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Diáspora

Com arte e moda santantonenses conquistam fama internacional

Saíram do país à procura de melhores condições de vida. Hoje, Zuleica Neves, Alzerina Gomes e Eduardo Bentub são alguns dos filhos de Santo Antão que fazem sucesso pelo mundo, levando a moda e a arte com assinatura cabo-verdiana além-fronteiras.

Zuleica Neves, modelo, natural de Alto Mira em Santo Antão, foi descoberta por um “olheiro” nas ruas de Madrid, Espanha. Iniciava ali uma carreira de sucesso no mercado internacional da moda. Uma oportunidade que decidiu agarrar e transformar na realização de um grande sonho.

Passou por passarelles de Barcelona, África do Sul, Itália, mas é em Paris, onde reside há três anos, que encontra o mercado que procurava. O sucesso valeu-lhe em 2019 o prémio “Somos Cabo Verde” na categoria moda.

No momento, Zuleica Neves protagoniza a campanha de verão da marca de perfumes Jean Paul Gaultier, que diz ser um grande passo para a sua carreira. A modelo de 28 anos ainda trabalha para as conceituadas marcas Dior, Hermes, Balmain e Alexandre Vauthier.

Apesar do sucesso internacional, a modelo não se desliga das origens.

“Eu sou fruto da minha terra. Carrego com orgulho a minha bandeira, em especial minha ilha Santo Antão e Alto Mira”, diz.

A manequim reconhece que a indústria da moda em Cabo Verde está a crescer, contudo diz ser necessário sair do país para se fazer algum sucesso.

“Cabo Verde tem um grande potencial, mas para os modelos que quiserem fazer carreira no mundo da moda é necessário sair de Cabo Verde e investir em países onde a indústria é mais evoluída. Temos bons estilistas, modelos e fotógrafos a destacarem cada vez mais. E isso é muito bom para o nosso país”, reconhece Zuleica.

Das passarelles ao design

Ainda no ramo da moda, neste caso no design, Alzerina Gomes dá as cartas. A designer de joias, natural de Portalzinho de Garça, saiu de Cabo Verde com 20 anos à procura de uma vida melhor, mas a ideia do sucesso sempre esteve na bagagem.

Em França, trabalhou como empregada doméstica com uma patroa que lhe inspirou a realizar o sonho de se lançar no mercado de joias. Mudou-se para os EUA em 2000 onde iniciou a linha de joias Alzerinajewelry.

A marca de joias de Alzerina usa cristais Swarovski e faz sucesso entre as celebridades americanas, para além de vários reconhecimentos da marca nos EUA. Em 2018, Alzerina foi reconhecida na gala “Somos Cabo Verde” na categoria “Diáspora” pela elevação do  nome do país no exterior.

Longe de Cabo Verde, o país continua a ser uma fonte de inspiração para Alzerina.

“Eu respiro e inspiro Cabo Verde todos os dias, principalmente Santo Antão”, conta.

No momento, a marca de Alzerina estuda a melhor forma de se adaptar ao contexto da Covid-19 que também afectou a linha de joias que passa por algumas dificuldades.

“A minha linha de encorajamento é ‘Alzerina saíste de Portalzinho de Garça, estás nos EUA então é o teu dever procurar formas de reiventar e não deixar que a Covid-19 acabe com tudo’”.

À conquista de Cabo Verde

Se o sonho de muitos é conquistar uma carreira internacional, o de Eduardo Bentub é diferente. O artista plástico não sonha com Nova Iorque, nem Paris, mas com o reconhecimento do trabalho no país de origem.

Natural da Ribeira Grande de Santo Antão, Bentub saiu do país para estudar matemática em Portugal e, estando em Lisboa, mudou-se para arquitetura. Durante cinco anos esteve no atelier do pintor David Lima, que diz ter sido a sua faculdade de artes.

Um amor fez com que Eduardo Bentub começasse tudo do zero na Eslovénia. E é nesse país europeu que consegue os maiores feitos da carreira. Recentemente recebeu o prémio de melhor artista internacional na 28ª edição do Simpósio Internacional de Artes Contemporânea, na Eslovénia, com a obra Diva Delfine Sodade, em homenagem a Cesária Évora.

Em 2012 ganhou uma mensão honrrosa durante uma residência artística na época em que Maribor foi eleita capital europeia da cultura. Esta distinção projectou outros voos para vários outros países.

Depois do sucesso internacional, Eduardo Bentub sonha com Cabo Verde. O artista acredita ser até paradoxo fazer sucesso fora do país de origem e só depois na terra natal. Diz que gostaria de receber mais convites para expor em Cabo Verde.

Aliás, é Cabo Verde a grande inspiração do artista. Nas telas, personalidades e paisagens cabo-verdianas são retratadas em traços firmes de saudade da terra que o viu nascer. Bentub elogia o talento cabo-verdiano nas artes plásticas e é de opinião de que é possível fazer sucesso em Cabo Verde sem sair do país.

“Em Cabo Verde temos bons artistas, não penso que seja necessário sair de Cabo Verde para se ter algum sucesso. O que faz falta em Cabo Verde é de uma faculdade de belas artes para melhor se formar os artistas”, sugere.

O artista considera o mercado das artes plásticas forte em Cabo Verde, principalmente na Cidade da Praia, e com um poder de compra grande em comparação com outros países que tem exposto.

Eduardo, Alzerina e Zuleica são exemplos de cabo-verdianos que seguiram e acreditaram nos sonhos e hoje, com muito trabalho, trilham uma história de sucesso e de elevação de Santo Antão e Cabo Verde a patamares mundiais.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 676, de 13 de Agosto de 2020)

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