A covid-19 é o tema que domina o ano em Cabo Verde e no mundo. A pandemia chegou oficialmente a estas ilhas em Março, quando o primeiro caso é diagnosticado na Boa Vista, importado por um turista inglês. O país termina o ano com mais de 11 mil infectados e mais de uma centena de mortos. Felizmente, o vírus dá sinal de abrandamento.
O ano começa em tragédia. No primeiro dia de Janeiro, o país acordou em choque e profunda consternação pela morte de três crianças, de 4, 5 e 6 anos, na sequência de um incêndio numa residência de tambor no bairro da Pedra Rolada, em São Vicente.
O incêndio, alegadamente provocado pela explosão de uma garrafa de gás lanterna, deixou ainda três feridos com gravidade: dois adultos e uma criança.
Poucos dias depois, o país recebe a notícia da morte de Giovani Rodrigues, 21 anos, natural dos Mosteiros, espancado em Bragança, Portugal, a 21 de Dezembro. A morte de Giovani levantou uma onda de indignação em vários países do mundo e culminou num conjunto de marchas silenciosas a pedir por justiça.
No dia 20 de Fevereiro, Cabo Verde perde um dos ícones da sua música: Jorge Neto, 55 anos, vítima de um duplo acidente Vascular Cerebral.
Pouco mais de um mês depois, a 1 de Abril, morre Kaká Barbosa, músico, escritor, compositor e político, que deixa o mundo dos vivos aos 73 anos, vítima de doença prolongada, no Hospital Agostinho Neto, na capital do país.
Covid-19 chega a Cabo Verde
Março é o mês em que a pandemia da covid-19 chega ao país. O vírus foi detectado num turista inglês de 62 anos, de férias na ilha da Boa Vista. O cidadão foi também o primeiro óbito ocorrido no país, ao 23º dia do mesmo mês. No mesmo dia, as fronteiras internacionais foram encerradas e vários voos de repatriamento foram realizados nos meses seguintes, tanto para cabo-verdianos fora do país quanto para estrangeiros retidos no arquipélago.
Ainda em Março, no dia 20, o Governo coloca Boa Vista em quarentena e cria um conjunto de medidas restritivas para tentar impedir a propagação da doença.
A 25 de Março mais um caso positivo é confirmado, desta vez na Cidade da Praia, também importado por um cidadão cabo-verdiano que se encontrava de férias na Europa. No dia seguinte, o primeiro caso de transmissão local é confirmado, na capital do país.
Entretanto, neste dia foi também confirmado, de uma sentada só, 45 casos de infecção em funcionários do hotel Riu Karamboa, na Boa Vista. O hotel foi imediatamente colocado em quarentena, com 107 trabalhadores.
A 18 de Abril, o Estado de Emergência é prorrogado por mais 15 dias nas ilhas de Santiago, Boa Vista e São Vicente – com casos da covid-19, e por mais nove dias nas restantes ilhas, até então com registo da doença.
A 1 de Abril, na Cidade da Praia, uma idosa de 91 anos é dada como a segunda vítima mortal da covid-19 no país e são notificados mais 123 casos positivos.
Com o avanço da pandemia, o Estado de Emergência foi novamente prorrogado a 3 de Maio, nas ilhas de Santiago e Boa Vista e, posteriormente, apenas em Santiago, até o dia 29.
Seguem-se sucessivos estados de calamidade e medidas restritivas, até que, no primeiro de Novembro, o Governo prorroga o Estado de Calamidade nas ilhas de Santiago e do Fogo, decreta situação de contingência nas restantes, e desagrava várias medidas restritivas que estavam em vigor.
Entretanto, o uso de máscaras faciais passa a ser obrigatório, em todos os espaços públicos, incluindo a via pública. A medida não abrange crianças menores de 10 anos e pessoas com problemas de saúde, com exceções também para a prática de educação física com distanciamento social e prática de etiqueta respiratória. Para os incumpridores, as multas podem chegar aos 15 mil escudos.
Cheias devastam capital
Na madrugada de 12 de Setembro – e durante todo o dia – , chuvas fortes se fizeram sentir na ilha de Santiago, com maior intensidade na capital, resultante de uma depressão tropical. Avultados danos materiais são contabilizados, várias famílias ficam desalojadas e morre um bebé de seis meses.
Na sequência, 150 famílias, moradores de diversos bairros da Cidade da Praia, foram realojadas no Estádio Nacional. O gabinete de crise foi convocado e o Governo anunciou um programa de emergência para fazer face aos múltiplos estragos provocados pelas chuvas no país, especialmente na Praia.
O país assinou um protocolo com o governo português, que disponibilizou cerca de 150 mil euros, destinado a minimizar os danos causados.
Ano lectivo conturbado
Para a comunidade estudantil, 2020 decorreu de forma bastante conturbada. Com a pandemia, a suspensão das aulas, os alunos, professores e encarregados de educação foram apresentados a uma nova forma de ensino: aulas à distância, através do programa “Aprender e estudar em casa”.
As aulas arrancaram a 27 de Abril, sem, no entanto, conseguir abranger todos os alunos, dada a realidade sócio-económica do país. Por este motivo, o programa foi muito contestado, inclusive pelo Sindicato dos Professores (SINDEP), para o qual a iniciativa “não é praticável no arquipélago”. Por outro lado, especialistas defenderam a iniciativa como uma forma de “evitar vazios” e manter o vínculo dos alunos com o sistema de ensino.
O ano lectivo 2020-2021 arrancou em todo o país a 01 de Outubro, com aulas presenciais, com excepção da Cidade da Praia, até então o principal foco de transmissão comunitária da doença. Na capital do país, as aulas presenciais foram retomadas a 02 de Novembro
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 696, de 31 de Dezembro de 2020)
