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Sociedade

Tradução em Cabo Verde: Falta de regulação e valorização da classe afecta profissionais

Edmilson Delgado Monteiro, formado em Tradução e Estudos Interculturais, diz sentir na pele a inexistência em Cabo Verde de uma entidade reguladora, que, para além de fazer uma justa distribuição de tarefas, garanta também uma tradução de qualidade, feita por profissionais certificados. 

Para melhor contextualizar o problema  que a tradução enfrenta em Cabo Verde, Edmilson Monteiro, considera que é essencial realçar o papel e a importância do tradutor e da tradução como elementos de inclusão em sociedades multiculturais e em países membros das organizações internacionais, tal como é o caso de Cabo Verde. 

“Não traduzimos apenas palavras, mas sim contextos e, para além disso, aproximamos culturas. A cultura é um factor muito importante no que toca à tradução, o que leva a que um bom tradutor não seja apenas um indivíduo que é proficiente em duas ou mais línguas, mas também alguém que, para além dos recursos tecnológicos essenciais, deve ter bom conhecimento de outras culturas”, pontualiza este profissional da tradução que também possui mestrado em “Uso e Gestão do Património Cultural” e frequenta um doutoramento em “Artes e Humanidades”.

Posto isso, Edmilson considera “lamentável” a situação de profissionais como ele em Cabo Verde, uma vez que não existe nenhuma entidade competente para regularizar uma área “tão importante para o desenvolvimento das relações internacionais e interculturais”. 

“Cabo Verde, por ser país-membro das Nações Unidas (ONU), da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e de outras organizações internacionais, deveria ter uma Ordem dos Tradutores para garantir que o trabalho está sendo feito por profissionais competentes e com formação em tradução ou área afim”, defende.

Não há concursos

Edmilson Monteiro estranha ainda não ser hábito ver, à semelhança de outras áreas, concursos públicos para trabalhos de tradução. Uma exclusão que, segundo diz, é sentida desde o início pela classe. 

“Quando aparece um bom projecto, quem o assume são os ‘sobrinhos de presidentes’, que muitas vezes vão fazer o trabalho no Google Tradutor”, acusa, sublinhando que, por causa dessa “desordem”, há muitas pessoas formadas em Cabo Verde que não conseguem trabalho. 

“Não existe um número significativo de empresas no ramo, o que também nos leva ao desemprego e à perda de esperança por causa do esquecimento desta área tão importante”, lamenta.

Para agravar, acrescenta, as poucas empresas de tradução existentes não conseguem albergar grande número de profissionais na sua orgânica e opta pela contratação de prestadores de serviço. 

“Há também muitas pessoas que não têm nada a ver com o ramo da tradução a receberem grandes projetos por um preço alto. Depois contratam a prestação de serviços de profissionais da área pela metade do preço”, denuncia.

Edmilson Monteiro lança um apelo aos tradutores do país no sentido de se juntarem na defesa da classe e dos seus interesses profissionais. A iniciativa, segundo diz, deve partir da classe que, primeiro, deve expor a situação e exigir uma posição do Governo. 

Tradução do Crioulo no Facebook é parcial e insatisfatório 

Num momento em que o Crioulo cabo-verdiano e não só, está em vias de ser incluído nas línguas traduzidas na rede social Facebook, o jovem congratula-se com esse ganho, mas chama a atenção para a sua parcialidade. 

“É muito importante ter acesso à informação na nossa língua materna. A implementação da língua crioula no Facebook será um grande avanço, mas, infelizmente, está a ser implementada de forma parcial e isso eu não apoio”, declara.

Uma questão que desagrada este tradutor natural de Santo Antão é o facto de serem escolhidas apenas as variantes de Santiago – em maioria, e de São Vicente. 

Para além dos estudos, actualmente, Edmilson Delgado Monteiro trabalha à distância, como intérprete para hospitais dos Estados Unidos da América. 

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 700, de 28 de Janeiro de 2021)

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