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Diáspora

Cabo-Verdiana na corrida à Câmara de Pawtucket, nos EUA: Crisolita Figueiredo acredita  que “é hora” das mulheres

Cabo-Verdiana nascida no Sal, Crisolita Figueiredo está nos Estados Unidos da América (EUA) desde 1995 e é candidata ao cargo de Conselheira da cidade de Pawtucket, no Estado de Rhode Island. Em conversa com o  A NAÇÃO defende que é chegada a hora de dar “uma melhor contribuição” a esta cidade que a acolhe e que clama por novas caras na liderança.  Integra o projecto “It’s her time!”  –“É hora dela!” -, um colectivo de seis mulheres-líderes que querem “reflectir a diversidade de género e étnica do eleitorado”, de modo a montarem “um Pawtuckett melhor, mais próspero e mais inclusivo” na governação. 

Candidata à cadeira em disputa no Primeiro Distrito (Ward 1) do Conselho Municipal da Cidade, nas Primárias de 8 de Setembro,  Crisolita Figueiredo pertence a um colectivo de seis mulheres – “baptizado” de: “It’s her time!”  –“É hora dela!” -, que almeja assumir a governação de Pawtuckett.  

São activistas sociais e mulheres, que se apresentam como a nova cara de liderança para “um Pawtuckett melhor, mais próspero e mais inclusivo” na governação da cidade. 

“Temos uma cidade governada por pessoas que não reflectem a diversidade étnica do nosso eleitorado. Pretendemos, também, como mulheres, trazer para a ribalta assuntos de suma importância, tais como, a educação, o empoderamento de mulheres e os pequenos negócios, sobretudo os das minorias”, radiografa. 

O grupo “não discrimina homens”, malgrado ter só mulheres na liderança.

“Foram só as mulheres que demonstraram o interesse em fazer parte desta nova ambição e a liderança política minoritária que pretende mudar a cara da cidade de Pawtucket”, justifica Figueiredo, relevando que “a liderança organizacional” da mesma entidade tem, também, ”homens competentes” nas suas fileiras, que “desempenham cargos-chaves”.  

  Motivações 

 As motivações para a sua candidatura ao cargo de conselheira de Pawtucket são, entre outras, proporcionar “um voto consistente e justo” aos residentes da cidade. 

“A minha formação educacional e profissional tornam-me numa forte candidata ao cargo. Tenho anos de experiência comprovada e muitos anos de residência fixa na nossa cidade, incluindo advocacia comunitária e liderança comunitária/organizacional, a nível de base”, justifica.

Figueiredo promete trabalhar para evitar o êxodo dos talentos locais, obrigados, actualmente,  a se mudarem para outras paragens. 

“Quero trabalhar no fornecimento de recursos e oportunidades para manter essas pessoas na nossa cidade”, avança.

Necessidade de uma nova liderança

A candidata acredita que os eleitores – grande parte deles, cabo-verdianos de origem e/ou descendentes! -, votarão nela, atendendo que o  actual conselheiro da cidade está no poder há mais de 29 anos. Mais:  antes de ele ser eleito para o cargo, o pai dele ocupou a mesma vaga por 11 anos. 

“Resumindo e concluindo, ele e a família dele estão representando a cidade por mais de 40 anos. Pawtucket” precisa de uma nova liderança. Ademais,  o eleitorado também quer uma mudança mais representativa à frente da cidade”, sustenta, garantindo que ela representa  “não só esta mudança, mas, também, “esta diversidade étnico-cultural que o eleitorado almeja”. 

Presentemente, dos nove conselheiros eleitos, somente um é de origem minoritária, representando uma cidade onde 25 por cento (%) da população é de origem latina; e 19% negra; quase 50%, de um origem branca; e os restantes 6% de origem não-mencionada.

Figueiredo confia nas chances de sair vitoriosa  nas Primárias de 8 de Setembro. 

“Tudo dependerá do eleitorado, que decidir apoiar-nos nesse dia. De momento, estamos a fazer e a dar o nosso máximo em termos de mobilização e informação do eleitorado, divulgando a nossa mensagem e a nossa plataforma eleitoral”, revela ao  A NAÇÃO.

Educação e Saúde: dois grande amores

A educação e a saúde são a “menina-dos-olhos” e “ grandes amores” de Figueiredo.

“A saúde pública em geral e, sobretudo, a saúde das nossas crianças, estão acima de qualquer outra questão”, avança.

No domínio da educação, defende que, de momento, não há condições para aulas presenciais.

“Sou defensora do ambiente educacional presencial, onde os alunos e os professores coabitam e convivem num eco-sistema educacional, sem grandes riscos. Mas, actualmente, há mais riscos e incertezas em relação a esta pandemia de Covid-19”, argumenta, defendendo,  rotatividade e um sistema misto.

Ou seja: metade dos estudantes de uma escola, semanalmente, ficam em casa, tendo aulas via tele-educação, para evitar aglomeração, enquanto a outra metade, assiste aulas presenciais. 

“Alterna-se, semanalmente,  de modo a evitar-se o risco de propagação e a disseminação do vírus”, propõe. 

Uma outra preocupação “é a capacitação de adultos”, uma vez que a cidade alberga um grande número de imigrantes, oriundos de Portugal, África – principalmente: cabo-verdianos, liberianos e nigerianos -, e os hispanos-latino-americanos. 

