O comissário europeu do Mercado Interno, o francês Thierry Breton, ameaça que o Reino Unido irá receber “zero” doses de vacinas contra a COVID-19 da União Europeia (eu), pelo menos, até que a AstraZeneca cumpra com todos os seus compromissos para com o Bloco.
Numa entrevista ao “Financial Times”, o responsável desvalorizou as negociações que têm vindo a acontecer entre Bruxelas e Londres sobre a produção de vacinas, dizendo que “não há nada para negociar” entre as duas partes.
A produção da Fábrica de Seneffe, na Bélgica, e da Halix, na Holanda, corresponde, “mais ou menos”, aos compromissos da AstraZeneca com Bruxelas, motivo pelo qual deve ser reservada, exclusivamente, para a UE, sustenta Breton.
“Se [a AstraZeneca] produzir mais, não temos nenhum problema, mas enquanto não cumprir o seu compromisso connosco, as doses ficam na Europa – excepto para a Covax”, avisou o responsável, referindo-se ao Mecanismo da OMS (Organização Mundial da Saúde), destinado aos países mais pobres.
Os comentários do comissário europeu provocaram uma reação imediata por parte de Londres.
“Essas declarações são uma desilusão”, disse um alto funcionário britânico, remarcando que “a única maneira de vencermos esta Pandemia juntos é encontrar uma solução em que todos saímos a ganhar”.
Esta ameaça surge numa altura em que o fornecimento de vacinas para a população de 446 milhões da EU, finalmente ultrapassou a marca dos cem milhões, apesar das enormes quedas nas entregas da AstraZeneca.
Breton disse que a AstraZeneca, agora, está a melhorar os seus rendimentos na produção europeia, com o responsável a acreditar que, de maneira geral, o Bloco poderá atingir as suas metas de entrega de vacinas para o segundo trimestre, ou, pelo menos, não ficar muito aquém.
A UE fechou o primeiro trimestre das campanhas de vacinação sem cumprir um único dos objectivos que estabeleceu. Bruxelas esperava chegar ao dia 31 de Março, com 80 por cento (%) da população com mais de 80 anos e 80% dos profissionais de Saúde vacinados, o que não se verificou.
Em ambos os casos, a UE ficou muito aquém da meta, com apenas 27% da população idosa e menos da metade dos profissionais de Saúde vacinados. Além disso, o Bloco também não conseguiu cumprir o cronograma de distribuição de doses previsto.
Ainda assim, este último ponto não é da sua responsabilidade, devendo-se a falhas no fornecimento de vacinas da AstraZeneca, que entregou 70 milhões de doses a menos do que o prometido.
Bruxelas espera relançar as campanhas em Abril e atingir a meta de 70% da população adulta vacinada até o final do Verão.
Dados do Centro Europeu para Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) mostram que apenas 27% da população com mais de 80 anos recebeu as duas doses necessárias para obter imunidade.
Adicionalmente, apenas quatro dos 27 Estados-Membros da UE ultrapassaram o limiar de 80% neste grupo etário (Finlândia, Irlanda, Malta e Suécia) e outros dois (Dinamarca e Portugal) já igualaram esse valor.
No que diz respeito ao Sector da Saúde, o ECDC dispõe de poucos dados porque apenas 13 países enviaram informações, que indicam que 47% dos profissionais de saúde já foram vacinados e quase de 61% receberam a primeira dose.
