Ulisses Correia e Silva reelegeu-se primeiro-ministro de Cabo Verde. Com ele, uma nova Assembleia Nacional, novos deputados e novos desafios. A associação gay cabo-verdiana espera que seja dessa vez que as ambições e lutas sejam reconhecidas legalmente pelos representantes do povo. A aprovação de um programa de transição hormonal, por ora, é a maior reivindicação, em específico, da comunidade travesti.
Anitta Faiffer espera que o novo Parlamento, eleito domingo passado, 18 de Abril, traga novas esperanças à comunidade LGBTI e reconheça anos de luta pela igualdade. A presidente da Associação Gay Cabo-verdiana pede um novo parlamento, mais justo e mais humano.
“O nosso desejo é para que tenhamos um Parlamento mais equilibrado, livre, justo e dinâmico, mas sobretudo humano, disposto em resolver as preocupações dos cidadãos, e com isto teremos uma cidadania mais plena, em que a decisão não dependa só de um partido, mas de vários pelo bem da Nação e da democracia”, ambiciona Faiffer.
A par da criminalização da homofobia, alteração do código civil que permita o casamento gay, a transição hormonal, por ora, é a principal preocupação em específico da comunidade travesti.
A luta tem sido para que o Ministério da Saúde implemente um programa de transição hormonal e acompanhamento médico a todas as pessoas que se sentem transgéneros e que queiram iniciar uma transição de género, evitando a automedicação, uma realidade entre as travestis em transição.
“Por negligência dos sucessivos parlamentos e Ministérios da Saúde, nunca foi implementado um programa de auxílio ao processo de transição de género. Seria muito mais fácil se o tratamento fosse acessível no público e que os nossos governantes venham a pensar nisso. Gostaríamos que o Ministério da Saúde implementasse programas de transição hormonal para pessoas transgéneros em Cabo Verde, evitando a automedicação com implicações para a saúde”, reafirma Anitta.
A reivindicação é um grito de socorro da comunidade transgénero em Cabo Verde que luta por uma identidade e uma imagem ao espelho que se adapte ao género da mente. “A associação não quer ver mais transgéneros doentes devido a automedicação. Queremos auxílio médico no público, bem como a transição hormonal, para isso o nosso parlamento deve colaborar”, entende Anitta.
No dizer daquele activista, questões e temáticas de género têm sido postas de lado pela Assembleia Nacional. A temática não é considerada prioridade da agenda política do parlamento que insiste em excluir a comunidade LGBTI das decisões, ignorando as reivindicações.
“Queremos também uma lei que nos proteja e nos conceda direitos em plenitude porque não precisamos de campanhas a dizer que somos livres e iguais, medidas devem ser implementadas no parlamento, porque é inútil fazer campanha, ir para as Nações Unidas e não aprovar nada. Gostaríamos que fosse aprofundada questões hormonais, concretizar lei que criminalize a homofobia, para que tenhamos um país melhor”, elenca a presidente da Associação Gay Cabo-verdiana.
Para Anitta, para que se tenha uma democracia pura é necessário que todas as vozes sejam ouvidas e que o parlamento dê atenção a todas, sem exclusão, sem politiquice e nem demagogia e que todos sejam incluídos no desenvolvimento do país “tal e qual são ou querem ser”.