O Brasil vive o momento mais crítico de toda a pandemia, tendo atingido, quarta-feira, 03 de Março, 1.910 mortes por covid-19, o maior número registado desde o início da pandemia, há pouco mais de 1 ano. Segundo o Governo brasileiro, o país contabiliza um total de 259 mil 271 vítimas mortais.
“Foi um dia difícil para todos os brasileiros”, disse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reconhecendo que o Brasil vive hoje o seu momento mais grave devido à pandemia da Covid-19.
“As variantes do coronavírus nos atingiram agressivamente. Quero dizer a todos vocês que estamos trabalhando com firmeza para mudar esse panorama”, disse o ex-general em declarações amplamente difundidas nas plataformas digitais.
O total de mortes de ontem, quarta-feira, é o segundo recorde consecutivo de mortes que o Brasil regista em 48 horas. Na terça-feira, este gigante sul-americano somou 1.641 óbitos, menos 269 face aos números de ontem, quarta-feira.
São Paulo entra na “fase vermelha”, a mais proibitiva
Diferentes estados enfrentam situações críticas à beira do colapso dos seus sistemas de saúde. Por exemplo, o governo de São Paulo, epicentro da pandemia no país, anunciou que, para tentar evitar o caos, toda a sua divisão territorial entrará, a partir de sábado, 6 de Março, na “fase vermelha”, a mais proibitiva do seu plano de restrições.
“Estamos em São Paulo e no Brasil à beira do colapso. Isso requer medidas urgentes e colectivas, por isso voltamos à fase vermelha do nosso plano de contingência ”, disse João Doria à imprensa, considerando que é necessária uma acção coordenada em todo o país face à segunda vaga da covid-19.
Diante desse cenário alarmante, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que durante duas semanas (6 a 12 de Março), será proibido o funcionamento de lojas, bares e restaurantes em toda a região.
Além disso, será aplicado o toque de recolher noturno (das 20:00 às 05:00, hora local) para evitar o colapso do sistema hospitalar do estado que ultrapassa 75% da ocupação de leitos em unidades de terapia intensiva para infectados.
Os negócios autorizados são os essenciais, como indústria de alimentos, supermercados, farmácias e serviços médicos. No caso de bares e restaurantes, eles só poderão vender comida para viagem.
Para evitar multidões, actividades recreativas e culturais, cinemas, museus, teatros, shopping centers, academias, clubes e parques foram suspensos. Da mesma forma o acesso às praias.
São Paulo, epicentro da pandemia no país, concentra 60 mil 381 mortes e dois milhões 68 mil 616 casos positivos pelo coronavírus SARS-CoV-2.
O pior momento da crise
Vários especialistas em saúde não hesitam em afirmar que este é o pior momento da crise no Brasil, que, também em ternos de novos casos, contabilizou, nas últimas 24 horas, 71.704 infeções, o segundo número mais alto de sempre, depois dos 87 mil 843 diagnósticos a 07 de Janeiro último.
No total, o Brasil concentra 10 milhões 718.630 casos de infeção desde que a pandemia chegou ao seu território brasileiro, há pouco mais de um ano, ou seja, a 26 de Fevereiro do ano passado.
As festas de Carnaval ilegais e o alívio das restrições funcionaram como um rastilho de pólvora no país que enfrenta ainda uma nova estirpe mais agressiva, detetada no Estado do Amazonas.
Na grande maioria dos estados brasileiros os hospitais estão perto do colapso. À crise sanitária junta-se uma crise política que se arrasta há largos meses, com Bolsonaro e vários governadores em pé de guerra.
Com pouco mais de 3% da população vacinada, o Brasil enfrenta vários entraves no processo, com a escassez de vacinas e as dificuldades nas negociações para aquisição de novas doses.
Nova estirpe brasileira
A capital do Estado de Amazonas, Manaus, onde foi detetada nova estirpe, é um dos focos da pandemia no Brasil, quer na primeira, quer na segunda vaga da pandemia, e vive um colapso da saúde desde o final do ano passado devido à explosão de casos e de internações por covid-19.
A nova estirpe da covid-19 detetada no Brasil, P.1, poderá ter uma carga viral até dez vezes mais elevada e é capaz de iludir o sistema imunitário de quem já possuía anticorpos, revelam dois estudos preliminares realizados por investigadores brasileiros e ingleses.
“Provavelmente faz as três coisas ao mesmo tempo: é mais transmissível, invade mais o sistema imunitário e, provavelmente, deve ser mais patogénica”, disse esta semana à agência espanhola EFE, Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do grupo da USP que participou da investigação realizada pelo Centro Brasil-Reino Unido para a Descoberta e Diagnóstico de Abrovírus (CADDE).
Os cientistas também concluíram que a nova estirpe é capaz de evadir o sistema imunológico e causar uma nova infeção em parte dos indivíduos já infetados pelo SARS-CoV-2, concretamente entre 25 e 61%.
“Não se podem explicar tantos casos a não ser pela perda de imunidade”, disse Ester Sabino, que coordenou o estudo juntamente com o investigador Nuno Faria, da Universidade de Oxford.
Medidas para aquisição de vacinas
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, informou que já foi assinado um acordo com o laboratório americano Pfizer e a alemã BioNTech, bem como com a Janssen, braço farmacêutico da também norte-americana Johnson & Johnson, para a compra de 138 milhões de doses de vacinas.
Eduardo Pazuello também anunciou que em breve será divulgado o cronograma de negociações, bem como um documento conjunto com os detalhes do pacto para que, até o final do ano, todos os brasileiros maiores de 18 anos possam ser imunizados.
Aquele governante brasileiro alertou para a importância da população manter “cuidados preventivos individuais” que, entretanto, têm sido constantemente criticado pelo presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que menospreza a covid-19, comparando-a a um resfriado e gripe, e, mais recentemente, culpando a imprensa de criar pânico sobre a doença.
Por outro lado, o Senado brasileiro aprovou esta semana por unanimidade uma medida provisória que permite ao governo comprar vacinas anti-Covid-19 sem licitação e antes que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registre o medicamento, foi confirmada hoje.
“A aquisição imediata de vacinas e insumos e a implementação, no mais curto prazo, do Plano Operacional Nacional de Vacinação contra a Covid-19 são fundamentais, a fim de proteger a saúde e a vida da população’, diz a medida provisória aprovada pelo Senado.
A possibilidade de comprar medicamentos sem a aprovação da Anvisa pode facilitar a aquisição da Covaxin, o antídoto desenvolvido na Índia, e do russo Sputnik V.
A Câmara dos Deputados também aprovou o texto-base do projeto de lei do Senado Federal que autoriza estados, municípios e a iniciativa privada a adquirir vacinas contra o patógeno com registro ou autorização temporária para uso no país.
Brasil, um dos mais atingidos pela pandemia
O Brasil é um dos países mais atingidos pela pandemia no mundo. O número de infeções (10 milhões 718.630) e de mortes (259 mil 271) onfirmam-na como um dos focos globais da covid-19 e como o segundo país com mais mortes pela doença no mundo, superado apenas pelos Estados Unidos (EUA).
A nação sul-americana, com os seus 212 milhões de habitantes é também o terceiro com mais infeções, atrás do país EUA e da Índia.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2 milhões 531.448 mortos em todo o mundo, resultantes de mais de 114 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.