PUB

Sociedade

Legislativas: Associações locais sob forte assédio dos partidos políticos

Gerson Pereira, coordenador do núcleo de projectos da Rede das Associações Comunitárias, diz que as lideranças locais estão sob constante assédio dos partidos, com o agravante de as políticas públicas para as ONG’s estarem “defasadas” da realidade. Com o aproximar das eleições legislativas de 18 de Abril, esta situação verefica-se com mais intensidade do que nunca.

De acordo Gerson Pereira, uma das dificuldade que a rede tem enfrentado, pricipalmente neste ano difícil de eleições e de pandemia, é o “constante assédio dos partidos juntos das lideranças comunitárias”.

Aquele líder associativo considera que esse tipo de assédio fragiliza, de modo particular, as lideranças comunitárias e defende que é chegada a hora de haver uma clara separação entre os dois campos.

“A liderança comunitária deve ser apartidária e separada de qualquer outro interesse, que não o da comunidade, sendo que o foco deve ser sempre o desenvolvimento das comunidades”, sublinha.

Políticas públicas desfasadas da realidade

Actualmente, diz também o nosso entrevistado, “é facilmente percepetível para todos os que fazem o trabalho comunitário, que não existem políticas públicas para as associações comunitárias e ONG’s em Cabo Verde”.

Por outro lado, conforme sublinhou a “pouca legislação existente está desfasada da realidade ou então o que há nunca sai do papel”.

Pereira critica o facto de as associações serem vistas apenas como “meros auxiliares da implementação” no estilo “riba d’ora”, o que, a seu ver, causa muito estresse às lideranças.

“Elas acabam, quase sempre, por ceder devido às necessidades de momento da comunidade, quando, com mais tempo e organização, o trabalho poderia ser mais rentável”.

“Estatuto do Voluntário” e projectos

Para contornar esta situação, a Rede das Associações Comunitárias pretende, ainda este ano, apresentar ao poder local e central, propostas para o “Estatuto do Voluntário”.

Como forma de alavancar e estar mais perto das comunidades, a rede tem em curso alguns projectos e outros a serem implementados ainda no decorrer deste ano.

Agora em Março, arrancou um projecto enquadrado no programa de “Fundo Descentralizado” do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e que vai ser implentado em todos os munícipios do país.

Na Praia, o projecto é implementado sob o lema “Juntos na Transformação Local” e visa a descentralização dos serviços da autarquia, diagnóstico e mapeamento dos bairros e o reforço das capacidades das organizações da sociedade civil através da capacitação em várias áreas da liderança e associativismo.

“Horta Nha Kaza”

A rede, em resposta a uma solicitação do “Movimento Eco Feminismo CV”, está a colaborar na implementação do projecto “Horta Nha Kaza” que teve uma experiência piloto no bairro de Calabaceira, estando agora a ser implementada em Achada Grande Trás, através de uma associação parceira da rede.

Uma rede aberta

Arede das Associações Comunitárias surgiu no início da pandemia da covid-19, em Março do ano passado, com o objectivo de dar resposta às emergentes  necessidades pelas quais a população passava. Naltura, integrava 15 associações comunitárias. Hoje, são 40, em representação de trinta bairros da capital.

Uma das dificuldades por que passa a rede prende-se com a “limitada capacidade de liderança e compreensão do trabalho comunitário, como um processo de médio e longo prazos, em vez de actuações circunstanciais e avulsas, que em si facilitam consequências nefastas para as comunidades e o associativismo de base comunitário”.

“A Rede das Associações Comunitárias, como organização informal e estratégica de trabalho articulado das lideranças comunitárias, não possui critérios de admissão, todas as organizações e movimentos, formais e informais, de actuação comunitária são livres para participar, desde que os seus interesses sejam compativeis com os nossos princípios e finalidades”, declara Gerson Pereira.

A ideia de manter uma “rede aberta” a todos visa garantir uma maior diversidade e poder aumentar a sua força no terreno, assim como os lugares e campos de actuação.

Gerson Pereira considera, finalmente, que as associações comunitárias e as ONG’s estão longe de receber o reconhecimento e a devida valorização do poder político. Contra isso, entende como necessário uma “renovação”, inclusive do “modus operandis e status quo no acesso a recursos que devem ser colocados de forma mais transparente e com critérios que sejam mais amplamente consensualizadas”.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 710, de 08 de Abril de 2021

PUB

PUB

PUB

To Top