O Estado de Cabo Verde tem como cônsul honorário na Florida, Estados Unidos da América (EUA), o cidadão português Caesar DePaço, financiador-mor do partido CHEGA! A rede de interesses desse e outros elementos ligados a essa formação da extrema-direita portuguesa passa, igualmente, por uma empresa de segurança privada que já presta serviços ao Estado cabo-verdiano. Luís Filipe Tavares foi obrigado a demitir-se, mas há outros envolvidos nessa teia.
O país ficou de queixo caído, na noite de segunda-feira, ao tomar conhecimento, através de uma reportagem do canal SIC, Portugal, sobre as “catacumbas” do partido CHEGA, que Cabo Verde tem como cônsul-honorário em Palm Coast, Florida, o empresário português Caesar DePaço.
Este empresário é tido como um dos principais financiadores daquela formação da extrema-direita, conhecida pela sua hostilidade aos ciganos e aos imigrantes africanos.
Também a mulher DePaço, a italiana Deanna Padovani, é cônsul honorária do nosso país em New Jersey.
Esta é a primeira vez que Cabo Verde nomeia um casal, marido e esposa, para cargos de cônsul do país, em simultâneo, e para Estados diferentes dos EUA, o que, segundo uma fonte diplomática, pode ser considerado um caso de “tráfico de influência e de corrupção”.
Facto também inédito é que, apesar de simples cônsul honorário, Caesar DePaço e a esposa foram recepcionados à sua chegada, há poucos dias, no aeroporto da Praia, com guarda de honra prestada pelas Forças Armadas.
Companhia
A acompanhar o casal estiveram vários outros elementos do CHEGA, um deles o seu vice-presidente José Lourenço e o ex-líder da claque do FC do Porto, os Superdragões, Fernando Madureira. Este “empresário” da noite do Porto está ligado a vários casos de violência, envolvendo extorsões, agressões e outras situações. Tanto assim que se encontra oficialmente afastado dos Superdragões.
Várias fotografias mostram o casal DePaço, na companhia de Lourenço, Madureira, entre outros figurantes, em encontros com Ulisses Correia e Silva, Luís Filipe Tavares, Fernando Elísio Freire e Carlos Veiga. Há até cenas de brindes com champanhe, como manda o figurino, curiosamente, “postadas” pelos próprios integrantes da comitiva.
Aliás, depois de essas relações perigosas se terem tornado públicas, Luís Filipe Tavares revelou à Inforpress, na terça-feira, que o nome de Caesar DePaço para cônsul honorário de Cabo Verde na Florida, foi-lhe indicado pelo então embaixador do nosso país nos EUA, ou seja, Carlos Veiga.
E voltou a defender a escolha: “Ele foi cônsul de Portugal durante muitos anos e acho que esta polémica tem mais a ver com questões de política externa em Portugal”, disse.
Em comunicado, a despedir-se do MNEC, Tavares diz ter agido sempre em boa fé, na busca do melhor para Cabo Verde.
Publicado na edição nº698 de 15 de Janeiro de 2021