A reitoria da Universidade Técnica do Atlântico (UTA) diz-se numa “corrida contra o tempo” para a implementação do Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Agrárias em Santo Antão. Na falta de consenso entre os municípios, os santantonenses vão ser chamados para opinarem sobre a localização e as ofertas formativas a serem estabelecidas, ainda em 2021.
A falta de consenso entre os autarcas de Santo Antão, quanto ao concelho onde instalar o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Agrárias, tem condicionado, de algum modo, a chegada do ensino superior à Ilha das Montanhas.
É por isso que, nos próximos dias, os santantonenses serão ouvidos sobre este aspecto, através de um questionário destinado à sociedade civil, soube o A NAÇÃO.
“Uma vez analisados, os resultados serão disponibilizados, representando assim o primeiro estudo da UTA. A avaliação das necessidades e expectativas da sociedade civil enriquecerá a percepção e influenciará os cursos a serem implementados este ano”, faz saber a este jornal a reitora da UTA, Raffaella Gozzelino.
Essa responsável garante que as vantagens que cada um dos três concelhos (Ribeira Grande, Paul e Porto Novo) oferece estão a ser analisadas, mas destaca a possibilidade de envolver as múltiplas localidades na implementação do pólo universitário.
Entretanto, a recolha de dados continua através de pontos focais instalados em cada município no sentido, segundo Raffaella Gozzelino, de garantir uma decisão “objectiva, científica e duradoura” e que promova a sustentabilidade no que se refere à gestão e funcionamento do referido instituto.
O objectivo é que o pólo entre em funcionamento ainda este ano, pelo que a reitora diz estar numa “corrida contra o tempo” e a trabalhar “sem parar” para materializar um “grande sonho” dos santantonenses.
A presença do ensino superior em Santo Antão é, para Gozzelino, um princípio de inclusão e que permitirá às famílias carenciadas promoverem a formação dos filhos e diminuir custos com o estudo fora da ilha.
Investigação em Santo Antão
Santo Antão é tida como uma das ilhas mais agrícolas do país e a ideia é explorar as potencialidades do ensino superior no ramo da agricultura e outros. A presença efectiva da investigação na ilha é vista como um incentivo à capitalização de recursos existentes e uma alternativa para a resolução de problemas que comprometem o sector agrícola e agrário em Santo Antão.
“A implementação do Instituto permitirá utilizar a formação avançada como alavanca do sector agrário, zootécnico, ambiental, paisagístico, turístico e desportivo.
Desta forma, os santantonenses poderão tirar um maior proveito das riquezas da ilha e proporcionar aos investidores nacionais e internacionais as competências que permitirão exportar o conhecimento produzido, e a imagem de Santo Antão, para além fronteiras”, acredita Gozzelino.
Raffaella Gozzelino garante que a integração de cursos teóricos e práticos facilitará a compreensão de conceitos alheios aos agricultores, ao mesmo tempo que permite encontrar soluções de transformação agrícola à escala industrial e à exportação de produtos em grandes quantidades.
Prioridade à praga dos mil-pés
Para já, as investigações sobre a praga dos mil-pés, que tem condicionado a agricultura em Santo Antão e obrigou ao embargo dos produtos agrícolas provenientes da ilha desde 1984, pode ser a prioridade dos estudos desse instituto, de entre outras questões que afectam o setor em Santo Antão.
A universidade terá, segundo Gozzelino, uma valência internacional e conta com a colaboração de professores nacionais, equipas internacionais e da diáspora qualificada e permitirá, segundo a mesma fonte, a aquisição de valências específicas, necessárias a garantir a empregabilidade dos estudantes.
Para assegurar a sustentabilidade do projecto, o polo da UTA em Santo Antão terá parcerias nacionais e internacionais, ao mesmo tempo que pretende estabelecer acordos com o sector privado na criação de perfis profissionais virados para as empresas no sentido de enfrentarem a competição internacional.
Câmaras Municipais no “puxa puxa”
Apesar de reconhecida a importância do Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Agrárias para Santo Antão e o país, os municípios de Santo Antão ainda não tomaram uma decisão quanto à localização do pólo da UTA na ilha.
Cada autarca tem promovido, da “melhor forma”, as valências e potencialidades dos respectivos municípios, dado o impacto que isso poderá ter no desenvolvimento futuro do seu município.
António Aleixo, edil do Paul, acredita que o seu município é aquele reúne melhores condições para acolher o pólo da instituição, tendo como argumento a posição geográfica e estratégica do Paul e a existência de infra-estruturas, como o novo liceu e a antiga Escola Secundária Januário Leite.
No Porto Novo, Aníbal Fonseca entende que o seu município tem “todas as condições” para acolher o Instituto, do ponto de vista de gestão e dos recursos humanos, a que se soma o facto de ser o “maior” centro urbano da ilha, aquele que mais tem vindo a crescer em termos demográficos e de crescimento económico.
Por sua vez, o autarca da Ribeira Grande, Orlando Delgado, considera que a localização do pólo não se trata de um “puxa-puxa”, mas de união. Contudo, também no seu caso, entende que Ribeira Grande é o concelho que dispõe das melhores condições para acolher a instituição, por já dispor do Centro Agrícola Afonso Martinho e outras potencialidades.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 705, de 04 de Março de 2021)