Cabo-verdiano, agente/intermediário da FIFA, residente nos Estados Unidos da América – EUA – desde 1991, Tony Araújo está “preocupado” com o actual estado do dirigismo desportivo em Cabo Verde. Destaca, porém, “alguns executivos de sucesso” e sugere “uma aposta forte”, além do futebol”, no atletismo e nos desportos náuticos/aquáticos.
O estado actual do dirigismo desportivo cabo-verdiano preocupa o agente Tony Araújo, residente nos EUA, que destaca a existência de muitos “atletas talentosos, com excelentes potenciais”, mas que, devido à “precária gestão administrativa”, com destaque para o futebol, optam por representar outras selecções.
“Não é só por causa do valor e da visibilidade que as selecções estrangeiras agregam ao currículo deles, mas, é devido, principalmente, ao amadorismo reinante em Cabo Verde”, radiografa, ilustrando que, tanto em futebol como em desportos aquáticos, há casos de vários atletas que optaram por representar outras bandeiras.
Na avaliação de Araújo, existem “alguns executivos desportivos de sucesso, tais como o Sr. Orlandinho Mascarenhas”, que tem feito “um excelente trabalho, em prol do desenvolvimento e promoção do atletismo no Arquipélago e além-fronteiras”, a par de “uma boa gestão de uma das maiores infra-estruturas desportivas” do país.
Para Tony Araújo, Cabo Verde deve “apostar, fortemente, no atletismo e nos desportos aquáticos/náuticos, auis sejam: natação, kitesurf e windsurf, além do futebol e do basquetebol.
“Dispomos de grandes praias, com potenciais enormes para o desenvolvimento dos desportos aquáticos/náuticos. Cabo Verde poderia tornar-se num centro mundial de prática de Desportos aquáticos/náuticos, caso forem adoptadas políticas e directrizes de trabalho direccionadas para o mesmo efeito”, manifesta.
Academias desportivas
País deve apostar, “com rigor”, na criação de academias de desporto, ou seja: centros de formação desportiva, não só para o futebol, mas, também, para o atletismo e outras modalidades desportivas.
“As nossas várias federações deveriam apostar mais, no recrutamento de executivos e gestores profissionais, capacitados, especializados e dotados de conhecimentos específicos e aprofundados em gestão desportiva e de negócios”, sugere, remarcando que, presentemente, “o desporto, em todo o mundo, é uma Indústria bilionária”, pelo que não podemos tratá-lo, “de forma diferente”, em Cabo Verde.
Ciente, todavia, de que “o nosso mercado de desporto interno é muito pequeno e frágil”, Araújo defende a criação, pelo Governo, de “um fundo soberano para a gestão de projectos ligados ao desporto”, com o objectivo de “potencializar os nossos atletas, em vários domínios”, ajudando-os “a atingir outros patamares”, a nível nacional e internacional.
Organização
No domínio organizacional, para o futebol, Araújo sugere um “um novo modelo de gestão, diferente do actual”, onde haveria um especialista, ou seja: um gestor especializado em negócios ou em gestão desportiva.
“Seria o director-geral de todos os negócios nacionais e internacionais, que envolve a federação, tais como: a procura, negociação de patrocínios, ‘marketing’ dos “merchandise”, efectivação de protocolos, gestão da imagem da entidade, negociações de direitos televisivos, parcerias com as marcas desportivas nacionais e internacionais, entre outros”, avança, defendendo que o director desportivo teria a função de “arrumar a casa”, ao mesmo tempo que tomaria “as decisões relevantes no que diz respeito ao recrutamento de novos talentos para as várias camadas da Selecção”.
E destaca: “Estas posições teriam que ser ocupadas por profissionais altamente capacitados, dotados de conhecimentos específicos e especializados em gestão de negócios e gestão desportiva”.
Araújo entende que o país deve “apostar, fortemente” no modelo de “Sports Tourism”, à semelhança do que acontece em muito dos países das Caraíbas.
“Deve-se agregar o valor do desporto ao sector do turismo. Ou seja: apostar no desporto, sobretudo os aquáticos/náuticos, como uma das principais alavancas/motores do desenvolvimento do turismo e da economia cabo-verdiana em geral”, explica, manifestando que o futebol, mas, também, “o nosso desporto em geral, poderá ser risonho”, mas que tudo depende da estruturação, do investimento financeiro, das políticas desencadeadas e, sobretudo, “dos esforços dos nossos gestores e governantes, envolvidos no mundo desportivo”.
Ídolos
Tony Araújo assegura ao A NAÇÃO, que teve “o privilégio e a oportunidade de presenciar vários talentosos futebolistas em acções”, entre os quais, o Abel – do Desportivo -, o “Djoblas”, o Abel de São Vicente, entre outros.
