Os agricultores de Mantaba, na localidade de Engenhos, concelho de Santa Catariana (interior de Santiago), estão aflitos com o ataque de macacos que estão a devastar as suas plantações de cana-sacarina. Os camponeses afirmam que nunca viram uma “praga de macacos” como esta na região.
Em conversa com o A NAÇÃO, os agricultores dizem-se desanimados com a situação, uma vez que a invasão de macacos começou desde meados do mês de Outubro do ano passado e está a aumentar dia após dia.
Devido a esta situação que apelidam de “praga de macacos”, alguns dos lavradores já não possuem cana nas suas parcelas agrícolas e os prejuízos ultrapassam centenas de contos.
Já tenho 40 anos, mas nunca tinha visto uma ‘praga de macacos’ como esta na nossa localidade. Os bichos praticamente já abandonaram as rochas para morar dentro das hortas. Dormem em cima das figueiras e mantos de carriço que existem dentro e nas proximidades das parcelas agrícolas, e, por incrível que pareça, os macacos já nem sequer sentem medo das pessoas e cães como antigamente. Estamos a registar uma situação fora de comum”, lamenta Olindo Cabral, um dos visados.
Centenas de contos de prejuízos
Olindo Cabral
Conforme Olindo, os símios já devastaram cerca de 40% da sua plantação, causando-lhe um prejuízo que ronda os 60 mil escudos.
“Se isso continuar assim até meados de Fevereiro, vão destruir toda a plantação. Estamos a tentar afugentá-los todos os dias, com foguetes e pequenos expulsivos que compramos nos chineses, mas quase não está a surtir efeito”.
No geral, segundo o nosso entrevistado, “quando sentem a presença de pessoas ou de cães, os macacos sobem nas árvores ou escondem-se no meio do carriçal, e logo que a gente se afasta voltam a atacar os pés de cana, que nem sequer comem. Os colegas, cujas parcelas ficam mais acima, praticamente já não têm cana nas suas hortas”.
Nelito Cabral
Nelito é um outro agricultor que se mostra desanimado com a situação, dado que a sua plantação de cana sacarina já foi totalmente destruída pelos macacos.
“A invasão na minha horta começou em meados de Outubro. Tentei fazer de tudo para espantar os macacos e evitar os estragos, mas sem sucesso. Às vezes, vou à horta antes das cinco horas da manhã e deparo-me com os macacos já dentro da minha propriedade a cortar cana. Como não tenho como ficar ali todo o dia, uma vez que tenho que fazer outro tipo de trabalho para sustentar a família, os desgraçados aproveitam a minha ausência e destroem toda a plantação”.
Nelito calcula que no seu caso os prejuízos ultrapassam os 120 contos.
“Todos os anos, logo no início de Janeiro ou por essa altura, vendo mais de um galucho de cana e com isso consigo arrecadar cerca de 150 mil escudos. Mas este ano praticamente não restou nem dez feixes de cana. Quando a gente trabalha arduamente e não consegue desfrutar é muito frustrante”, desabafa.
Abertura dos alambiques
Segundo os nossos interlocutores, vários outros agricultores na região estão a sofrer com ataques dos macacos. Acreditam que a situação poderá amenizar-se com a abertura dos alambiques.
Porém, os agricultores pedem intervenção das autoridades no sentido de os ajudar a resolver o problema.
“Seria bom que as autoridades mandassem alguns militares aqui para afugentar os macacos com tiros”, pede Olindo. “Se necessário que abatam alguns para ver se voltamos a ter sossego. Como está não é possível viver”.
Outras pragas
Conforme os agricultores, os cultivos de feijões e fruteiras em Mantaba estão também a ser atacados por pragas de tartarugas. “Neste momento estamos a ter problemas no cultivo de fava, assim como nos limoeiros e abacateiros por causa da praga de tartarugas”, conta Nelito.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 700, de 28 de Janeiro de 2021)
