A NAÇÃO conversou com três deputados estreantes, que fazem um balanço positivo desta IX Legislatura. Luís Carlos Silva (MpD) fala de uma experiência “memorável”, enquanto Odailson Bandeira (PAICV) e Dora Pires (UCID) apontam alguns aspectos que precisam ser afinados para um melhor Parlamento no futuro.
Para o deputado do MpD, esta legislatura, que considera ter sido “muito boa”, pode ser dividida em dois momentos: o antes da pandemia e o no decurso da pandemia. “A pandemia alterou muita coisa, nomeadamente, os procedimentos, a forma de estar e até a própria dinâmica da plenária. Finamente aderimos ao Parlamento digital e hoje em dia temos um Parlamento que um exemplo no mundo”.
Silva considera que o Parlamento foi “um grande aprendizado” para ele, pelo facto de ter podido assumir a presidência da Comissão Especializada de Economia e Ordenamento do Território.
“Tive que estudar muito para poder acompanhar os diferentes dossiês que nos chegam à Comissão Especializada e isso me impôs uma maior responsabilidade e a maior capacidade de trabalho e de estudo”, afiançou.
A Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TACV foi também outro momento marcante deste jovem deputado. “Tocou-me particularmente, porque tive a necessidade de estudar muito o dossiê dos transportes”, realça o jovem deputado, que considera que o estudo lhe permitiu qualificar a sua intervenção no Parlamento.
A necessidade de especialização é também outro aspecto destacado por este parlamentar que reconhece que, de início, tinha uma abordagem all-inclusive do Parlamento, “mas depois percebi que me tinha de especializar sobre alguns temas”.
Silva afirma ainda que a sua integração no parlamento correspondeu totalmente às suas expectativas porque “gosto da política, gosto da vida parlamentar e, nesse sentido, acho que foi uma surpresa agradável, porquanto gostei muito de ter tido essa oportunidade”.
Luís Carlos Silva consta da lista do MpD para Santiago Sul que concorre às eleições legislativas de 18 de Abril. Este deputado espera, “com a vitória do MpD”, regressar ao Parlamento na próxima legislatura.
“Missão cumprida”
Odailson Bandeira, cuja estreia no Parlamento aconteceu aos 31 anos, considera que foi uma experiência “muito enriquecedora e gratificante”, porque, como confessa, chegou com um certo “romantismo”, típico de um militante de base e que entretanto deu-se conta do seguinte:
“Muita coisa não funciona como era a minha expectativa, mas, de um modo geral, foi muito bom. Tive alguns pontos altos e baixos, mas, pelo feed back que tenho recebido dos eleitores do meu círculo, principalmente, acho que saio com o sentimento de missão cumprida e de cabeça erguida”.
Este deputado do PAICV, eleito pelo círculo de Santo Antão, considera que “o momento mais alto e o mais polémico” está relacionado com o seu voto favorável à regionalização, o que, possivelmente, terá gerado alguma polémica no interior do seu partido e “poderá ter sido a causa de me terem retirado da lista para as próximas eleições”.
“Fui escolhido pelos órgãos regionais de Santo Antão, mas o meu nome foi literalmente excluído”, lamentou, tendo em conta o facto de ter sido proposto como número dois pela estrutura regional do PAICV em Santo Antão.
Expectativas não correspondidas
Dora Pires considera, também, que o balanço desta legislatura “é positivo”, mas ressalva que poderia ser ainda melhor. Esta deputada da UCID destaca o facto de muitas leis serem introduzidas, ultimamente, em regime de urgência, “quando poderiam ser introduzidas com a antecedência necessária para podermos debater e escolher o melhor para Cabo Verde”.
Contudo, conforme esta deputada, o Parlamento poderia ter produzido muito mais, “se houvesse menos rixa política e menos acusações”, por isso defende que é preciso fazer uma análise fria sobre o comportamento dos deputados para “podermos respeitar criteriosamente o povo que nos elegeu, em primeiro lugar, e só depois o partido”.
Esta parlamentar destaca as leis aprovadas por unanimidade como os melhores momentos desta legislatura, “o que significa ter havido consenso entre os três partidos com assento parlamentar”.
Estreante nas lides parlamentares na Legislatura que ora finda, Dora Pires afirma que as suas expectativas não foram correspondidas de todo. “Venho de um meio académico, intelectual, onde o debate e as críticas são feitas de forma diferente. Mas aqui é complicado porque cada um puxa a brasa para a sua sardinha. Confesso que às vezes me sentia desanimada num meio de um turbilhão, tendo em conta que os momentos de crispação eram inaceitáveis.
Dora Pires, que é número quatro da lista da UCID para São Vicente, espera regressar ao Parlamento na próxima legislatura.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 708, de 25 de Março de 2021)