O período da campanha eleitoral tem sido uma época propícia para certos tipos de negócios, nomeadamente aluguer de viaturas, equipamentos de som, palcos, etc. Mas esta é também altura em que muitos jovens desempregados são recrutados pelos partidos políticos para participarem como figurantes nas acções de campanha no terreno. Este ano, a covid-19 e as dívidas das campanhas anteriores têm assombrado o negócio.
Em tempos normais, os períodos das campanhas eleitorais são propícios para o negócio em diversos ramos de actividade, designadamente aluguer de viaturas para transportes de activistias e equipamentos de som.
O valor diário de aluguer de uma viatura varia entre quarto e cinco mil escudos, mais a senha para o combustível.
Este é também o período em que muitos jovens desempregados são recrutados pelos partidos políticos para fazerem parte da caravana e acompanhar os candidatos nos contactos porta-a-porta e outras acções de campanha no terreno.
Ajudam a fazer “barulho”, aplaudindo os discursos ou então garantir animação nas acções de rua.
Dívidas da campanha para autárquicas de 2020
Este ano, o negócio está a ser gravemente afectado pela covid-19 e pelas dívidas e promessas não cumpridas da campanha das eleições autárquicas de Outubro de 2020.
Em conversa com A NAÇÃO, condutores e proprietários de hiaces dizem que, comparativamente com as eleições anteriores, este ano, o movimento está muito mais fraco.
Alguns chegam até a dizer que não vão participar nesta campanha, uma vez que ainda não receberam pelos trabalhos efectuados nas autárquicas de Outubro de 2020.
Ermelindo Moreira Horta, “Derty”, é um condutor que diz ter trabalhado para uma das candidaturas nas eleições do ano passado, mas até ainda não recebeu pelo serviço prestado.
“Nas eleições passadas fui contratado para transportar os activistas nos desfiles do encerramento da campanha. Depois das eleições, fui ter com a pessoa responsável e disse-me para esperar. Apesar das várias tentativas, até agora não vi a cor do meu dinheiro. Nestas eleições não me contactaram ainda, mas também não estou interessado”.
Conforme Ermelindo, vários outros condutores, que ainda não receberam, já foram contactados para participarem na campanha das legislativas e que no final irão receber também pelos serviços prestados nas autárquicas.
Jogar pelo seguro
Qual gato escaldado, Ermelindo diz que prefere jogar pelo seguro.
“Prefiro que me paguem primeiro porque depois das eleições sempre arranjam desculpas, sobretudo quando saem derrotados. E, para não ter problemas depois, prefiro ficar aqui na paragem e, no final do dia, poder levar levo algo, nem que seja pouco, para comer com a minha família em casa”, afirma.
Por seu turno, Edgar Monteiro diz que não tem motivo de queixas, uma vez que sempre que participou no transporte de pessoas e nos desfiles de campanha eleitoral recebeu atempadamente pelos serviços prestados.
“Este ano o movimento está fraco ainda. Se calhar, por causa da pandemia, há menos pessoas a circular. Espero que a situação melhore e, caso for chamado, estou disposto a participar, porque frete aqui na paragem também não está grande coisa”.
Promessas por cumprir
Carla Semedo é uma das jovens desempregadas, mãe de quatro filhos que participou nas caravanas das eleições autárquicas de 2020, mas continua à espera de receber o que lhe foi prometido na altura.
“Prometeram-me formação e apoios para a reabilitação da casa mas até então estou à espera. Houve algumas amigas que estiveram noutros grupos a dizer que receberam algum dinheiro, mas no meu caso não. Por isso, chamaram-me para participar nos desfiles e contactos porta-a-porta, mas não aceitei. Vou ficar em casa a cuidar dos meus filhos, em vez de correr riscos, uma vez que os casos de covid-19 estão aumentar todos os dias”, conclui.
Cimento, carta de condução, pneus e outros mais na “compra e venda” do voto
A época eleitoral tem-se revelado um período fértil para a compra de votos, uma pratica que tende a tornar-se cada vez mais sofisticada e já não se restringeos aos célebres sacos de cimento e verguinhas.
Além da promessa de colocação na administração do Estado, o “negócio eleitoral” passou a incluir o financiamento de cartas de condução, pneus, entre outros bens.
Centenas de jovens também têm benificado de cartas de condução, financiadas pelos partidos.
Em Santa Catarina, ilha de Santiago, os partidos e as escolas de condução têm acordo no sentido de facilitar a vida aos jovens na aquisição desse documento.
O esquema passa por uma inscrição prévia, com a promessa de financiamento pelos partidos políticos, através de pacotes negociados com as escolas de condução.
Com os hiacistas, o pagamento da adesão política inclui a aquisição de pneus junto de certos estabelecimentos comerciais em troca do apoio durante a campanha eleitoral.
Os restaurantes e bares, que servem as refeições aos activistas e candidatos, também facturam muito neste período eleitoral.
Os períodos eleitorais têm servido também para os Djs e os artistas que fazem as músicas de campanha ganharem algum dinheiro e fama.
Recorde-se que, nos períodos de campanha eleitoral, já é pratica recorrente alguns partidos políticos aproveitarem a ocasião para apoiar famílias com materiais de construção civil, nomeadamente, cimento e ferro.
Este é o período em que a venda de cimento e verguinhas dispara para gáudio de quem comercializa esse tipo de mercadoria.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 710, de 08 de Abril de 2021