com que detém a essência e a textura da América no período, com suas estradas ainda vazias. Porter ainda evidencia com habilidade as performances musicais da produção, preparando o palco para um magnifico concerto de piano que acaba transformando-se numa mensagem multi-cultural muito mais eficiente do que estamos acostumados a ver em outros filmes, de maneira muito mais explícita.
O filme está cheio de mensagens em suas entrelinhas e se o espectador prestar atenção irá perceber. A indignação com algumas das situações ali expostas confirma que ainda vivemos em uma sociedade cheia de preconceitos e não tão distante daquela realidade.
Green Book está disponível na Netflix e pode ser assistidO online.
Hidden Figures: Podes sim alcançares os teus sonhos mesmo que esses pareçam impossíveis
“Hidden Figures” (Estrelas além do tempo) é baseado na história real de 3 matemáticas negras que trabalham na NASA na época da corrida espacial. Elas são fundamentais na busca por enviar o primeiro homem ao espaço. Enquanto têm que provar o seu valor como matemáticas, lutam contra a descriminação racial da época.
O roteiro de Hidden Figures enfoca, de maneira particular, essas três mulheres: Katherine Johnson (Taraji P. Henson), uma matemática de muito talento com os números e que resolve cálculos que nenhum matemático da NASA conseguiu, para terem sucesso nas missões espaciais; Dorothy Vaughan (Octavia Spencer, em performance indicada ao Óscar 2017 de Melhor Atriz Coadjuvante), que visualiza a oportunidade de diferenciar-se profissionalmente ao aprender a linguagem Fortran, que estava prestes a ser implantada na NASA; e Mary Jackson (a cantora Janelle Monáe), que sonha em ser a primeira engenheira negra da NASA.
As boas atuações das três protagonistas e o caráter inspirador de sua trama faz com que o filme se torne relevante e ganhe destaque pela época em que vivemos.
Sob a direção de Theodore Melfi, Higden Figures é um daqueles filmes que chama mais a atenção pela sua história do que pelas suas qualidades técnicas, onde a fotografia deixa um pouco a desejar, já a trilha sonora é boa, mostra todo o pop da época com um excelente ritmo.
Racismo é sempre um tema importante num filme, e Melfi expõe isso de uma boa maneira e sem exageros. O filme que teve três indicações ao Óscar 2017 cumpre seu papel ao demonstrar como o racismo era e é institucionalizado.
Prepara o teu lencinho, o teu psicológico e vai conferir esses filmes, boa sessão!