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Política

Legislativas: Norte pode desequilibrar a balança

Com o MpD e o PAICV a disputar taco-a-taco os dois maiores círculos eleitorais do país, Santiago Sul e Santiago Norte, os votos em Santo Antão, São Vicente e Sal podem desequilibrar a balança para um dos lados na eleição deste domingo. No meio desse despique de “gigantes”, a UCID tenta passar de três a pelo menos cinco deputados, o PP luta em Santiago para ter representante no Parlamento, o PTS e o PSD batalham contramaré. 

Embalado pelos bons resultados autárquicas na Cidade da Praia, em São Domingos, Tarrafal, Santa Cruz, o PAICV fez a largada para estas legislativas a tentar não potenciar e melhorar o desempenho em Santiago, mas também recuperar terreno onde nas autárquicas tiveram desempenho pífio. 

Na arimética eleitoral possível, o partido liderado por Janira Hopffer Almada sabe que vencer na ilha maior, onde se elege metade dos 66 deputados eleitos no território nacional, é um passo significativo para almejar governar o país, mas não chega. Nestas contas entram São Vicente, Santo Antão e Sal, necessariamente.

E, em nenhum desses três círculos, o PAICV enfrenta tarefa fácil. Em São Vicente, o descompasso entre o presidente da Comissão Política Regional, Alcides Graça, e a direcção nacional fez estragos. Tanto assim é que figuras próximas da família Graça e outras, como Emanuel Spencer, que chegou a ser presidente da Assembleia Municipal de Tarrafal de São Nicolau com carimbo tambarina e reside em São Vicente, fazem apelo nas redes sociais ao voto em branco, quando não abrem o verbo contra o partido que outros fizeram juras de amor. 

PAICV alia-se ao Carnaval 

Tentando remediar a briga fratricida, Janira Hopffer Almada e os seus pares apostaram na força comunicativa da cabeça de lista em São Vicente, Josina Freitas, e na capacidade de mobilização da mãe, Lili Freitas, conhecida líder do grupo carnavalesco Vindos de Oriente. 

Aliás, o PAICV associou-se bastante ao Carnaval nestas eleições, pois, além da família Freitas, no quinto lugar da lista aparece António Duarte, que até à última festa do rei momo era presidente de outra agremiação carnavalesca, Monte Sossego. Rivais no desfile, as lideranças dos dois grupos foram chamadas para amenizar os descompassos e recuperar terreno político numa ilha onde há muito que o PAICV não consegue resultados satisfatórios. 

No domingo se saberá se a mistura do carnaval com a política vai produzir os votos de que o PAICV precisa para dar voltas ao texto no círculo de 10 deputados, onde a disputa é a três. 

Sim, porque por essas bandas a UCID tem força que demonstra a cada eleição e o MpD coloca todas as suas tropas em sentido para deixar ninguém apoderar-se do trono. 

Em Santo Antão e no Sal, o PAICV enfrenta também disputas difíceis. Na ilha das montanhas, as desavenças internas idênticas a São Vicente custaram semanas de discussões desgastantes enquanto os adversários do MpD abriam marcha na campanha. 

Por isso, diante das fissuras, há quem pense que se o PAICV eleger dois dos seis deputados à Assembleia Nacional em disputa, em Santo Antão, já não será mau. 

No Sal, os tambarinas lutam contra um MpD tranquilo com agravante de a UCID entrar também nessas contas. A escolha do “independente” Aldirley Gomes para encabeçar a equipa da UCID no Sal pode mexer com a decisão, não sendo descabido que a disputa resulte na eleição de um representante da mesma para AN. 

Portanto, nessas três ilhas, a Barlavento, o cenário não se desenha nada favorável ao PAICV.

MpD: Sul menos propício

O MpD, por seu lado, parece navegar tranquilo em Santo Antão e no Sal, enquanto tenta travar a UCID em São Vicente sem deixar o PAICV crescer. No Sul, o panorama não se apresenta tão líquido. 

Na capital do país, depois da “bofetada” das últimas autárquicas com a perda das eleições para o PAICV, a coordenação regional do partido, sob o comando de Alberto Melo (Beta), procurou remobilizar as bases, movimentando estruturas em centros populacionais importantes como é o caso da Achada de Santo António, por onde passa em grande parte a definição eleitoral na Praia. Essa estratégia parece produzir algum resultado e pode impedir que a derrota de há seis meses volte a repetir-se. 

