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Política

Legislativas: Tudo pode acontecer no domingo

À priori, está descartada a possibilidade de haver maioria qualificada nas eleições legislativas do próximo domingo. Contudo, os dois partidos do arco do poder pedem, insistentemente, uma maioria absoluta para poderem governar com tranquilidade. A UCID, por seu lado, defende uma maioria relativa para poder, finalmente, influenciar a governação do país. 

Nesta reta final da campanha para as eleições legislativas do próximo domingo, 18 de Abril, as expectativas dos três partidos com assento parlamentar estão em alta, mas cada um à sua maneira. 

O MpD quer renovar o mandado conquistado em 2016, o PAICV almeja regressar ao poder, depois de cinco anos de oposição, e a UCID traça como principal objectivo eleger o maior número de deputados possíveis para poder formar um grupo parlamentar.   

O MpD, que venceu as eleições de 2016, de forma clara, conquistando 40 dos 72 deputados no Parlamento, mostra-se agora mais comedido, pedindo insistentemente uma maioria absoluta, ou seja, no mínimo 37 deputados. 

O presidente do MpD, Ulisses Correia e Silva, afirmou, logo no início da campanha, que um bom resultado nas eleições legislativas é manter a maioria absoluta, justificando que o país precisa de “estabilidade” na governação para lidar com as consequências da pandemia. 

“Um bom resultado é ganhar com maioria absoluta, por duas razões. Cabo Verde precisa de estabilidade, política governativa, o Parlamento é um elemento fundamental dessa estabilidade, segundo lugar nós estamos numa pandemia e numa situação de crise muito grave a nível mundial, mas que afeta também Cabo Verde”, afirmou. 

Os ventoinhas venceram as legislativas de 2016 com 53,7% dos votos expressos, mas, nestas eleições, a luta parece estar mais renhida, com o PAICV a querer melhorar o seu score de 37,1% conquistados há cinco anos. Motivado pela recuperação das últimas autárquicas, o partido da estrela negra quer disputar, no corpo a corpo, a governação perdida em 2016, ao fim de 15 anos de José Maria Neves. 

O PAICV traça como principal objectivo, nestas eleições legislativas, o regresso ao poder. Conforme afirmou a líder do partido, Janira Hopffer Almada, na véspera do arranque da campanha para as eleições legislativas, um bom resultado passa, primeiramente, pelo aumento de votos e, consequentemente, pelo aumento de mandatos no Parlamento. 

“O PAICV tem uma meta clara, que é ganhar as eleições legislativas de 2021, ter a maioria para formar Governo e implementar o projeto Cabo Verde para todos”, afirmou.

No meio das duas principais forças políticas, a UCID que, para além de querer consolidar a sua posição como terceira força política do país, pretende ultrapassar a fasquia dos 7%, que lhe permitiu aumentar o número de deputados de dois para três. Grosso modo, os democratas-cristãos querem também conquistar assentos fora de São Vicente, ilha onde elegeu os seus três deputados da legislatura anterior. 

A estratégia da UCID, e de António Monteiro, em particular, é evitar que o MpD e o PAICV tenham a maioria absoluta. Em caso de maioria relativa, e caso a UCID consiga os seus intentos, a ideia é servir de fiel da balança com o partido mais votado. 

 Expectativas 

Diante do quadro geral, é bem provável que haja um maior equilíbrio na distribuição dos 72 mandatos no Parlamento, tendo em conta o jogo de forças nos principais círculos eleitorais. 

Em Santiago Sul, que elege 19 deputados, é bem provável que a diferença seja mínima entre o MpD e o PAICV. Um deles poderá vencer por 10/9. Na região norte de Santiago é expectável que os 14 mandatos em disputa sejam divididos entre os dois partidos do arco do poder.  

Nas últimas eleições autárquicas o MpD saiu mais reforçado na região norte do país. Mas, em São Vicente, o desenrolar desta campanha eleitoral dá mostras de um certo equilíbrio entre as forças políticas em presença (MpD, UCID e PAICV). O resultado nesse círculo, que elege 10 deputados poderá ser 4/3/3. 

Santo Antão é onde o MpD apresenta maior pujança. É bem provável que os ventoinhas venham a conquistar entre três, ou quatro, dos seis mandatos em disputa nesse círculo eleitoral.  

No Sal, onde o número de mandatos subiu de três para quatro, o MpD parece estar tranquilo. Os ventoinhas podem eleger três deputados contra um do PAICV. Mas não se deve descartar a UCID que está a movimentar-se muito bem nesse círculo eleitoral. Um outro resultado provável, seria dois mandatos para o MpD, um para o PAICV e outro para a UCID.  

No Maio, fazendo uma extrapolação dos resultados das últimas eleições autárquicas, o MpD poderá, eventualmente, eleger dois deputados. Mas não será tarefa fácil, porquanto o PAICV está também no terreno para tentar evitar esse descalabro na ilha do Porto Inglês. 

No Fogo, onde o PAICV foi destronado pelo MpD, nas últimas eleições legislativas, em 2016, os tambarinas vêm recuperando terreno, embalados pelos resultados das autárquicas de 2020. Nesse círculo eleitoral o resultado provável é de três deputados para o PAICV e dois para o MpD. 

Nos outros círculos que elegem dois deputados, tanto no país e na diáspora, os dois partidos do arco do poder, MpD e PAICV, dividirão esses mandatos.

Números em jogo

Nas eleições legislativas de domingo serão eleitos 72 deputados, em 13 círculos eleitorais, dos quais 10 no país e três na diáspora. Na corrida estãoseis partidos. 

Santiago Sul, com 19 mandatos, Santiago Norte, com 14, e São Vicente, com 10 deputados, são os maiores círculos eleitorais do país. Santo Antão elege seis deputados, Fogo cinco e Sal elege quatro deputados. Brava, Maio, Boa Vista, São Nicolau e os três círculos eleitorais da diáspora elegem dois deputados, cada.  

O MpD, PAICV e UCID concorrem em todos os círculos, PP em seis círculos (Santiago Sul, Santiago Norte, Boa Vista e os três da diáspora), PTS também em seis círculos (São Vicente, Santiago Sul, Santiago Norte e três da diáspora), e PSD em quatro círculos (Santiago Norte, Santiago Sul, América e África).

Em 2016, o MpD venceu com maioria absoluta as eleições. O partido liderado por Ulisses Correia e Silva conquistou, na altura, 53,7% dos votos, o PAICV obteve 37,1%, enquanto a UCID era a terceira força mais votada com 7%. O MpD conseguiu eleger 40 deputados, o PAICV 29 e a UCID três. 

As restantes forças políticas – Partido Popular (PP), Partido do Trabalho e da Solidariedade (PTS) e Partido Social Democrático (PSD) – todas juntas não atingiram 1%. 

A abstenção registada nessas eleições, uma das mais elevadas de sempre em Cabo Verde, situou-se nos 33,6%. Foram chamados às urnas mais de 350 mil eleitores. 

Um total de 597 cidadãos candidatam-se às legislativas de domingo, 18 de Abril. Nas urnas, são chamados 393.166 eleitores, sendo 340.582 residentes no país e 52.584 no exterior.

Dos 597 candidatos a deputado, 307 são homens, o que corresponde a 51,42%, e 290 são mulheres, equivalente a 48,58%.

Em termos de assembleias de voto, estão previstas 1.245 para o território nacional e 246 para a diáspora, totalizando 1.491 assembleias de voto.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 711, de 15 de Abril de 2021)

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