“De todos os que vi jogar, em Cabo Verde, durante a segunda parte da década de 80 e o início dos anos 90, o Abel – do Desportivo – foi quem mais me marcou, devido ao seu estilo clássico, a técnica, a magia, e, sobretudo, o profissionalismo e a liderança dele no terreno de jogo”, justifica, destacando que, embora “eu não apoiasse o Desportivo da Praia, sempre ia ao Estádio da Várzea, para assistir ao jogo do Abel.
Araújo já teve “oportunidade de conhecer grandes astros do futebol mundial”, designadamente: Pelé, Mourinho, Thiérry Henry, Neymar, Ronaldinho, Jay Jay Okocha, Salomon Kalou, John Barnes, Patrick Kluivert, Dwight Yorke, Abedi Pelé, entre outros.
“O que mais me marcou foi o astro Pelé, pela sua simplicidade, humildade, profissionalismo e, sobretudo, a cortesia com o qual ele me tratou, nas duas ocasiões, que encontrei com ele. É um autêntico embaixador do desporto, o ‘Rei’ e um ‘gentleman’, fora das quatro linhas também”, realça.
Segredos
Para se ser agente/intermediário desportivo “é preciso ter muito talento, uma boa rede e leque de contactos no mercado”, e, sobretudo, muita diplomacia e conhecimentos diversos.
“O mercado internacional é muito competitivo e há muitos entraves para um novo agente/intermediário. Qualquer um que pretende entrar neste mercado, terá que cultivar e estabelecer uma rede de contactos e pontes além-fronteiras”, revela, relevando que “a habilidade de falar idiomas estrangeiros ajuda muito no processo de inserção/adaptação no mercado.
Causas sociais
No marco do futebol, Tony Araújo já materializou alguns projectos sociais em Cabo Verde, nos Estados Unidos da América, Honduras, Barbados, Brasil e África do Sul.
“Recentemente, fiz uma parceria com a Associação Desportiva ‘Relâmpago’, da Cidade da Praia, resultando na arrecadação, nos EUA, de um montante significativo que beneficiou perto de cem famílias das zonas periféricas da cidade da Praia e dos Municípios de São Miguel e de Santa Cruz, com cestas básicas, de modo a amortecer esta pandemia global da Covid-19”, ilustra.
Futuramente, pretende “construir um centro de formação” em Cabo Verde. Ou seja: uma academia desportiva, “em parceria e colaboração com um clube europeu renomado e de uma marca desportiva internacional”.
E destaca: “O intuito é ajudar na formação dos nossos atletas, projectando as suas potencialidades desportivas e, sobretudo, catapultar a carreira deles para patamares além-fronteiras”, remarcando que, o desporto, “se usado correctamente, muda a vida e a situação sócio-económica de muitos dos nossos jovens e dos seus respectivos familiares”.
Da ilha do Fogo para Wall Street
Natural da ilha do Fogo, em Cabo Verde, Enivete António Pina Araujo – mais conhecido no mundo dos desportos e dos negócios, por Tony Araújo – é um agente/intermediário global, independente, de jogadores de futebol.
Nos Estados Unidos da América – EUA -, trabalhou, antes – durante 16 anos -, como profissional da área comercial, gerenciamento de contas e desenvolvimento de negócios internacionais, no mercado financeiro de Wall Street.
Depois, ingressou na Agência Stealth SME SME (Sports, Media & Entertainment), em Junho de 2014, como seu principal agente de futebol, actuando nacional e internacionalmente, em nome dessa empresa.
Em 2016, deixa a SME, passando a actuar como agente independente e “freelancer”, expandindo o seu trabalho tanto como intermediário profissional de jogadores de futebol, como, também, como agente de jogos em todo o mundo.
Trabalhou e colaborou com todos os 20 melhores clubes da MLS (“Major League Soccer”) dos EUA, bem como com os principais clubes do futebol europeu, como o Chelsea FC, Arsenal FC, Sporting Clube de Portugal e Benfica.
“A minha rede global de futebol cobre países como EUA, Canadá, Brasil, México, Portugal, Espanha, França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Cabo Verde, África do Sul, Austrália e China”, lista Tony Araújo.
Diplomado em Economia Internacional, com especialização em Finanças, pela “Suffolk University” (Boston, Massachusetts), em 1998, fez um MBA em Gestão de Empresas, em Missouri, em 2006.
Pós-graduado em Administração de Empresas, pela “Freeman School of Busines/Tulane Energy Institute de Tulane” (Nova Orleans, Louisiana), em “Estratégias e Simulações de Comércio de Petróleo e Gás Natural”, em 2011.
Possui licença como agente de jogadores da FIFA, pela USSF (“United States Soccer Federation”/Federação de Futebol dos Estados Unidos), estando registado como “Agente Internacional” desde 2009.
Araújo recebeu um Certificado de Reconhecimento do Congresso dos Estados Unidos, pelo seu trabalho “em prol do desenvolvimento da Comunidade Cabo-Verdiana”.
Está nos EUA desde 1991. É fluente em Português, Espanhol e Francês, além da Língua Inglesa. Tem, também, o domínio básico do Italiano.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 678, de 27 de Agosto de 2020)