Ao mesmo tempo, fora da Praia, o partido de Ulisses Correia e Silva procura recuperar o seu bastião em São Domingos para equilibrar a votação ou colocar o resultado a seu favor em Santiago Sul. O mesmo se passa na Ribeira Grande, Cidade Velha, onde foi também derrotado depois de vários anos de supremacia. 

Em Santiago Norte, o foco passa por reconquistar os votos no Tarrafal, tentar resistir as investidas em Santa Catarina e penetrar em Santa Cruz, onde o PAICV dançou livre nas autárquicas. Aqui são 14 lugares em disputa e quem deseja governar o país nos próximos cinco anos tem mobilizar as bases e votos não partidários para alcançar a maioria por lá. 

Entretanto, no Fogo, onde o MpD consolidou a sua maioria absoluta nas legislativas passadas ao impor uma derrota histórica ao PAICV, tudo parece voltar ao normal. O regresso do PAICV ao governo municipal em São Filipe pelas mãos de um dos vice-presidentes do partido, Nuías Silva, ajuda reanimar as bases no bastião tambarina, pelo que muitos acreditam que dificilmente o MpD repetirá a façanha de há cinco anos. 

UCID com uma faca de dois gumes 

A UCID aposta quase todas as fichas em São Vicente onde para, além da entourage de António Monteiro, recrutou e deixou voz de comando ao advogado Amadeu Oliveira, que se tornou o rosto principal do movimento que crítica a Justiça, para fazer disparar a sua votação na ilha-base. Oliveira não fez de rogado. 

Fazendo do discurso dramático um modo a conquistar votos, transforma as ruas de São Vicente num grande palco. Grava discursos para se fazer ouvir nos carros-sons, desfila e discursa em cima de palcos móveis. Coloca todos os seus actos nas redes sociais. O advogado esforça-se para desempenhar o papel de estrela nestas eleições. 

No entanto, a transição de Oliveira da “voz de uma causa” para actor político poderá não ser compreendido por muitos dos até então seguidores, pelo que de possível activo político pode transformar num problema. 

Muita gente não gostou, de resto, do “espectáculo” transmitido nas redes sociais pelo presidente da UCID, António Monteiro, aquando da prisão de Oliveira por conta das acusações que este faz aos juízes em Cabo Verde. Foi perceptível para muita gente que se tratou de algo montado para logo depois os democratas-cristãos procurarem potenciar ao colocar o advogado nas listas. Algo que soou a uma estratégia eleitoralista e populista que desagrada a uma parte mais atenta dos votantes. 

Portanto, o recrutamento de Amadeu Oliveira transformou-se numa faca de dois gumes: tanto pode atrair votos daqueles que se tornaram adeptos do seu discurso dramático, como afastar os que não gostaram nem do espectáculo nem dessa transição do homem de uma causa para um actor político igual aos outros. É de resto um regresso às lides político-partidárias, pois Oliveira já chegou inclusive a representar o PAICV no Parlamento, onde deixou a ideia de “enfant terrible”. 

De qualquer modo, a UCID conta com o reforço dos votos em São Vicente e um possível bom desempenho de Aldirley Gomes na ilha do Sal para alcançar os dois grandes objectivos para estas legislativas: eleger cinco deputados ao menos formar um grupo parlamentar e impedir a maioria absoluta de qualquer outro partido. Para isso, tem de também aumentar o seu desempenho nos círculos eleitorais de Santiago, embora tal possibilidade não se mostre perceptível.

O outro campeonato 

Os outros três concorrentes nestas legislativas – PP, PTS, PSD – lutam sobretudo em Santiago em busca de um lugar ao Sol. O PP, de Amândio Barbosa Vicente, tenta potenciar a batalha que travou contra a Câmara Municipal da Praia e agregar votos para eleger pelo menos um representante à AN. Nas autárquicas, os votos conseguidos não deram para eleger ninguém do partido na cidade da Praia, mas como o círculo de Santiago Sul estende-se a São Domingos e Ribeira Grande, quiçá a arimética desta vez dê certo. 

Já o PTS, com Carlos Lopes, vulgo Romeu di Lurdes, aos comandos em Santiago Sul, faz aposta idêntica ao PP. Mexe-se no maior círculo eleitoral para capitalizar os votos dos descontentes e assim eleger um representante. O PSD, de João Além, idem aspa, com o agravante de ser um “habitué” neste tipo de disputa. 

Nos outros círculos eleitorais do país – Maio, Brava, Boa Vista – nos três da diáspora dificilmente um dos partidos com menos recursos e historial consegue interferir na disputa entre o PAICV e o MpD. Sendo assim, a questão é qual destes dois partidos vai ganhar as eleições do próximo domingo e se vai haver maioria absoluta não. 

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