O pintor Tutu Sousa teve algumas das suas obras na ilha do Fogo parcialmente cobertas por cartazes do MpD. Não é a primeira vez que situações do género ocorrem em período de campanha eleitoral, apesar do Código Eleitoral criminalizar esse tipo de procedimento. Em nome do seu partido, o ministro Abraão Vicente lamenta a danificação dos murais daquele artista plástico.
A colocação de cartazes e “outdoors”, bem como a distribuição de panfletos e brindes, tem sido uma das grandes apostas de marketing por parte dos partidos políticos ao longo dos anos.
Porém, na corrida pela caça ao voto alguns limites e espaços não são respeitados pelos integrantes e simpatizantes dos diversos partidos concorrentes.
Desta vez, aconteceu com o artista plástico Tutu Sousa que viu algumas dos seus murais, pintados há cinco anos e ainda em bom estado de conservação, cobertos por cartazes de campanha do MpD.
Na sua página de Facebook, o visado condenou o acto e confessou, ao A NAÇÃO, que a atitude de quem fez o que fez apenas demonstra a “desvalorização do trabalho dos artistas” num país onde a cultura deveria ser mais respeitada.
“Não sou contra nenhum partido ou candidato, mas não é correcto, só pelo facto de estarmos em campanha eleitoral, que as pessoas ‘destruam’ um trabalho que não é fácil de fazer, principalmente na ilha do Fogo. São trabalhos que fazemos por amor à arte, para embelezar as cidades, muitas vezes, a custo zero, por isso exigimos o mínimo de respeito”, diz.
Além disso, Tutu Sousa acrescentou que este período em que o país atravessa, por causa da covid-19, não tem sido fácil para nenhum artista e que o Governo cujo mandato ora termina pouco fez para ajudar.
“Uma minoria foi ajudada pelo Governo; no meu caso só recebi 10 mil escudos de apoio do Governo. Consegui passar por esta fase devido à minha arte”, sublinha.
Abraão Vicente desculpa-se em nome do MpD
Após inúmeras reprovações por parte dos cabo-verdianos nas redes sociais, o Ministro Abraão Vicente veio a público, através da sua página de Facebook, pedir desculpas em nome do partido pelo ocorrido e garantiu que os cartazes serão retirados e possíveis danos à obra de Tutu Sousa vão ser restaurados.
“Parece-me óbvio que é de se lamentar a colocação de cartazes sobre pinturas murais.
É preciso respeito e uma maior educação colectiva para o valor patrimonial das obras de arte públicas. Aconteceu durante as autárquicas e volta a acontecer agora nas legislativas.
Como ministro da Cultura estou solidário com o Tutu Sousa, autor da obra, e outros eventuais autores lesados. Como dirigente partidário e parte da candidatura cujos cartazes foram colocados apresento as nossas desculpas públicas”, escreveu o governante, também ele artista plástico.
Código Eleitoral protege murais e outras formas de património
De acordo com o Código Eleitoral, artigo 109º, durante o processo eleitoral, a propaganda gráfica não precisa de autorização nem de comunicados prévios para serem feitas nos espaços que são reservados a ela.
Contudo, lê-se no mesmo documento, “não é admitida a afixação de material de propaganda gráfica, nem a realização de inscrições ou pinturas murais em monumentos nacionais, em templos e edifícios religiosos, nos cemitérios, em quaisquer edifícios públicos, do Estado, dos municípios ou de qualquer outra pessoa coletiva pública, nos locais onde vão funcionar assembleias de voto, nos sinais de trânsito ou placas de sinalização rodoviária, bem como em quaisquer outros locais proibidos por posturas municipais”.