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Covid-19

São Vicente: Época festiva condicionada pela pandemia

                                      Elísio Silva

Apesar da crise económica, a pandemia da covid-19 não impede o frenesim habitual de pessoas no centro do Mindelo, nos preparativos para a época festiva de Natal e final do ano. Várias “frentes” actuam para dar resposta e tentar atenuar as possíveis consequências deste embalo natalício.

Num momento em que se luta para travar mais um foco de transmissão da covid-19, as aglomerações se intensificam em resposta ao aproximar da época festiva. Lojas, tanto do ramo alimentar quanto de brinquedos e presentes, são os casos mais preocupantes.

Do lado da PN, e inserido na operação Natal e Fim de Ano em Segurança, a decorrer entre 15 de Dezembro e 05 de Janeiro, promete-se a fiscalização do uso obrigatório de máscaras faciais nos espaços públicos e de circulação.

No terreno está ainda uma equipa multidisciplinar, constituída pela Delegacia de Saúde, Forças Armadas, Inspecção Geral das Actividades Económicas, Entidade Reguladora Independente da Saúde, entre outros, que durante a época festiva levam a cabo acções de patrulhamento e fiscalização das medidas de segurança sanitária e actividade comercial.

“A nível da pandemia, São Vicente é uma ilha que resistiu por muito tempo. Infelizmente, o maior número de casos veio coincidir com esta época festiva. Tendo infecção comunitária, significa que temos um vírus invisível, pelo que não é aconselhável a realização de festas familiares ou em casa, nem qualquer tipo de actividade que requer a aglomeração de mais de 15 pessoas”, alertou o delegado de Saúde na ilha, Elísio Silva.

“Sabemos que é difícil não estar junto da família e dos amigos nesta quadra festiva, mas vamos esperar que o próximo ano seja melhor”, sublinhou o delegado, lembrando também que os convívios nos locais de trabalho devem ser evitados, assim como em praias de mar e outros espaços.

Gerir as aglomerações

O grupo Vasconcelos está entre as lojas mais procuradas nesta época festiva, no que toca ao ramo alimentício. José Fortes, responsável pela loja central, regista alguma diminuição no fluxo de vendas comparativamente ao ano anterior. “Sentimos esta queda no comércio. Com a pandemia muitas pessoas foram atiradas para o desemprego e tudo isso tem efeito no poder de compra”, sublinha.

Mesmo assim, a loja regista um fluxo considerável, tendo em conta o cenário de contenção em que se vive. Isto obriga a adoção de medidas de segurança, para evitar a propagação do vírus. Por agora, mantém os procedimentos padrão estipulados pelas autoridades sanitárias, como lotação reduzida e compatível com o espaço, colocação de separadores nas caixas, distanciamento físico, uso de máscaras obrigatório e higiene das mãos.

“À medida que o fluxo aumenta, com o aproximar do Natal e final de ano, e caso se mostrar necessário, podem ser tomadas novas medidas de segurança’’, explica José Fortes, para quem a situação está sob controle até o momento. Os próprios clientes, diz, têm-se comportado bem e respeitado as medidas de segurança.

Comércio regista queda

Na loja de brinquedos Terra Nova, o movimento ainda está fraco, como diz a vendedora. Ainda é cedo para uma avaliação, visto que normalmente as pessoas deixam para comprar os presentes a partir do dia 20.

“Mesmo assim, acho que este ano a venda será menor, comparativamente aos anos anteriores. Um dos indicadores disso são os próprios brindes que as empresas encomendam para os filhos dos funcionários. Normalmente fazem os pedidos já no início do mês, o que não aconteceu até agora”, explica a funcionária. A pandemia, segundo diz, afectou a economia no geral, portanto, um cenário expectável.

Aida Fortes Lima é proprietária de uma loja de roupas na Praça Estrela e diz que vendeu menos do que o ano anterior, ainda assim “melhor do que nada”. “Se eu disser que não estou a vender é mentira, mas sentimos sim alguma diferença’’, sublinha a comerciante, que reabriu a sua barraca no mês de Dezembro, após alguns meses de porta fechada, por causa da pandemia.

Por outro lado, apesar de não gostar de festas, Aida diz que tem visto algum ânimo nas pessoas, que se preparam para a época festiva normalmente, como se não houvesse nada. “Eu vejo que as pessoas estão animadas para as festas sem que a pandemia seja um entrave. Mas cada um é dono de si e das suas acções. Todos sabemos do que estamos passando”, concluiu, apelando ao bom senso.

Eva Monteiro, da Boutique de Festas, diz que o cenário é praticamente o mesmo ao dos últimos três anos, mas ainda está confiante numa melhoria nas vésperas das festas. “A venda é sempre melhor nos dois dias que antecedem a noite de Natal, portanto ainda estamos a aguardar alguma melhoria”. No que toca aos efeitos da pandemia, Eva diz preferir manter a esperança e não pensar nas consequências. “Sempre afecta, mas acredito que não será tanto”, prevê.

Solidariedade mais do que nunca

Como é habitual, algumas associações promovem, durante o mês de Dezembro, campanhas de recolha de bens alimentícios para ajudar famílias e pessoas carenciadas. Este ano, com todos os contornos da pandemia, este acto solidário ganha um peso extra, tendo em conta as dificuldades advenientes da crise sanitária.

A Associação da Força Jovem (AFJ) já tem nas ruas os seus voluntários para mais uma missão solidária. Nas portas dos principais pontos de comércio, jovens recolhem alimentos que vão ajudar famílias de toda a ilha.

“Estamos a atravessar um momento difícil e nem todos reúnem as condições para fazer uma ceia com a família. Por outro lado, a maioria das famílias com estas necessidades são agregados numerosos. Nós não temos fundos para ajudar, mas contamos com a colaboração das pessoas”, explica “Nós os voluntários disponibilizamos o nosso tempo, porque temos trabalho, mas tiramos um tempinho para colaborar”, sublinha.

Entre os beneficiários constam famílias numerosas, idosos em situação vulnerável, pessoas em situação de desemprego, jovens com filhos advenientes de gravidez precoce, entre outros. Para além do “Natal Solidário”, que é como se denomina este peditório em específico, a recolha acontece com intervalos de três meses durante o ano.

Postais de Natal

Zuleica Lopes mantém, junto com a mãe, a tradição de levar para a Rua de Lisboa os postais decorativos de Natal assim que Dezembro bate à porta. Fala da fraca procura, acentuada pela pandemia da covid-19, mas também do cair em desuso de um costume que não se faz muito necessário nos tempos que correm.

“Já poucas pessoas enviam postais de Natal. Alguns mandam para entes queridos, inclusive que estão fora de Cabo Verde, como Portugal e Brasil”, conta, realçando que nos tempos modernos não há muito espaço para o papel.

Ainda assim, todos os anos no mês de Dezembro Zuleica e a mãe preparam a bandeja de postais que devem levar o votos e desejos natalícios a quem está distante.

A cerca de dez dias para o Natal, a comerciante ainda espera lucrar um pouco mais nas vésperas da efeméride. Ainda há esperança já que “crioulo deixa tudo para a última hora”.

 

Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 695, de 24 de Dezembro de 2020

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