Com nova campanha de caça e abate anunciada no Porto Novo, Santo Antão, Cabo Verde vai perder a parceria internacional para a realização de uma mega campanha de esterilização, a ter início na ilha do Sal. O Movimento Civil para as Comunidades Responsáveis (MSSR) lança, por isso, um apelo ao Governo e autarquias para o exercício da gestão ética da população canina e felina.
Esta segunda-feira, 03, a delegação do Ministério da Agricultura e Ambiente no Porto Novo anunciou que está a preparar uma nova campanha de caça e abate de cães abandonados, como medida, para proteger os criadores, cujo gado tem sido disseminado pela população canina.
A notícia, segundo o MCCR, chegou aos parceiros internacionais que estão a apoiar uma mega campanha de esterilização, identificação e registo de cães na ilha do Sal, a primeiro a aderir à Aliança Nacional da Gestão Ética da População Canina e Felina, que avisou que vai retirar o seu apoio na ilha do Sal e em todo o país.
O MCCR recorda que tem travado uma luta permanente contra o abandono, tortura e morte de cães, por vários meios, e que lançou, em 2019, o desafio às Câmaras Municipais do país para aderirem à Aliança Nacional da Gestão Ética da População Canina e Felina e adotarem políticas eficazes que resolvem duma vez por todas o problema de cães em espaços públicos e os ataques contra o gado.
Segundo diz, mais de metade dos municípios mostrou interesse e vários deliberaram formalmente sobre a sua adesão e foi formulado um projecto específico para cada concelho.
“Como o município do Sal foi um dos primeiros a aderir e já vinha trabalhando para a gestão ética, conseguimos dar finalmente o salto para programar a mega campanha de esterilização, identificação e registo com parceiros internacionais”, explica.
A campanha na ilha será a primeira no país, e espera-se controlar a totalidade da população canina no Sal, com uma mobilização de cerca de 40 profissionais, dos quais metade são internacionais.
Um investimento “considerável”, incluindo ainda medicamentos, materiais e ações de formação em técnicas cirúrgicas, atividades pré e pós-operatórias e captura de cães.
“A resposta pronta e positiva dos parceiros tornou este sonho, de repente, uma realidade alcançável. População canina estabilizada, identificada, registada, as adoções promovidas, a população sensibilizada. Todos felizes, os bichinhos, a população, os criadores de gado, os conservacionistas de tartarugas e pássaros e mesmo a Câmara Municipal”, sublinhou.
Campanha em risco
Neste momento, conforme o movimento, toda a campanha está em risco, com a iminência da segunda ação de captura e abate de cães no município do Porto Novo, no espaço de um ano.
“Além deste dano enorme, que não é meramente a perda de recursos, mas atinge profundamente a imagem de Cabo Verde, convém referir que, seja o envenenamento ou a caça, ambos constituem crime pelo novo código penal de Cabo Verde que entrou em vigor esta quinta-feira, 06 de Maio”, adiantou.
O movimento apela, por isso, ao Governo e às Câmaras Municipais, que analisem com ponderação, tecnicidade e com humanidade a situação dos cães que vivem em espaços públicos, até mesmo porque o método de caça e abate não soluciona o problema a longo prazo.
“A existência de cães e gatos em espaços públicos é a consequência da ignorância, negligência e posse irresponsável pelos donos o que terá de ser atacado sistematicamente”, reforça.
A solução, conclui, passa pela posse responsável, a esterilização massiva e contínua, a promoção das adoções individuais ou comunitárias, entre outras medidas que incluem ainda a identificação e registo de animais de companhia.