Kivan Dongo é um dos atletas que compõem a selecção cabo-verdiana de andebol. Tem 24 anos e nasceu em São Vicente. Iniciou-se na modalidade ainda no secundário, tendo seguido depois para o Atlético de Mindelo. Atualmente, representa o Vitória de Setúbal, em Portugal, país para onde se mudou há quatro anos.
Alto e forte são duas das características que melhor definem Kivan Dongo, um dos atletas da selecção de andebol de Cabo Verde. Chegar à seleção foi apenas um dos objectivos que este jovem definiu quando ainda estava no início da prática desta modalidade.
Conforme conta, a paixão começou nas aulas de Educação Física, no pavilhão da Escola Secundária Jorge Barbosa, em São Vicente. Os professores, Luís e Odete, tiveram uma forte influência nos primeiros tempos deste atleta no andebol.
“Comecei quando estava no 9o ou 10o ano. Chamaram-me para a seleção que ia representar a nossa escola no Campeonato Inter Liceus. No meio dos meus colegas, sempre me destaquei pela minha estatura, então os professores devem ter visto algo de interessante, tendo em conta que, até então, eu nunca tinha praticado andebol”, recorda.
A partir desse momento, Kivan passou a frequentar os treinos cada vez mais, até que o hábito tornou-se uma paixão. A definição da sua posição no campo foi variando desde ponta ou lateral até chegar a pivô, resultado do empenho e trabalho dos seus treinadores.
Depois da experiência no secundário, este atleta acabaria por ingressar no Atlético Clube de Mindelo, em 2012. Esteve lá até o ano de 2017, quando decidiu mudar-se para Portugal. Representou a Juventude Desportiva do Lis, o Atlético Clube de Sismaria, Sir 1o Maio, antes de chegar a formação do Vitória de Setúbal.
“Neste momento jogo na primeira divisão de Portugal, ao serviço do Vitória de Setúbal. Foi uma oportunidade que surgiu depois de um ano afastado, por influência do meu empresário. Comecei a treinar com o Vitória em Fevereiro e o meu contrato vai até o final desta época”, diz.
Sonhos e ambições
Jogar no Setúbal, para Kivan representa um enorme orgulho e o realizar de um sonho. “Estou a viver um sonho, trabalhar com os melhores e defrontar os melhores de Portugal. Como cheguei ao clube já na segunda volta do campeonato, o meu objectivo principal é conquistar o meu espaço aos poucos e ter a oportunidade de jogar o máximo de minutos possíveis até ao final da época”, diz.
A ambição deste jovem para a modalidade sempre foi chegar ao nível internacional. Está a dar os primeiros passos na primeira divisão e pretende ali manter-se vários anos, melhorando a sua performance em todos os sentidos e quiçá representar um dos três grandes de Portugal.
Dificuldades
As maiores dificuldades que Kivan Dongo enfrentou ao chegar em Portugal, têm a ver com o nível e a qualidade do andebol praticado, a adaptação à nova cultura e algumas metodologias de treino.
“O enquadramento de certas equipas e treinadores, porque uma pessoa é sujeita a fazer tudo o que mandam, mesmo que isso nem sempre esteja correto. Isso fez com que eu tivesse alguns problemas de adaptação, mas hoje eu tenho trabalhado para melhorar o que foi feito por mim no passado”.
Treinadores
Durante o seu percurso no andebol Kivan foi treinado por vários treinadores, mas não esquece nenhum deles. Apesar de nutrir um carinho especial pelos professores de educação física que o lançaram no andebol, diz ter mais consideração pelo treinador Adelino Duarte “Didi”.
“Tive o privilégio de ser treinado por ele e até ainda eu chamo-o de pai, por tudo o que fez por mim como pessoa e como atleta. Também admiro o carismático e detalhista KimZé Brito. Ambos tiveram muita paciência e dedicação para me treinar”, recorda.
Selecção nacional
Kivan é há já alguns anos jogador da selecção nacional de andebol de Cabo Verde. começou nos sub-21, em 2015, quando participou no Torneio Intercontinental Challenge Trophy, na Bulgária.
Um ano depois, teve a oportunidade de ser chamado novamente, desta feita para a selecção sub-20 que iria disputar o Challenge Trophy da Guiné Conacri. Após um longo período sem ir à seleção, devido a escassez de competições, teve a sua maior conquista enquanto atleta, ao ser chamado para a selecção sénior da modalidade.
“Fiz parte da histórica primeira participação de Cabo Verde numa CAN, na Tunísia em 2020. Tivemos uma excelente participação para uma seleção que lá chegou como convidada. Conseguimos o quinto lugar e a primeira qualificação de sempre de uma seleção cabo-verdiana para um Mundial. Sinto-me honrado, de ter pertencido a comitiva e de ter o meu nome associado à história de Cabo Verde por tal conquista desportiva”, recorda.
Para Kivan Dongo, representar Cabo Verde espelha um sentimento único, que até os dias de hoje deixa-o emocionado.
“Não há nada mais gratificante do que ouvir o hino do teu país nas altas competições e ter uma nação inteira a torcer por ti”.
Apesar de ter ficado de fora do lote de atletas que foram ao Mundial, em Janeiro último, Kivan olha para a saída precoce de Cabo Verde, devido ao surto de covid-19, com alguma tristeza.
“Foi um duro golpe nas aspirações de Cabo Verde. Todos que estavam ali lutaram muito na vida para conseguir esse sonho. Sair da prova devido a covid-19, foi muito triste. Pessoalmente reagi à situação de forma diferente dos meus colegas, porque eles sofreram o facto na pele, mas é claro que fiquei desolado, como muitos deles”.
Ainda assim, este pivô olha para o futuro com bons olhos. Acredita numa boa participação de Cabo Verde na CAN – Marrocos 2022 e consequentemente uma vaga para o Mundial de 2023.