Em tempos de Renascimento, Fé e Esperança, nasce em Porto Novo, Santo Antão, um grupo de apoio a pessoas dependentes de álcool e outras drogas. Promovida pela igreja da Esperança – Assembleia de Deus, dependentes das mais diversas drogas procuram uma nova esperança no grupo “Mais Vida”, que surge em época natalina.
O grupo de apoio “Mais Vida” surgiu há três semanas e trabalha no momento com cinco dependentes de drogas em Porto Novo e o número pode aumentar nos próximos dias.
A iniciativa é promovida pelo pastor da Igreja da Esperança, Assembleia de Deus em Porto Novo, Julian Oddone que é sócio-terapeuta de profissão e trabalha na recuperação de toxicodependentes.
Através de conversas de Fé, à volta da bíblia, o espiritual é trabalhado em comunhão com o psicológico e o social, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Nosso trabalho está focado maioritariamente na área espiritual para enfrentar o problema de vícios. Mas também no social e psicológico para ajudar no suporte da família, enfrentar seus problemas, superar as suas dificuldades e em ajudar os participantes a ver que é possível viver uma vida sem drogas, sem álcool, limpo, mas que sempre precisamos do nosso poder superior, da ajuda de Jesus”, explica Julian Oddone.
O seguimento dos participantes na comunidade revela-se também fundamental no processo de recuperação, segundo Jullian.
A exemplo do álcool, Cabo Verde é um dos países africanos que mais consome essa substância. Como consequência, a taxa de crimes aumenta, nomeadamente a Violência Baseada no Género (VBG), mortes por acidentes, doenças oncológicas, problemas sociais, psicológicos e incapacitações.
Julian Oddone diz que os participantes chegam ao grupo com o psicológico abalado e desacreditados.
“Cabo Verde é o 2º país de África com maior índice de depressão que muito tem a ver com o consumo do álcool que é uma substância depressiva. O consumo é um problema cultural que precisa ser trabalhado, com muito esforço, em comunhão com as políticas públicas”, reconhece o pastor.
Entre lutas e recaídas
Kévin Silva e Rigiel Esteves são dois dos participantes do grupo de apoio que estão à procura de um novo rumo e uma nova esperança de vida. Ambos com tentativas de recuperação falhadas, assumem uma vez mais que precisam de ajuda.
Kévin usa drogas desde os nove anos de idade. Tem hoje 22 anos. São 13 anos no mundo das drogas e assume-se com um toxicodependente à procura de ajuda. Nas suas palavras a sua vida está “destruída” e vê no grupo de apoio um novo caminho.
A falta de apoios da própria sociedade é apontada por Kévin como uma das causas do consumo, porque diz-se julgado pela comunidade, o que acfeta o seu estado psicológico, mas diz-se forte para lutar com o contributo do grupo de apoio.
“Hoje estou neste grupo de apoio mas não vou sair daqui a dizer que estou recuperado. No entanto, estou com muita força de vontade que vou conseguir”, admite Kévin, que já esteve nove meses internado em Santiago.
Rigiel Esteves está na mesma situação. É dependente de álcool desde os 19 anos. Agora com 30 anos, o resultado é uma vida destruída.
“Sou alcoólatra e sei que não consigo vencer sozinho. Quando encontro pessoas que também têm os mesmos problemas, que reconhecem que precisam de ajuda, acredito que ficamos mais fortes e conseguimos lutar juntos para uma recuperação”, acredita Rigiel..
Também já esteve internado na cidade da Praia, mas as recaídas são constantes e por si só “mais dolorosas”.
Os entrevistados pedem mais apoios da Delegacia de Saúde no tratamento de pessoas com dependências, assim como um centro de tratamento para a ilha de Santo Antão, uma das ilhas do país mais afetada pelo consumo do álcool.
Recuperação – luta difícil
Julian Oddone admite que muitos dos participantes têm a necessidade de uma internação, mas vê no grupo de apoio um caminho para uma nova esperança, já que há falta de uma unidade de tratamento de doentes de álcool e outras drogas em Porto Novo.
“Não é um trabalho fácil, porque o consumo de uma substância não se acaba da noite para o dia. É um processo e mesmo assim se conseguirmos recuperar uma pessoa é um êxito, porque uma vida vale muito. Nós trabalhamos com essa visão”, conta Julian, que garante que os toxicodependentes não estão só.
As sessões do Grupo de Apoio “Mais Vida” decorrem todas as sextas feiras, na Igreja da Esperança, Assembleia de Deus, em Alto de São Tomé, pelas 19 horas. Para além do álcool e outras drogas, atuam também na prevenção do abuso sexual de menores.
Em tempos de Natal e de incertezas mundiais, o pastor Julian Oddone deixa uma mensagem de esperança.
“Não somos todos poderosos e não temos o poder de todas as coisas, não podemos controlar todas as situações como acreditávamos que controlavamos. Precisamos da ajuda de Deus, precisamos colocar nossa esperança não nos recursos, mas no Jesus maravilhoso que agora, na data de Natal, lembramos sua vinda à terra. Ele nasceu para dar esperança, a nossa esperança tem que estar nele, porque a sua palavra é fiel”.
Por isso, neste Natal, a esperança é mais do que nunca um recomeço de vidas, de fé e de aposta em dias melhores.
Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 695, de 24 de Dezembro de 2020