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Por: Filinto Elísio

Olhares  de Lisboa

Dia 20 de janeiro. Há 48 anos, num sábado à noite, Amílcar Cabral era assassinado. É Dia também dos Heróis Nacionais, que os houve e os há, fazendo já tempo de irmos para além das pompas e circunstâncias (alvíssaras, assim como eventos, inconsequentes), mas de revisão da nossa historiografia que vamos lendo “com os olhos do império”. É ainda Dia de São Fabiano, Papa Mártir de Roma, pois data a sua decapitação pelo Imperador Décio, em 250 d.C. Não poderemos ousar o futuro se mantivermos esta imprudente cegueira de não olhar para trás e para o lado, estes espaços-tempos (e estas intersecções) para a re-significação…do nosso percurso.

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Sempre defendi que sem complexidade, nem polissemia já lá não vamos. Por exemplo, a Semana da República, excelente iniciativa que se baliza entre duas datas – 13 de janeiro, Dia da Liberdade e da Democracia, e 20 de janeiro, Dia dos Heróis Nacionais -, com encarnações respetivas e sucessivas, mais do que uma proposição dialética, tem uma profunda relação dialógica que nos define nesta contemporaneidade. Incorporando nela as subjetividades a que cada um tem direito. E pela compreensão mais profícua do que vamos coletivamente sendo.

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Assinalo, sim, que é notícia grata e relevante sempre que incrementamos o nosso score em matérias como democracia e liberdades, boa governação e transparência. Cabo Verde acaba de melhorar quatro posições a nível mundial (de 45º lugar para 41.º lugar) no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), divulgado pela Transparência Internacional (TI). Este ano, o nosso país é o 3º melhor em África (depois de Seychelles e Botswana) e o 2º melhor na CPLP (depois de Portugal). Entretanto, algo me diz que o aperfeiçoamento do softpower, que é um potencial que temos, passe a redundância, exigiria de nós maior esforço em prol da Cidadania que, sendo designação antiga e consagrada, reclama ser re-significada e melhorada.

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Alegre, muito alegre, pela ativista, cineasta e escritora do Zimbabué Tsitsi Dangaremba, ganhadora do PEN Award for Freedom of Expression 2021. No ano passado, o seu romance “This Mournable Body”, contemplado com o Commonwealth Writers’ Prize, esteve na shortlist do Booker Prize. Recentemente, fizemos no Programa África em clave feminina: música e arte (Rádio Vaticano), da jornalista Maria Dulce Évora, uma crónica sobre Dangaremba, cujo romance “Nervous Conditions” havia sido considerada um dos mais importantes do século XX, pela escritora britânica Doris Lessing (Prémio Nobel da Literatura, 2007).

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Sim, tremor, quiseste debater, como no-lo definia Édouard Glissant, nas antípodas do temor, diante do mundo (e da vida) tremeluzente no espaço e no tempo. Tremor, como condição existencial, para as mudanças e as transformações ao fim e ao cabo inscritas na nossa identidade plural, híbrida e fluida, entre lugares e inter lugares. Sem este necessário tremor será uma mesmice provinciana que não nos leva nem até à próxima esquina…

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 699, de 21 de Janeiro de 2021

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