Por: Alexandre Gomes
O gabinete de crise, reunido, deliberou que as festividades de Natal ficar-se-ão circunscritas ao contexto intrafamiliar em aglomeração de até 15 pessoas, enquanto que a passagem do ano não será com a azafama de sempre. Tudo por causa do surto pandémico que persiste entre nós, marcado por estado de contingência e calamidade por que passa as diferentes ilhas. Cada um de nós é chamado para um novo formato… é o óbvio! O contexto social e sanitário assim o permite. Por seu turno, o ambiente agradece! Atividades de hoje, qualquer que seja a estirpe, tem revelado forte atentado ao dito, “direito de terceira geração”. Passa-se, mais de um ano sobre a cimeira do clima de Madrid (COP25) em que não se chegara, na altura, a um acordo político satisfatório sobre a urgência da ação climática, muito por culpa dos mais poderosos. Foi adiada para 2020 a materialização do Acordo de Paris. A Covid-19 surpreendeu. Adiar nunca é bom! Torna-se pior solução, quando o problema é reconhecido por todos.
Perante a iminente catástrofe ecológica à vista de todos e diante da inércia dos países que mandam, está claro agora que apenas a sociedade civil organizada poderá salvar o planeta. Greta Thumberg simboliza esse momento histórico em que as novas gerações (adolescentes e jovens) estão a acordar para o problema deste tempo e a assumir o seu protogonismo na luta por uma das causas que nos deverá unir se quisermos ainda fazer parte deste planeta.
Greta provou que a idade não é documento. Ter ou não ter idade não serve de justificação para a passividade. Apoucar a ação de mobilização social desta nova geração de ativistas mais não é do que justificar a inércia que nos conduziu aonde chegamos. Que haja sim cada vez mais adolescentes e jovens livres e conscientes de que é tempo de agir e de que, em vez de se perderem no mundo do álcool e outras drogas, podem se envolver em causas nobres como esta, e salvar o planeta em prol de todos nós e futuras gerações.
É preciso acreditar que esteja onde estivermos, o pouco que ainda podemos fazer, muito será quando feita as contas a uma escala global. Não vale a pena nos desculparmos de que não temos meios para fazer nada, por que cada gesto faz a sua diferença. É certo que não podemos sozinhos fazer tudo, mas o que for possível fazer hoje terá o seu impacto amanhã. Os céticos dirão que será em vão, mas sabemos que não.
É natal e o ano está prestes a findar. É tempo de traçar novos planos para o futuro. Que esta seja uma causa para o ano que vem aí.
Dizem que o dia 25 de dezembro foi fixado pelo Papa Júlio I, no século IV, para se festejar o aniversário de Jesus. Entre os cristãos, o Natal assume um significado especial. Faz o ser humano sentir-se mais humano, vivendo de um modo mais intensamente o dito mandamento novo do Messias: “Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros.” (Jo,13:34). Por esta razão o Natal carateriza-se como uma época de redenção e reconciliação.
James Carrier, no seu clássico ensaio sobre The Rituals of Christmas Giving, mostra como o Natal se tornou uma cerimónia de afeto e estabilidade e passou a ser celebrado no núcleo central da família. O Natal faz nascer o espírito da família, pois os familiares juntam-se para o festejarem na paz e no amor. O presépio, o pai Natal e a árvore de Natal têm destaque entre os símbolos natalícios. A troca de presentes e os votos de boas festas já são práticas arreigadas.
O presépio (cuja criação é atribuída a São Francisco de Assis) corresponde à representação da cena de adoração do Menino Jesus na gruta de Belém. Jesus, Maria e José são figuras humanas obrigatórias. Entre os animais, o jumento e o boi são os que mais se destacam. Podem ainda figurar os três Reis Magos, pastores, ovelhas e anjos, que ornamentam as igrejas, residências, locais de trabalho e vias públicas durante as comemorações natalícias.
A imagem do pai Natal corresponde a um velhinho gorducho, de barbas brancas, que usa roupas vermelhas e longas botas pretas. Em muitas sociedades, é ansiosamente esperado pelas crianças que aguardam receber dele os presentes de Natal, alguns, inclusive, pedidos por meio de cartas endereçados ao pai Natal.
A árvore de Natal é, principalmente, um elemento decorativo que, através do colorido de bolas, velas e luzes empresta um ar mais afetivo. A introdução da árvore de Natal nas festividades do nascimento de Jesus deveu-se a São Vilfrido.
Como festa de confraternização, sobressaem no Natal, a troca de mensagens e de presentes. Embora de caráter comercial, esta manifestação do ciclo natalício, merece incentivo e louvor, enquanto motivação a uma melhor e mais intensa comunicação e fraternidade entre as pessoas. A troca de cartões de boas festas vem sendo muito difundida. A troca de presentes tornou-se um costume natalício, a partir do seculo XV quando na Inglaterra, ficou estabelecida a noite de 24 de dezembro para se dar e receber presentes.
James Carrier diz ainda que, as prendas são coisas materiais com alguma utilidade que servem para expressar um conjunto de valores sociais; são objetos úteis que resultam de uma transação impessoal e denotam afeto nas relações pessoais. As prendas surgem como um ato de ternura ligado a um sentimento privado na esfera de relações pessoais e familiares. A acusação de materialismo reside no facto de que as pessoas prestam mais atenção ao ato de dar uma prenda do que nos sentimentos e relações sociais que deveriam refletir. Por causa disso cria-se um conflito relativamente ao que oferecer.
Associa-se o Natal à época em que tudo se compra, tudo se vende e tudo se troca. Os resultados obtidos por alguns centros comerciais mostraram que no Natal as pessoas compram as mercadorias intensivamente e há movimento de trocas de presentes. Ano após ano, os consumidores têm-se mostrado que estão a organizar cada vez melhor para fazerem compras de Natal. Os presentes que são dados às pessoas que se amam, são símbolos de gratidão e reforçam os laços sociais.
O ar materialístico e comercial do Natal entra em conflito com importantes valores religiosos. Neste contexto, há pontos de vista que consideram as compras como parte integrante do Natal e a razão de um incremento da atividade comercial no núcleo de um verdadeiro ritual ligado à família. Para entendermos este ponto de vista é necessário distinguir prendas de objeto útil. A grande maioria dos objetos oferecidos são objetos úteis ou mercadorias. Estes objetos são convertidos em objetos de posse para criarem uma identidade pessoal distinta e incluir relações sociais diferenciadas, com vista a serem usados nos diversos lares. O ato de fomentar as compras transforma objetos pouco visíveis em formas simbólicas cheias de significados, distintos da conceção prática da mercadoria. Associado a este ato, está presente a questão das funções latentes e manifestas, segundo as quais a utilidade dos objetos é a função latente e a simbologia associada a função manifesta.
Pode-se dizer que se vive hoje, não só no ocidente, numa era de consumo desenfreado, que por vezes deturpa o espírito do Natal (e são os adultos que mais contribuem para isso). O ato de embrulhar ajuda a transformar os objetos em prendas. As prendas caseiras que incorporam um sentimento puro de amor não são consideradas satisfatórias porque negam o ritual das compras de Natal.
Em muitos países, existem grupos de educação financeira e de educação ambiental que apelam as pessoas para meditarem um pouco antes de gastarem tudo o que têm e o que não têm e para fazerem opções mais ecológicas nas decorações, nas prendas, nos embrulhos e nos festejos. Que assim seja também por cá, que o espírito de Natal prevaleça entre nós e que seja celebrado com fartura e consciencial social, económica, sanitária e ecológica.
Boas festas!