“Defendo a capacitação deles, em ordem a que esses imigrantes possam aculturar-se, adaptar e ter uma melhor integração social e económica, tenham um melhor conhecimento da língua inglesa, da cultura americana, e, sobretudo, treinamento e formação profissional adequada, que lhes  permite obter melhor sucesso no tecido cultural, político e económico da cidade”, salienta, frisando que, “com melhor e adequada capacitação” habilitam-se a serem cidadãos norte-americanos, e, consequentemente, “contribuírem melhor para o processo eleitoral dos EUA”. 

Constrangimentos

Um dos principais constrangimentos por que passam os imigrantes, com “especial destaque para os meus conterrâneos cabo-verdianos de baixos recursos”, é a dificuldade ao acesso à saúde, a par do desemprego. 

“Desde o início da pandemia global de Covid-19 a esta parte, perto de 52 milhões de pessoas nos Estados Unidos já perderam o emprego. Isso traz muita incerteza e angústia à população”, manifesta  Figueiredo. 

Como activista social e líder comunitária, fez “parte activa”, nestes tempos pandémicos, de um grupo de pessoas que distribuíram produtos de limpeza e higiénico à comunidade de imigrantes locais, assim como, cartões para a compra de géneros alimentícios. 

“Pessoalmente, contribuí, também, com várias outras acções do género, em prol da mitigação dos constrangimentos, designadamente: orientar e direccionar pessoas para lugares e estabelecimentos que dão produtos alimentícios aos afectados por Covid-19”, ajunta. 

 Ligação à Mamãe-Terra

 “É forte e sempre será, cada vez mais forte a minha ligação com a Terra-Mãe”, remarca Figueiredo. 

Reconhece, todavia, que, presentemente, devido aos vários projectos pessoais, tais como: a criação e a educação das minhas três filhas, a par do profissional e, agora, político,  resta-lhe pouco tempo para dedicar a alguns dos projectos em carteira para Cabo Verde.

“Daqui a algum tempo, estarei mais activa em relação à minha ligação com a Terra-Mãe”, prognostica. 

De todo o modo, como a cultura “é a bengala que sustenta o Homem”, garante que ”estou e estarei ligado sempre a Cabo Verde”, da mesma forma como “o cordão umbilical liga o filho à mãe”. 

Caso for eleita, nas Primárias de 8 de Setembro, dará o seu máximo para que haja uma maior aproximação e estreitamentos das relações bilaterais entre os EUA e Cabo Verde. 

“Farei, também, uma aposta forte numa nova relação e geminação entre Pawtucket e a Câmara Municipal da minha Ilha-Natal: Sal”, anuncia. 

Mais união 

Devido a “uma forte política anti-imigratória desta administração do Presidente Trump”, Figueiredo conclama os conterreâneos na América a “uma maior união”, a par de uma participação mais activa nas associações comunitárias e entidades políticas e cívicas, com o objectivo de melhor defenderem os direitos dos imigrantes.

“Teremos, também, que participar mais activamente na vida política da nossa cidade. Sobretudo, precisamos de mais mulheres em posições de líderanças na nossa comunidade”, desafia. 

Por estas razões acima mencionadas – e muitas outras mais! -, “peço a contribuição e o apoio de todo o eleitorado cabo-verdiano da cidade de Pawtucket”, a votarem nela nas Eleições Primárias do dia 8 de Setembro. 

Quem é Crisolita Figueiredo?

Crisolita Figueiredo nasce na Ilha do Sal e imigrou para os Estados Unidos da América – EUA -, em Janeiro de 1995.  Fez de Pawtucket a sua “Casa”, desde 1997. 

Concorre à Câmara de Pawtucket, para “representar a minha bela, pacífica e bairro familiar” e promete defender o melhor uso do dinheiro dos impostos.

 Em Cabo Verde, trabalhou “duro para aprender inglês” e perseguir os seus sonhos de obter o ensino superior.

 Nos EUA, passou algum tempo como indocumentada,  trabalhando em muitas fábricas locais. 

Assim que se torna cidadão da América, matricula na Universidade de Rhode Island, onde se forma em Sociologia. 

Trabalha no Departamento de Assuntos dos Veteranos, onde os ajudou a se acostumarem aos novos empregos. 

“Através deles, não só constatei como se sentiram abandonados, mas também conhecer os seus desejos de continuarem servindo o seu país, através das suas comunidades”, confessa Figueiredo, ao  Jornal A NAÇÃO

Casada e mãe de três filhas: LeeAnne (15 anos), que estuda na “Tolman High School”; Leah (dez), aluna de “Goff”; e Leslie (sete), que estuda na “Curtis Elementary”, em Pawtucket. 

Para seguir sua paixão pela educação e apoiar as escolas da cidade, entrou para o Conselho Consultivo Comunitário da “Pawtucket High School”, envolvendo-se com outros pais na educação dos seus filhos. 

Recentemente, tornou-se membro da Força-Tarefa dos Departamentos Escolares de Pawtucket, organizando um retorno seguro à escola, após o Covid-19.

Actualmente, trabalha no Departamento de Serviços Humanos, onde acompanha “as necessidades humanas, em primeira mão, as injustiças sociais e como a assistência governamental pode ser um passo em frente para algumas pessoas”. 

Faz parte da “Coorte Leadership Rhode Island’2020”, formada em Outubro. 

É fundadora de uma organização sem fins lucrativos: a Associação de Pais Americanos da Capeverdean, que se concentra na educação e no fortalecimento do relacionamento entre pais e escolas. 

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 675, de 06 de Agosto de 2020)

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